Comportamento

Carolina Kirchner Furquim, especial

Após mal desempenho em exame, menino autista recebe carta emocionante de escola

Carolina Kirchner Furquim, especial
19/07/2016 23:11
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O garoto britânico Ben Twist (Foto: Reprodução Twitter)

O garoto britânico Ben Twist, 11 anos, foi diagnosticado com autismo aos 5. Com o término do ano escolar previsto no calendário inglês, em julho, Ben e seus pais receberam uma carta da professora Ruth Clarkson, com a informação do baixo desempenho obtido pelo garoto nos exames nacionais que testam diferentes habilidades escolares (conhecidos como SATs). Contudo, além dos resultados, o texto escrito pela professora fez questão de ressaltar várias outras qualidades do menino e que, segundo ela, não podem ser medidas em provas.
Emocionada com o gesto, a mãe do garoto, Gail Twist, compartilhou a carta em seu perfil no Twitter, fazendo com que o post viralizasse rapidamente. Segundo ela, Ben achou a mensagem “incrível” e não acreditava que alguém pudesse ter tantas coisas boas a dizer sobre ele. Ela ainda explicou que o filho tem algumas dificuldades com interações sociais, comunicação e questões sensoriais, além de precisar de bastante repetição para assimilar determinados conteúdos.
(Foto: Reprodução Twitter)
(Foto: Reprodução Twitter)
Confira a íntegra da carta, traduzida:
“Querido Ben,
Escrevo para parabenizá-lo por sua atitude e pelo êxito em completar os SATs. Gil, Lynn, Angela, Steph e Anne trabalharam muito bem com você neste ano, e você fez progressos fabulosos. Escrevo para você e seus pais para comunicar os resultados dos testes.
Uma coisa muito importante que quero que você entenda é que esses testes só medem uma pequena parte de você e de suas habilidades. Eles são importantes e você foi muito bem, mas Ben Twist é feito de muitas outras habilidades e talentos que nós na Lansbury Bridge vemos e medimos de outras formas.
Outros talentos que você tem e esse teste não mede incluem:
– Seus talentos artísticos
– Sua habilidade de trabalhar em equipe
– Sua independência cada vez maior
– Sua bondade
– Sua habilidade de expressar sua opinião
– Suas habilidades esportivas
– Sua habilidade para fazer e conservar amigos
– Sua habilidade para discutir e avaliar seu próprio progresso
– Seus talentos para design e construções
– Sua habilidade musical
Ficamos muito felizes que todos esses talentos e habilidades fazem de você a pessoa especial que é, e essas são as coisas que medimos para ter certeza que você continua progredindo e se desenvolvendo como um jovem amável e brilhante. Parabéns, Ben, estamos muito orgulhosas de você.
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Estímulo
Para a pedagoga Mirian Celia Castellain Guebert, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e especialista em educação especial, a atitude da escola é um bom exemplo. “Costumo dizer que o professor deve conhecer o aluno “de fio a pavio”. Ou seja, estabelecer uma relação de amizade e procurar conhecer seus interesses e personalidade. Muitas vezes o professor é a figura e a referência que o aluno procura fora da aula para conversar e receber algum tipo de instrução, então saber encorajar, estimular e ter sensibilidade para entender que sua função vai muito além da didática, passando pelo vínculo e empatia, é fundamental”, diz.
Autismo e escola
O transtorno do espectro autista se manifesta em diferentes graus nos indivíduos afetados. E, segundo Mirian, isso é fator que implica na percepção para adotar a melhor conduta e definir estratégias para que o aluno autista tenha condições favoráveis de aprendizado dentro das escolas regulares. “A Lei da Inclusão, datada de 6 de julho de 2015, assegura o direito de um aluno especial cursar uma escola normal. E é papel dos profissionais da educação garantir o aprendizado deste aluno sem distinções perante os demais, mas com alternativas em sala de aula para que haja o devido encaminhamento pedagógico”, analisa.
Para ela, o Brasil está longe de ser referência no assunto. “Importamos modelos de educação especial dos Estados Unidos e alguns países da Europa que não funcionam em nossa realidade. Lá, autistas muitas vezes são hospitalizados e os pais se isentam em relação à criança, o que não costuma acontecer por aqui. Como estes alunos estão dentro das escolas regulares, precisam de planejamentos adaptados e currículos flexíveis para atendê-los. Na verdade, isso vale até mesmo para alunos não-autistas, visto que cada um aprende de modo diferente, seja pelo exemplo, leitura em voz alta, aspecto visual, entre outros. Cabe à escola esse discernimento”, avalia.
Para a pedagoga, modelos que envolvem corregência e salas de apoio especiais (paralelas à educação regular) podem ser eficientes, ao contrário do sistema de tutoria, que acaba por aprofundar ainda mais a diferença no trato entre um aluno autista e um “normal”.