Comportamento

Flávia Schiochet

Dupla curitibana é campeã em esporte ainda pouco convencional: a peteca

Flávia Schiochet
16/11/2018 16:41
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A treinadora Graciela Carbonari com o filho e praticante de peteca, Giuliano Carbonari Boneti, e sua dupla, André Coelho. Os meninos competem pela primeira vez nacionalmente. Foto: Divulgação

André Coelho tinha dez anos quando jogou peteca pela primeira vez. Não foi no recreio da escola, e sim em quadra, como dupla de seu melhor amigo, Giuliano Carbonari Boneti. Quatro anos depois, eles são dois dos atletas que competem na trigésima edição do Campeonato Brasileiro de Peteca, que ocorre no Clube Curitibano entre os dias 16 e 18 de novembro. No total, 210 atletas de sete estados brasileiros e um grupo de convidados franceses estão na capital paranaense.
A treinadora dos pré-adolescentes é a mãe de Giuliano, Graciela Carbonari. Praticante de peteca há dez anos, a pedagoga se exercita na Associação da Copel e ensina o esporte voluntariamente na Escola Estadual Angelo Trevisan, no bairro Cascatinha, no contraturno. Lá, leciona para um grupo de crianças entre 11 e 14 anos, estudantes do sexto ao nono ano. “Estamos tentando formar a base e esperamos que o esporte cresça mais. É possível que a peteca se torne um esporte olímpico”, conjectura Graciela. “Nossa intenção é profissionalizar e atingir níveis técnicos mais altos”, completa.
Atletas da Federação Paranaense de Peteca durante a abertura da trigésima edição do Campeonato Brasileiro de Peteca em Curitiba. Foto: Divulgação
Atletas da Federação Paranaense de Peteca durante a abertura da trigésima edição do Campeonato Brasileiro de Peteca em Curitiba. Foto: Divulgação
Vencedores da categoria Infantil do Campeonato Paranaense de Peteca, André e Giuliano competem pela primeira vez nacionalmente. “Eu encaro o esporte como um complemento da minha vida, não como meu futuro. Mas se um dia eu tiver a oportunidade de competir em uma Olimpíada, pode ter certeza de que vou dar meu melhor”, adianta André, horas antes de participar da abertura do campeonato nacional em Curitiba.
O esporte é tão democrático que pode ser praticado desde a infância até a terceira idade, bastando calçar um tênis e ter uma peteca em mãos. “É um esporte que trabalha bem a capacidade cardíaca e respiratória, e é viciante”, diz Graciela. Clubes como o Curitibano e Santa Mônica, a Associação Copel e Paróquia São Grato têm grupos praticantes. Também é possível encontrar jogadores esporádicos no Parque Barigui, atrás do Museu do Automóvel.
“Jogar peteca requer um bom senso de direção e medir a força. Noto que o mais difícil para a criançada é a dificuldade de ter noção do seu corpo, porque eles crescem muito rápido nessa fase. O André cresceu dez centímetros só esse ano”, conta Danda Coelho, mãe de André.
Medalha que André e Giuliano ganharam em outubro, quando conquistaram a vaga na competição nacional. Foto: Divulgação
Medalha que André e Giuliano ganharam em outubro, quando conquistaram a vaga na competição nacional. Foto: Divulgação

De brincadeira à esporte

A peteca profissional é diferente em vários aspectos do brinquedo de criança: ela é mais leve (pesa em média 40 gramas), tem base de couro e o número exato de quatro penas, que formam um quadrado. Para jogá-la, a treinadora recomenda bater com a mão levemente em concha, para que a base não bata diretamente na palma e deixe hematomas. Enquanto o brinquedo custa até uns R$ 5, o preço da peteca profissional está na casa dos R$ 30. A marca usada nas competições oficiais é a mineira Pequita, uma espécie de “Nike das petecas”.
O esporte pode ser jogado por um atleta ou uma dupla, em uma quadra dividida ao meio por uma rede. As equipes devem fazer pontos fazendo a peteca quicar dentro da quadra do oponente, similar ao vôlei. O que muda é o tempo: é preciso fazer o ponto em até 20 segundos depois do saque. Caso contrário, o ponto é da equipe adversária. Vence a equipe que pontuar 25 pontos com dois de vantagem sobre a outra, em dois sets.
Peteca profissional usada em competições tem base de couro e quatro penas. Seu peso é ínfimo: cerca de 40 gramas. Foto: Arnaldo Alves/Arquivo Gazeta do Povo
Peteca profissional usada em competições tem base de couro e quatro penas. Seu peso é ínfimo: cerca de 40 gramas. Foto: Arnaldo Alves/Arquivo Gazeta do Povo
A sintonia entre a dupla é fundamental, muito similar com o comportamento das duplas de vôlei. “O interessante da peteca em dupla é que você joga com alguém que confia. Não depende de um time, mas se completa como dupla”, relata André. Os meninos praticam no mínimo duas horas por semana quando não há competições no horizonte. “Eles também treinam tênis em dupla uma vez por semana, porque a peteca e o tênis se complementam”, conta Danda. “Próximo a campeonatos, eles treinam em todas as brechas possíveis da semana”, explica a mãe de André.

Esporte genuinamente brasileiro

A palavra pe’teca significa “bater com a mão” em tupi, língua que falavam os indígenas que habitavam a região de Minas Gerais. A prática era recreativa e também uma maneira de os nativos se aquecerem em dias frios.
A brincadeira se manteve viva na cultura da região e na década de 1940, começaram os primeiros campeonatos de peteca em Belo Horizonte. Anos depois, em 1975, funda-se a Federação Mineira de Peteca. A peteca alcança o status de esporte em solo nacional em 1985 e dois anos depois, realiza-se o primeiro Campeonato Brasileiro de Peteca. A origem e pioneirismo de Minas Gerais no esporte explica o fato de o estado ter sido campeão convicto por 21 anos seguidos no campeonato brasileiro.
Além do Brasil, outros países do continente americano praticam peteca, como Paraguai, Bolívia, Chile, EUA. Na Europa, há esportistas em Portugal, Holanda, França, Alemanha, Suíça, Estônia e Lituânia e, na Ásia, joga-se peteca também Rússia, China e Japão. Duas competições internacionais foram realizadas: em 2000 na Alemanha e em 2002 na Estônia.

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