Comportamento

Raquel Derevecki

“As crianças me odeiam por eu ser diferente”, diz menino que pediu amigos de presente

Raquel Derevecki
26/12/2018 15:22
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A carta foi compartilhada mais de 65 mil vezes nas redes sociais. Foto: Cristina de Castro

Uma cartinha inusitada para o Papai Noel emocionou milhares de pessoas do Brasil e do mundo neste Natal. Na última sexta-feira (21), uma moradora da cidade de Minduri, no interior de Minas Gerais (MG), publicou nas redes sociais a foto do pedido que seu filho autista havia feito ao bom velhinho. Ao invés de celular, videogame ou brinquedos, Miguel de Castro Souza, de 12 anos, queria amigos porque se sentia sozinho e acreditava que as “outras crianças o odiavam por ser diferente”.
A postagem foi compartilhada mais de 65 mil vezes e fez com o garoto recebesse mais de 6 mil pedidos de amizade no Facebook até a manhã desta quarta-feira (26). Além disso, a criança atendeu inúmeras ligações de dentro e fora do país, e recebeu a visita de colegas da escola e da Polícia Militar (PM).

“Nunca imaginei que a repercussão seria tão grande. O Miguel ficou muito feliz e disse que o Papai Noel caprichou no presente dele este ano”, relatou a mãe Cristina de Castro Silva Souza, de 50 anos.

Segundo a mãe, as mensagens e ligações começaram no fim de semana, e até moradores do Uruguai, Espanha, Irlanda e Angola passaram a conversar com o Miguel. Mas os contatos mais especiais ocorreram pessoalmente. “Quatro crianças da escola que ele estuda vieram visitá-lo ontem. No começo, o Miguel ficou meio arredio porque esses colegas não falavam com ele, mas depois se soltou e passou a tarde se divertindo”.
O garoto pediu amigos porque se sentia sozinho e acreditava que as “outras crianças o odiavam por ser diferente". Foto: Cristina de Castro
O garoto pediu amigos porque se sentia sozinho e acreditava que as “outras crianças o odiavam por ser diferente". Foto: Cristina de Castro
Além da visita das crianças, o garoto também recebeu a visita de policiais militares do município. “Nós brincamos com ele perguntando o que tinha aprontado para que a polícia viesse atrás dele, mas sabíamos que a visita era bem diferente”, afirmou Cristina.
De acordo com o sargento Wanderley José de Souza, a corporação soube da cartinha escrita pelo Miguel e decidiu fazer amizade com o menino. “Conseguimos uma cesta de presente para ele e fomos entregar. O garoto gostou, nos mostrou os desenhos que faz e conversou com a gente. Ele é muito alegre e bem disciplinado”, afirmou o sargento, que também iniciará um projeto de conscientização contra atitudes agressivas de bullying nas escolas da cidade.
A Polícia Militar (PM) de Minduri ficou sabendo da carta e também visitou o garoto. Foto: Polícia Militar
A Polícia Militar (PM) de Minduri ficou sabendo da carta e também visitou o garoto. Foto: Polícia Militar

A cartinha

Segundo Cristina, a ideia de escrever a carta surgiu do próprio garoto, que preparou seu pedido com a certeza de que seria atendido. “Mas, quando ele me entregou, fiquei muito triste e apavorada. Como eu daria esse presente para ele se as outras crianças simplesmente o rejeitavam?”.
Diante da situação, a mãe conversou com parentes e decidiu publicar a foto da carta nas redes sociais. “Eu queria que os pais aqui da cidade vissem a mensagem e conversassem com seus filhos”, disse. Só que a postagem alcançou muito mais do que os 4 mil habitantes de Minduri. “Foi para todo lugar. Tanto que eu tive que abrir uma segunda página para ele no Facebook porque a primeira já tem 5 mil amigos e não aceita mais ninguém”, relatou Cristina.
Com a repercussão, ela espera conscientizar adultos e crianças de todo o país a valorizar as pessoas ao redor, principalmente aquelas que são diferentes de alguma forma. “O Miguel tem autismo de grau leve, ou seja, tem dificuldades para se relacionar e precisa de apoio. Espero que as coisas mudem a partir de agora para ele e para outras crianças que se sentem da mesma forma”, finalizou.
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