Comportamento

Marina Pilato

Curitibanos buscam cada vez mais a cremação como opção ao enterro; saiba como funciona

Marina Pilato
26/07/2017 18:00
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Prática da cremação têm crescido nos últimos anos em Curitiba e opção pode custar o mesmo preço do enterro tradicional (Foto: Bigstock)

É difícil ser indiferente à morte. E o desejo de evitar o momento doloroso do enterro tem levado mais pessoas a preferirem a cremação.
Em Curitiba, por exemplo, o número de cremações cresceu 41% entre 2012 e 2016, de 774 para 1.092. No mesmo período, o aumento de sepultamentos na cidade foi de 17%, de 7.531 para 8.867, segundo dados da Prefeitura Municipal de Curitiba.
A cidade acompanha uma tendência do Brasil, principalmente da Região Sul. É o que informa o presidente da Associação dos Cemitérios e Crematórios do Brasil (Acembra), Jayme Adissi. “Os motivos disso são incertos”, diz. A variação nos custos do procedimento também difere conforme o local, sendo mais caro no Sul e no Sudeste.
A Associação estima que cerca de 5% dos falecimentos no Brasil tenham como destino a cremação. A proporção é pequena se comparada a outros países, como os Estados Unidos, onde há estados em que mais da metade da população opta por incinerar os restos mortais. “Culturalmente, o Brasil ainda não incorporou a prática de forma ampla”, afirma.
A exigência de um documento que prove a anuência do morto em ser incinerado, prevista no artigo 77 da Lei 6.015 de 1973, tem feito com que muitas famílias, interessadas no método, recorram ao pagamento de planos preventivos e de assistência funerária, uma espécie de seguro, que reduz custos futuros e deixa evidente a opção escolhida.
Mylena Brunor Cooper, diretora de um crematório em Curitiba, explica que, entre os motivos mais alegados pelos contratantes do serviço está também achar que é uma opção mais sustentável. “A cremação não ocupa espaço e não polui o meio ambiente ou o ar quando realizada em locais credenciados e autorizados pelos órgãos ambientais”, explica.
Resistências
Em algumas circunstâncias, no entanto, a cremação é desencorajada. Em primeiro lugar, por preceitos religiosos.
No Judaísmo, por exemplo, não é permitido que o corpo seja incinerado, pois isso representaria uma desonra aos mortos e a destruição de algo sagrado. Outras religiões, como o catolicismo, permitem a prática com ressalvas: recomenda-se o sepultamento, como um símbolo da crença na ressurreição futura, mas não se proíbe a cremação, desde que se mantenham as cinzas em um lugar de respeito, como o cemitério, uma igreja ou outra área dedicada para tal fim.
Em casos de morte violenta, é necessária autorização expressa de um juiz para a cremação, já que o corpo faz parte das provas. E, por último, também há situações com resistências entre os parentes por motivos sentimentais.
Como funciona
A cremação é um procedimento realizado em um forno específico, autorizado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente e pelo órgão ambiental local — no Paraná, o Instituto Ambiental do Paraná — nos crematórios. Assim como ocorre antes de um enterro, o velório antecede a cremação, que conta com cerimônia própria, religiosa ou não, e pode ter orações, discursos de pessoas próximas e até músicas de despedida.
O destino das cinzas é escolhido pela família, caso o falecido não tenha especificado nada sobre isso. Muitas optam por deixar em salas de memórias em capelas ou cemitérios, ou nos columbários, locais específicos para este fim, que podem ser personalizados com lembranças e objetos de quem partiu. Outra alternativa é que a família guarde as cinzas em casa ou espalhe em local simbólico para o falecido.
Segundo a advogada Ana Carla Harmatiuk Matos, não há uma lei que regulamente a aspersão de cinzas no ambiente de forma específica. No entanto, a prática não pode desrespeitar as legislações sanitárias e de higiene da cidade ou ferir de alguma maneira um rito religioso. Ações menos comuns incluem transformar parte das cinzas em diamantes, colocar em pingentes, plantá-las com sementes ou até enviá-las ao espaço.
Em relação ao custo, a cremação só é mais barata que o sepultamento se a família decidir não depositar as cinzas em um cemitério.
Medo da morte
A sociedade atual não reflete muito sobre o conceito de “morte” e, por isso, tem mais dificuldade e medo diante dessa realidade da existência humana. “Séculos atrás, fazia parte do cotidiano ver a morte de perto. Hoje não, vivemos mais, morremos mais velhos e apenas se imaginar passando a eternidade num túmulo frio já causa angústia”, diz Leonardo Campoy, antropólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Vontade do falecido
A manifestação da vontade de ser cremado pode ser escrita de próprio punho e não precisa de reconhecimento de firma. “A função principal dessa formalidade é servir como instrumento de prova, caso necessário”, esclarece a advogada especialista em família e sucessões e professora da UFPR, Ana Carla Harmatiuk Matos.
Algumas pessoas preferem nomear um representante, geralmente uma figura neutra, sem relação familiar, para manifestar suas vontades depois da morte, seja para decisões referentes ao funeral ou mesmo em relação a bens materiais. Geralmente, um advogado ou testamenteiro assume a função, mas há apenas a necessidade de ser alguém de confiança do interessado.
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