Comportamento

Folhapress e Amanda Milléo

Kéfera é condenada a pagar R$ 25 mil por se vingar de taxista que vetou marmita

Folhapress e Amanda Milléo
22/11/2017 11:35
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Youtuber teria começado discussão depois de abrir uma marmita no carro. Foto: Reprodução Instagram

A youtuber Kéfera Buchmann, 24, foi condenada a pagar indenização de R$ 25 mil a um taxista, depois de ter postado em seu canal um vídeo que mostrava a discussão entre os dois. A decisão foi comunicada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo no dia 13 de novembro.
Em 2015, Kéfera foi expulsa de um táxi. Nos documentos do processo divulgados pelo “BuzzFeed” consta que Walmir Silva, o motorista, pediu para que ela parasse de comer sua marmita pois o cheiro poderia incomodar os próximos passageiros.
No processo, a youtuber disse que teve permissão para comer, mas que a discussão começou depois de pedir para que o motorista diminuísse a velocidade. Ela compartilhou as imagens da discussão, incluindo o momento em que ela saía do táxi. Procurada pela reportagem, a assessoria de Kéfera não respondeu até a publicação desta matéria.
No final do vídeo, publicado no Snapchat (aplicativo em que as imagens desaparecem depois de 24 horas), a influenciadora digital passa a placa e o telefone do motorista, pedindo ajuda para denunciá-lo ao DTP (Departamento de Transportes Públicos ) e “tirar o taxista dessa profissão”.
Algumas horas após divulgar o primeiro vídeo, Kéfera excluiu e publicou outro no lugar, dizendo que sua intenção não era “causar” ou fazer com que o motorista fosse ameaçado. “Eu só queria justiça no sentido dele não tratar nenhum outro passageiro mal assim, principalmente por ser mulher”, disse ela.
Vingança
Na decisão judicial, o juiz considerou que a atitude da youtuber foi motivada por “vingança” e desproporcional. No processo, a defesa do motorista alega que Silva recebeu cerca de 5.000 ligações e ameaças -e pedia uma indenização de 100 salários mínimos (cerca de R$ 93.700).
O motorista foi removido do aplicativo Easy Taxi, pelo qual trabalhava no momento da discussão, e foi ameaçado de morte por fãs de Kéfera. A justiça entendeu que o taxista “acabou prejudicado não apenas em sua honra e imagem mas também em sua atividade profissional. A youtuber pode recorrer da decisão.
Nem a Kéfera, nem o taxista, nem ninguém sabe mais ouvir um “não”
Foi a falta de diálogo e a incapacidade de a sociedade em escutar ‘não’ que transformou a discussão entre Kéfera e o taxista Walmir Silva em comoção nacional. Primeiro não: ‘você não pode comer marmita no táxi‘. Segundo: ‘você não pode dirigir nesta velocidade’. Logo Kéfera puxou o celular e acionou os seguidores, expondo o taxista sem permissão, e Walmir exigiu que a youtuber saísse do carro, em cima da ponte.
“Hoje temos pessoas muito boas de briga, mas poucas pessoas que conversam, que tentam entender o lado do outro. Ninguém quer perder, seja em uma discussão ou em uma negociação. As pessoas sempre querem ganhar e em alguns casos ganhar significa ficar em silêncio, avaliar a situação. E isso tem sido cada vez mais difícil porque as pessoas não permanecem no estado normal de comportamento e acabam não respeitando o outro”, explica Adriane Marques, personal stylist e consultora de imagem de Curitiba.
De toda a história ocorrida com a youtuber e o taxista, é possível tirar alguns ensinamentos, conforme destaca Silmara Santos Adad, supervisora do curso de Etiqueta e Comportamento Corporativo do Centro Europeu, em Curitiba.
Educadamente, peça sempre permissão. Como o primeiro conflito começou por causa de uma marmita aberta dentro do táxi, a discussão poderia ter se resolvido ali. “Você pode falar tudo para alguém, desde que do jeito certo. Quando entramos em um táxi, como no caso da Kéfera, primeiro você tem que pedir a permissão para comer ali dentro, que é o ambiente de trabalho do taxista. Ele pode falar sim ou não. No caso dele foi não. Aí aceitamos o não”, explica.
Cordialidade é fundamental. Do lado do taxista, faltou talvez entender o lado da cliente, que precisava se alimentar e pedia por uma velocidade reduzida no trânsito. “Faltou um pouco de cordialidade da parte dele, de estar aberto a conversar. Quando a gente presta um serviço, estamos sujeitos a diversos tipos de público”, completa Adriane.
Converse antes de expor. Kéfera tem mais de 10 milhões de inscritos no canal do Youtube. São cidades inteiras que a seguem, e estão prontos para defendê-la.
“Ela teve um comportamento inadequado no sentido de não ter uma conversa e de expor o taxista nas redes sociais. Hoje temos um alcance a tempo real e essa exposição não significa resolução das coisas. Essa não é a forma de resolvermos algum problema se quisermos o respeito. Até onde eu respeito a outra pessoa se eu a exponho sem a sua permissão?”, sugere Adriane.
Ao invés de usar uma arma como as redes sociais, em casos quando algo não a agrada, melhor é registrar uma queixa formal nos órgãos competentes. “É simples assim. Mas juntar essa legião de fãs para que todos comprem a sua dor… e tudo isso por causa de uma marmita”, lembra Silmara.
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