Comportamento

Amanda Milléo

Quadras, parques e praças de Curitiba ajudam a fugir do sedentarismo sem gastar nada

Amanda Milléo
22/03/2019 16:39
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Pai e filha sempre vão à ciclovia próxima a rua Padre Germano Mayer para passear aos fins de semana (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo) | Leticia Akemi

Descendo a Avenida Arthur Bernardes, ao chegar na esquina com o começo da Avenida Getúlio Vargas, o curitibano se depara com um oásis para o exercício físico gratuito na cidade. Quadras para a prática de tênis, vôlei de areia, futevôlei e basquete, além dos equipamentos da academia ao ar livre e uma pista de caminhada que circula todo o canteiro central da rua são algumas das opções. Ser sedentário em Curitiba por falta de dinheiro? Isso não é desculpa.
A turma dos Padrinhos do Futevôlei que o diga. Há 11 anos, os praticantes da modalidade que mistura futebol com vôlei separam as segundas e quintas-feiras no fim do dia, e os sábados pelas manhãs (e começos da tarde também), para os treinos na quadra de areia pública da avenida no bairro Santa Quitéria. Aos fins de semana, Albaci Bastos (ou Lobão), um dos fundadores da equipe, comenta que chegam a reunir entre 30 a 40 pessoas que praticam o esporte por, no mínimo, seis horas.
“É um dos esportes que mais cresce no país. Em Curitiba, além daqui, há quadras no parque Barigui, na praça do Carmo e no Jardim Botânico. Quando chove, acabamos indo para quadras fechadas e privadas”, comenta Lobão, empresário de 52 anos, que é um dos maiores campeões de futevôlei do Paraná, com 74 títulos.

“Quanto mais espaços assim tiverem em Curitiba, melhor para o esporte. Mas ainda falta estrutura, como bancos para o pessoal esperar a vez de jogar. Nós somos responsáveis por trazer tudo, da rede e bola às cadeiras de praia e guarda-sol”, diz o veterano.

Turma Padrinhos do Futevôlei se reúnem há 11 anos na mesma quadra para treinar durante a semana e os fins de semana (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
Turma Padrinhos do Futevôlei se reúnem há 11 anos na mesma quadra para treinar durante a semana e os fins de semana (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
Novos praticantes são bem-vindos, mas quem ainda não conhece nada do esporte é aconselhado a aprender a base antes. Esse não foi o caso da Janaína Roque de Almeida, educadora física de 35 anos, que treina com a equipe desde 2014. “Eu não sabia jogar, mas eu já praticava vôlei de praia, então conhecia as regras. Foi difícil no início, porque é muito técnico, mas é também muito fácil montar uma equipe. Se você juntar quatro pessoas, já dá para jogar”, explica Janaína, terceira colocada no campeonato brasileiro da modalidade.
Próximo a eles, os amigos Cleverson Tramujas, arquiteto de 50 anos, e Osvaldo Bertoni, autônomo de 52, aproveitavam a lateral da quadra pública de tênis para a prática do frescobol. Os amigos se reúnem há quase seis anos para praticar exercícios aos fins de semana, e a descoberta da modalidade veio do litoral do Paraná. “Eu pratico surf e sempre jogava frescobol na praia. Mas, quando voltava para Curitiba, não queria parar de jogar. Achei uns amigos que também queriam praticar e nos reunimos aqui ou no parque Barigui no sábado, domingo e durante a semana”, diz Osvaldo.
Os amigos trouxeram a prática de frescobol das praias para a cidade grande (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
Os amigos trouxeram a prática de frescobol das praias para a cidade grande (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
Engana-se, porém, quem acha que para usar os equipamentos públicos é preciso ser atleta. Sempre que Felipe Ferro, pastor evangélico de 37 anos, quer jogar basquete, entra em contato com um dos grupos em aplicativos de conversa e se reúne com os conhecidos. “O que ajudou o basquete aqui [na av. Arthur Bernardes] foi o WhatsApp. Antes a gente dependia da sorte, em chegar aqui e encontrar alguém interessado em jogar. Agora estou em três grupos e sempre tem alguém que diz onde e que horas vão se reunir”, diz.
No sábado em que a Gazeta do Povo acompanhou os jovens, outros três rapazes estavam na quadra, à espera da partida. Alysson Elienay, designer de 25 anos, Vitor Gualberto, engenheiro civil de 32 anos, e Edson Vidal, estudante de 22 anos, reclamaram da dificuldade em usar a quadra coberta da praça Oswaldo Cruz, mas elogiaram as quadras recém pintadas do Santa Quitéria.
Grupos no WhatsApp favoreceram o uso das quadras de basquete públicas da cidade (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
Grupos no WhatsApp favoreceram o uso das quadras de basquete públicas da cidade (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)

