Comportamento

Anna Sens, especial para a Gazeta do Povo

“O basquete é minha superação”, diz homem que ficou paraplégico após queda de helicóptero

Anna Sens, especial para a Gazeta do Povo
22/05/2019 11:30
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Miguel Adriano Rossi faz parte do time ADFP-Fênix. Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Um acidente de trabalho mudou radicalmente a vida de Miguel Adriano Rossi, em março de 2017. Ao fazer um teste de voo, o  helicóptero em que ele estava falhou na decolagem e caiu na beira da estrada em Araucária, região metropolitana de Curitiba. A queda causou um trauma na região média da coluna vertebral de Miguel, o que lhe fez perder o movimento das pernas.
“Eu nunca tive um diagnóstico conclusivo. Já me disseram que eu poderia ou não voltar a andar e recuperar a sensibilidade, mas cada organismo é diferente”, ele explica. Aos 43 anos, a rotina de Miguel atualmente é focada em fisioterapia, terapia ocupacional e eletroestimulação, proporcionada pelo Centro de Excelência em Recuperação Neurológica (CERNE).
Mas a principal alegria em seu dia-a-dia é o esporte. Desde criança apaixonado por atividades físicas, hoje Miguel é paratleta. Treina basquete três vezes por semana, se apresenta com o time ADFP-Fênix em escolas e igrejas e participa de competições dentro e fora de Curitiba, onde mora.

“O basquete para mim significa superação”,  revela. “Cada dia é um novo desafio e eu encaro como se sempre precisasse me superar”.

Nas apresentações, o time joga, faz malabares, piadas e acrobacias para alegrar o público. “A gente até bate as cadeiras”, conta. São 12 jogadores que atuam no time fundado em 1979 e que atualmente treina na UniBrasil. “É lindo ver pessoas que chegam com um sonho de competir, às vezes até na seleção, e conseguem”, relata Miguel.
O paratleta começou a treinar há um ano, incentivado pelo fisioterapeuta do CERNE, Guilherme de Oliveira Tomaz. Ele convidou Miguel para assistir a um jogo de basquete adaptado. A oportunidade para jogar não demorou a surgir e hoje ele já acumula três campeonatos. Miguel também se tornou voluntário do time e ajuda em projetos de captação de recursos para os atletas. 

“Em quadra você esquece as suas limitações e quer se superar a cada momento, a cada jogada. É uma troca de experiências: o que ele faz na quadra, traz pra terapia, e vice-versa”, conta o fisioterapeuta.

Segundo ele, que acompanha Miguel desde o começo do tratamento, a evolução após os treinos de basquete foi visível.  “A maior mudança foi ele ganhar coragem para realizar”, diz. O esporte é sempre incentivado aos pacientes do CERNE: há quem jogue tênis de mesa, tênis de quadra, bocha adaptada, vôlei sentado, handball, por exemplo. O próximo desafio de Miguel é a canoagem.
Ele ainda não encontrou uma canoa adaptada, em que possa se manter equilibrado enquanto rema, mas está à procura. “Eu amo esportes e o que isso proporciona. Quando comecei a treinar disseram que o esporte substituiria a fisioterapia, mas ambos se complementam”, diz.
Mesmo assim, Miguel considera o basquete fundamental para o tratamento. Com treinos que vão de duas a três horas, ele mesmo percebe seus músculos mais fortes e a recuperação mais rápida, coisa que muitas vezes não acontece só com a fisioterapia. “E até nas consultas disseram que depois do basquete me tornei outra pessoa”.
Dificuldades
Na cadeira de rodas há dois anos, Miguel nunca mais pode entrar em casa, nem na casa da mãe, por exemplo. “Não eram adaptadas. Desde o acidente, eu moro num hotel”, ele explica. As despesas em função do acidente são bancadas pela Petrobrás, onde trabalhou por 14 anos. A falta de acessibilidade é um problema para Miguel, mas ainda assim, “a maior dificuldade é o preconceito”.  
Dependente de táxis, já cansou de ouvir motoristas perguntarem se “a cadeira de rodas vai junto ou não” no automóvel. Reclama também de quem não respeita seu espaço. “Algumas pessoas não perguntam e chegam empurrando a cadeira. É desconfortável”, explica.  
No basquete, Miguel encontrou um grupo de apoio. “O que eu mais gosto é estar interagindo com o pessoal e estar perto de pessoas parecidas comigo. Há até pessoas que caminham, mas escolhem sentar na cadeira para jogar com a gente. É uma motivação. Eu sinto falta de jogar quando o time está de férias”, diz. 
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