Comportamento

Katia Michelle

Opinião: A chatice de declarar o amor nas redes sociais

Katia Michelle
15/09/2016 09:00
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Nada de nostalgia, mas antigamente – sei lá, tipo anteontem – o amor verdadeiro era declarado só para seu interlocutor, a quatro paredes ou, no máximo, a quatro chaves. Hoje se não está na rede não é peixe. Nem amor. A repercussão da coluna de Gregório Duvivier, na Folha de São Paulo, e o textão do comediante Rafinha Bastos no Facebook, ambas declarações de amor a ex-mulher e a atual, respectivamente, mostram isso. As colunas ficaram nos tops trends do Google, Twitter e pipocaram nas timelines.
Exemplos dessas declarações que não medem seguidores, aliás, não faltam. O escritor Fabrício Carpinejar, famoso por ser um “livro aberto” de relacionamentos, recentemente passou a publicar cartas abertas à atual mulher, Beatriz, nas redes sociais. Esse tipo de exposição rende centena de comentários, compartilhamentos, “oins”, desejos de fazer o mesmo, de se colocar no lugar do outro, de ser o outro e de ter um amor assim tão verdadeiro.
Pois não basta só sentir, precisa propagar. Quando o amor nasce está na rede, com sorrisos, declarações, corações, imagens, mãos dadas, check ins em conjunto e marcações. Quando o amor morre também está lá, na mudança de status, na exclusão das imagens, das lembranças e até de amigos. Pode voltar depois, com outro objeto de desejo, seguindo a mesma dinâmica. Nascer, viver, publicar, morrer em um círculo vicioso cada vez mais constante e independente desse tal interlocutor, mero coadjuvante.
O amor virou o objeto de desejo dele mesmo, já que é mais fácil amar a ideia do amor do que propriamente a pessoa ao qual o sentimento é atribuído. Sim, na terra das paixões, não existem regras. Só quem pode mensurar a verdade do amor são as pessoas nele envolvidas. O amor é único para cada um. Sem chaves nem segredos, acontece na convivência muito mais do que no tempo. E sua duração pode estar muito mais relacionada à intensidade do que na quantidade de dias.
Então, seja para nascer ou para morrer, o sentimento não deveria vir com o botão do compartilhamento. O problema é que a máxima “não está no Google não existe” invadiu os corpos e as almas, em um ménage a trois consolidado. Que tal hoje, no lugar de postar aquele poema fofinho na timeline da pessoa “objeto de desejo”, você não chama para um programa a dois, fala como foi o dia além do que postou nas redes, e resiste à necessidade da plateia? Enjoy.