Comportamento

Amanda Milléo

Queijo no arroz com feijão e siesta: as diferenças entre brasileiros e hermanos

Amanda Milléo
30/11/2017 19:27
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Neste Dia da Amizade entre Brasil e Argentina, o Viver Bem quis saber: como é viver na Argentina? (Foto: Arquivo pessoal) | Rosalia Cameroni

Com dois pais argentinos e crescendo entre os brasileiros em Curitiba, Lucila Runnacles estava acostumada a viver entre duas culturas com muitas diferenças, mas também semelhanças. Nesta quinta (30) celebra-se o Dia da Amizade entre o Brasil e a Argentina e o Viver Bem quis saber: como é conviver com um (ou vários) argentinos?
A primeira lembrança de Lucila (40 anos), autora do blog de turismo Viagem Cult, remete ao estômago: apaixonada por arroz e feijão, a mistura raramente estava presente na mesa da cozinha enquanto crescia. Por outro lado, sua mãe não deixava faltar as famosas empanadas, que faziam a cabeça dos amigos que a visitavam.
“Eles sempre diziam: ‘como você pode gostar tanto de feijão com arroz, uma coisa que a gente come todo dia, sendo que você tem empanadas em casa?’ Mas eu só comia arroz e feijão quando a empregada, que era brasileira, fazia, com muito tempero. Uma delícia! Ou quando ia na casa dos meus amigos brasileiros”, relata a jornalista.
Casada há cinco anos com um argentino, Esteban Mazzoncini (46 anos), também autor de blog de viagem, Lucila sentiu o coração parar quando viu o marido colocando queijo ralado em cima do seu precioso arroz com feijão. “Eu compartilhei no Facebook: ‘Itamaraty, tire a cidadania desse menino, porque quem coloca queijo ralado no feijão não merece ser brasileiro’. Claro que foi uma brincadeira, mas eu quase surtei quando vi”, conta.
Ambos vivem atualmente na capital porteña, Buenos Aires, e a mistura das culturas está presente em vários momentos do dia. Não há uma manhã que ela não passe sem tomar o tal mate cocido (ou o brasileiro chá mate) ou que não escute discussões na rua sobre a política do país.

“O argentino é muito politizado. Você entra no táxi, o motorista está falando de política. Você vai comprar um alfajor no kiosko [um tipo de banca que vende apenas guloseimas], o vendedor discute a última novidade na política. Se alguém estiver varrendo a rua e você parar ali por 5 minutos, ele vai falar de política com você”, diz Lucila.

Embora o assunto tenha se tornado mais comum nas rodas de conversas do brasileiro, os argentinos já carregam essa tradição há tempos. Igual ir ao psicólogo.
Sim. Da mesma forma como os brasileiros falam, sem vergonha nenhuma, que estão indo à academia de ginástica, os argentinos não têm qualquer problema em contar a todos que precisam ir a uma consulta com o psicólogo, fato que surpreendeu Lucila no início. Argentina 1 x 0 Brasil, no cuidado com a saúde mental.
Lucila, brasileira, ensinou o marido argentino, Esteban, a jamais colocar queijo ralado no arroz com feijão (Foto: Bigstock)
Lucila, brasileira, ensinou o marido argentino, Esteban, a jamais colocar queijo ralado no arroz com feijão (Foto: Bigstock)

Argentinos: eles amam os brasileiros

Rivalidade futebolística não chega nem perto de afetar a admiração dos argentinos pelos brasileiros. Tanto que, quando a Lucila conta que é brasileira, a primeira dúvida dos vizinhos é: “Eu não acredito! Por que você mora aqui com um país tão lindo que você tem? O que você está fazendo aqui, com essas pessoas mal-humoradas?”.
“Sim, é verdade, o argentino, principalmente o portenho é muito mal-humorado. E eles têm uma visão bonita do brasileiro, acham que a gente está sempre feliz, sorrindo, que somos muito amáveis. Eles falam que o brasileiro é uma ‘alegria que não tem fim’. Chamam o Brasil de ‘o maior do mundo'”, fala Lucila.

Vida noturna ativa na Argentina

Enquanto as baladas no Brasil começam a encher no começo da noite e seguem até o dia seguinte, os argentinos preferem sair para jantar e curtir a cidade antes de qualquer programação mais agitada. Lucila adaptou os costumes quando foi viver na capital argentina e hoje sabe que, se quiser jantar às 22 horas, vai encontrar fila em alguns restaurantes. Especialmente no fim de semana.
Os teatros da avenida Corrientes chamaram atenção de Lucila, que percebeu como a cultura teatral faz parte do cotidiano dos argentinos. “Nesta avenida, que é uma das mais famosas aqui, tem quase um teatro do lado do outro. O bairro de Abasto também tem os teatros mais undergrounds. É um programa muito comum e corriqueiro.”
A siesta existe? Sí! 
Trata-se de um hábito clássico e que exige a atenção de Lucila para não acordar ninguém fora de hora. “É bem comum, principalmente nos bairros mais afastados, onde as lojas fecham para o almoço e ficam fechadas por duas horas. Eu, por exemplo, não ligo para a minha tia logo depois do almoço porque sei que ela estará dormindo.”
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