Comportamento

Júlia Rohden, especial para Gazeta do Povo

Dedicatórias de livros em sebos contam a história por trás da obra

Júlia Rohden, especial para Gazeta do Povo
04/11/2017 16:51
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Garimpar em sebos é uma maneira de encontrar um livro único e com preço em conta. Foto: Visual Hunt

Circulando pelos sebos de Curitiba, encontramos vários livros com dedicatórias de filhos para os pais, entre amigos, entre namorados e do próprio autor da obra. Além da narrativa do livro, a história por trás de cada dedicatória traz um ar de nostalgia e curiosidade pela vida indecifrável daqueles desconhecidos.
“Já encontramos cartas de amor, dinheiro, contas e fotos antigas de uma família ou cidade”, conta Victor Matheus, vendedor de um sebo próximo à Praça Osório no Centro de Curitiba. Para ele, esses materiais são tesouros incomuns que atiçam a vontade de saber quem eram aquelas pessoas e como eram suas vidas.
Victor conta que a maior parte dos livros chega sem dedicatórias. Elas são mais comuns em livros de literatura estrangeira, auto-ajuda e literatura infanto-juvenil e normalmente são escritas de um amigo para outro.
Livro de Rubem Braga dado de presente a um amigo alemão
Livro de Rubem Braga dado de presente a um amigo alemão
O vendedor lembra de certa vez que encontraram dinheiro distribuído ao longo de um livro. “Era uma avó que tinha dado o livro para o neto e colocado as notas para que ele fosse encontrando o dinheiro conforme avançasse na leitura“, conta.
Jéssica Maria, que trabalha em outro sebo da capital, informa que o valor de compra e de venda dos livros não varia caso haja uma dedicatória. “Há quem goste, mas acredito que a maioria prefere livros sem dedicatória porque compram os livros para dar de presente“, diz Jéssica.
Poesias de Alice Spíndola de presente para um amigo escritor
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Mães, pais e filhos
Lúcia Pereira, vendedora de livros usados, revela que muitos dos livros com dedicatórias chegam quando algum familiar próximo morre. Ela lembra de um filho que trouxe mais de cinco mil livros do pai que morrera recentemente.
“Sinto uma nostalgia vendo uma imagem ou lendo uma dedicatória de outra pessoa, porque relaciono com a minha vida, penso na minha história”, conta Lúcia.
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Outra cliente constante dos sebos da capital é Juliana Pedotti. “Gosto de vir aqui e saber que tudo isso tem história“, diz. Ela trouxe o filho Bernardo, que ainda não aprendeu a ler, para escolher novas histórias para ouvir antes de dormir. “Tem um livro do Ziraldo no qual escrevi uma dedicatória para um amigo, quando tinha sete anos”, lembra. Sua mãe guardou a obra que hoje é lida para o pequeno Bernardo.
Personalidades do Paraná
O autor Sebastião Ferrarini escreveu algumas palavras para uma de suas leitoras
O autor Sebastião Ferrarini escreveu algumas palavras para uma de suas leitoras
Dono do sebo Fígaro, Paulo José Costa também realiza um trabalho de memória. Ele tem um acervo pessoal e também é administrador do grupo do Facebook Antigamente em Curitiba, que reúne imagens e informações históricas de resgate da memória da capital perdidas em arquivos particulares.
Paulo conta que muitos livros chegam com a primeira página arrancada, onde estaria escrita alguma dedicatória. “É uma pena”, lamenta.
Dedicatória para o ex-reitor da Universidade Federal do paraná (UFPR) Flávio Suplicy de Lacerda
Dedicatória para o ex-reitor da Universidade Federal do paraná (UFPR) Flávio Suplicy de Lacerda
No seu acervo pessoal, há uma parte destinada apenas para dedicatórias (seja em livros, em postais, em discos de vinil e até em partituras). Ele seleciona as escritas por personalidades paranaenses. “Esses papéis revelam muito da vida mais íntima dos autores”, comenta.
Ele lembra de uma dedicatória feita pelo artista Poty Lazzarotto, que tem diversos painéis espalhados pela cidade. Ao invés de palavras, Poty usou desenhos para fazer a dedicatória.
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