Comportamento

Como prevenir o esgotamento na festa de ano-novo

New York Times
31/12/2016 09:00
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As festas de fim de ano significam reuniões familiares, horas cozinhando e um grupo de pessoas que não costuma interagir em carne e osso confinadas no mesmo lugar e tentando parecer festivas. É a versão reality show da sua família.
Na volta da visita de fim de ano, você pode se sentir exausto durante vários dias, achando difícil se concentrar e voltar à rotina regular. Até parece que você pegou um voo noturno de Phoenix, quando na verdade foi um voo rápido de uma hora de Cleveland.
Isso é “jet lag” familiar.
Da mesma forma que com o “jet lag” tradicional, o problema resulta da interrupção da rotina normal. O familiar afeta ambos os lados: quem viaja e quem recebe parentes de outra cidade. Isso não significa que você não quer ver a família, mas o fato de vê-los pessoalmente uma ou duas vezes por ano significa que existem menos oportunidades para discutir questões difíceis, melhor tratadas cara a cara.
É mais do que apenas o triptofano, dois tipos de batatas e os três tipos de tortas que o desgastam durante as celebrações familiares. De acordo com Adam Fried, psicólogo clínico de Scottsdale, Arizona, a ligação entre estresse emocional e exaustão física não está na cabeça.
“Muitas vezes nós talvez não percebamos o nível da nossa ansiedade – ou as consequências resultantes, como a fadiga extrema – até bem depois que o evento tenha terminado”, explicou ele.
A tensão somente aumenta pelo fato de que, para as pessoas que têm que viajar para ficar com parentes, isso geralmente significa utilizar os preciosos e limitados dias de férias. Novamente, a questão não é não querer usar o tempo livre para ver a família, mas como a viagem pode ser cansativa, fazer isso durante as férias cobra seu preço.
Fried diz que muitos clientes descrevem o “jet lag” familiar e o estresse das festas como “uma sensação muito forte na boca do estômago de pavor e fuga”, e a primeira medida é identificar o que, especificamente, causa o problema. “Para muitos, é a pressão – consciente ou não – sentida para criar aquilo que acreditam ser a experiência ‘perfeita’ de férias”, explicou.
Algumas pessoas acreditam que precisam adaptar cada aspecto das celebrações familiares a noções preconcebidas do que vêm a ser as férias “perfeitas”, explica o psicólogo.
E a desagregadora eleição presidencial norte-americana não ajudou, acrescentando um toque a mais de tensão a famílias que contam com eleitores de Trump e de Hillary.
Então, como é possível sobreviver às festas e apreciá-las? Fried enfatizou que estratégias diferentes como técnicas diárias de meditação podem propiciar alívio para algumas pessoas, enquanto para outras, estratégias de conversar consigo mesmo, exercícios ou intervenções farmacológicas podem ser mais eficazes.
Especificamente, ele sugeriu um planejamento meticuloso muito antes da reunião, incluindo o estabelecimento de regras – como comunicar-se ou não com a família – sobre como lidar com interações que provocam ansiedade. O que também pode ajudar é informar a família que determinados assuntos são proibidos para discussão durante a viagem (por exemplo: possíveis nomes do novo governo, a falta de um cônjuge ou filhos ou se o purê de batatas deve ter creme de leite).
Sem dúvida, nem o planejamento mais meticuloso do mundo resolverá tudo.
“Muitas vezes é mais fácil adotar os mesmos padrões de interação com a família, ainda que destruam a emoção. Na verdade, a pior parte pode ser estabelecer – e manter – novas reações e comportamentos”, diz Fried.
E como no “jet lag” tradicional, a versão familiar também pode ter um impacto grande no seu sono, afirma Dion Metzger, psiquiatra e especialista em sono de Atlanta. “Durante a viagem de fim de ano, é fácil começar a sacrificar horas de sono para receber os últimos visitantes, acordar antes de o sol nascer para o voo das 6h ou simplesmente ter uma conversa tarde da noite com parentes. Essas horas de sono perdidas deixarão nossos corpos (e mentes) irritados antes da hora do jantar”, explica Dion.
Padrões de sono interrompidos também nos deixam dispostos a reduzir os níveis de atividade normal e ganhar peso, segundo Dr. Richard Rose, diretor executivo da Sommetrics, empresa concentrada em qualidade de sono. “Nossa sensação de bem-estar é diminuída”, afirma ele.
A redução em tempo e qualidade de sono resulta em irritabilidade, problemas de concentração, ansiedade e até em sentimentos de tristeza para algumas pessoas, observou Dion. “As festas já costumam ser frenéticas e podem ser particularmente emotivas para algumas pessoas – em especial quem sofreu uma perda.”
Apesar do caos festivo, existem medidas a serem tomadas para melhorar o sono – e, idealmente, a experiência como um todo – enquanto se viaja para visitar a família.
A primeira coisa é não ter medo de pedir ajuda.
“Você chegou à casa dos parentes para as festas e eles estão empolgados para ver seus filhos. Agora use esse apoio, peça para cuidarem das crianças e descanse um pouco”, sugeriu ela.
Fried aconselhou estabelecer datas de partida firmes e não ter medo de ficar em um hotel se isso lhe propiciar o respiro necessário. A dica final de Dion é provavelmente a mais difícil: aprender a dizer não.
“Somente concorde com coisas que caibam na sua agenda com o resto das suas necessidades. Você não consegue dar conta de tudo.”