Afonso Botelho sem futebol

Quem não conhece a praça Afonso Botelho pode achar que é apenas uma praça em frente ao estádio do clube Athlético Paranaense, no bairro Água Verde. Desde a reforma ocorrida em 2018, porém, há diferentes espaços gratuitos para o público ser um tanto mais ativo – desde as pistas de skate, os brinquedos infantis, às escadarias do anfiteatro.
Caminhando desde a região da avenida República Argentina, a família composta pela fisioterapeuta Kelly Ribeiro, de 40 anos, pelo médico Wallace Silva, de 37 anos, e pelo Enrico Ribeiro Viana Silva, de 3 anos, faz uso do local sempre que pode. O espaço favorito? Os brinquedos infantis, especialmente o escorregador. “A gente traz ele [Enrico] para gastar as energias pelo menos uma vez por semana desde quando ele tinha um ano! A frequência depende muito do tempo, se chove ou faz sol. Como a gente vem caminhando até aqui, os adultos também se exercitam”, diz a mãe.
Família usa a praça como meio de gastar energia (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
Família usa a praça como meio de gastar energia (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
Fabiely Estava do Prado, servidora pública de 29 anos, também frequenta a praça com o filho, Kevin do Prado Reinert, de cinco anos. Como é mais velho, o menino está mais interessado em se equilibrar em cima do skate, enquanto admira os passos dos meninos mais velhos que estão por ali também. A mãe, porém, não fica parada e usa a escadaria da praça para também colocar os exercícios em dia – e leva as amigas junto!

“A gente faz um sobe e desce, agachamento, afundo. Vínhamos antes com um professor, mas ele parou de dar aulas por ali e nós continuamos. Hoje eu trouxe minha irmã e minha amiga, e é a primeira vez delas”, relata Fabiely.

Mãe e filho usam dois espaços da praça: tanto a pista de skate quanto as escadarias para fazerem exercícios (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo).
Mãe e filho usam dois espaços da praça: tanto a pista de skate quanto as escadarias para fazerem exercícios (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo).
Praticante de skate há 14 anos, Renan Dorta Oliveira estava sentindo falta de deslizar pelas pistas. O operador de máquinas de 27 anos vive em Curitiba apenas há quatro e divide o tempo entre a pista da praça Afonso Botelho, do Gaúcho e locais em Pinhais, região metropolitana. A rotina, porém, permite que o jovem busque o skate apenas aos fins de semana. “Fico em média umas 5 horas, mas normalmente venho com amigos”, diz o jovem, que estava sozinho praticando os movimentos do esporte.
Embora não possa estar todos os dias no skate, Renan aproveita os fins de semana para praticar (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo).
Embora não possa estar todos os dias no skate, Renan aproveita os fins de semana para praticar (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo).

Pistas de caminhada e ciclovias

Ao somar a distância das principais pistas de caminhada e corrida em praças e parques de Curitiba, a cidade oferece uma média de 15 km para os curitibanos aproveitarem. Uma das pistas mais conhecidas está na praça Oswaldo Cruz, em frente ao shopping Curitiba. Lá, o músico Kadu Lambaque, de 54 anos, sabe como aproveitar, de forma verdadeira, os espaços gratuitos da cidade.
Todos os dias, nos últimos 10 anos, o músico caminha e corre pelo local e só tem elogios para Curitiba: “Morei muitos anos no Rio e em Brasília, mas não tem lugar no país com uma estrutura como essa. Ainda mais depois que melhoraram a praça. Fico aqui entre uma hora e 15 a uma hora e 20, todos os dias”, reforça.

Se a ideia é praticar o ciclismo aos fins de semana, o professor Fábio de Ávila, de 33 anos, e sua filha Lara de Ávila, de sete, sabem bem onde indicar: a ciclovia que segue a rua Padre Germano Mayer, no Alto da XV. “Sempre que dá, a gente vem aqui. Durante a semana eu uso a bicicleta como meio de transporte mesmo e vou ao trabalho com ela”, diz o professor, que logo é interrompido pela filha: “menos quando chove, ou quando faz frio”, diz Lara. “Muito frio”, completa o pai. “Nem sempre”, retruca a pequena.

“O problema é que não há uma quantidade suficiente de ciclovias e é comum acabar dividindo espaço com os carros. O jeito é usar os equipamentos de segurança e tentar ir com segurança”, reclama o professor.
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