Comportamento

Larissa Jedyn

Pais de aluguel

Larissa Jedyn
10/08/2008 03:57
Primeiro você “adota” um. Depois mais um. E aos dois se soma mais um, e mais outro, até abraçar o grupo inteiro. E ainda precisa se esforçar para não chamar para os braços do “papai” o primeiro chorão que aparecer. No meio das “ma” e “tia”, o voluntário e empresário Jonathas Stephen Barros (foto 1), 35 anos, vai ensinando aos pequenos com seu vozeirão que ele é o “tio”, “ti”, “titio”, ainda que esteja louco para ser papai – tanto que já está na lista para adotar o seu primeiro rebento. “Como eu não fiz exigência nenhuma e aceito crianças com alguma doença, acho que o processo deve sair rápido.” Enquanto isso, vai “treinando” com os pequenos do lar. “Eu tenho de dar banho, trocar, brincar. E eles vão me passando o sentido mais puro da paternidade”, conta ele, que é voluntário há quatro meses no Lar O Bom Caminho e também no Acoa, que cuida de crianças com HIV. “Um dia li sobre a carência de voluntários homens nas instituições. Foi isso que me moveu a ajudar. Agora, me sinto cumprindo uma missão”, diz ele. As crianças retribuem a atenção em dobro.
Um colo requisitado
Logo que o bancário Mauro César da Silva (foto 2), 40 anos, chega ao lar é chamado para ver o novo morador que é a sua cara. Ele ri da proposta de um teste de DNA feito pela diretora da casa. “Aqui é assim, a gente acaba achando um que é a cara do outro, elege um xodó de cada vez”, diz ele, enquanto protagoniza um repertório interessantíssimo de caretas, vozes diferentes e brincadeiras que fazem as crianças pularem do colo que estiverem para pousar no dele. Para Mauro, essa experiência está distante da paternidade, ainda que ele saiba que os homens que circulam na casa são a referência masculina os pequenos. “O que rola aqui é muito especial. Eu, por exemplo, sempre fico feliz quando uma criança ganha uma família. Eu sei que isso é importante, mas, por outro lado, fico com saudades, sinto falta, fico pensando em como ela está”, diz ele, aproveitando para contar aos colegas voluntários como foi a festinha de aniversário de uma das crianças do lar que ganhou uma família.
O amigão
“Cada um tem uma vocação e eu acho que entre as minhas não consta a paternidade. Eu gosto é de criança, de ajudar, de brincar. Quando estou aqui, dou tudo de mim”, diz o voluntário e contador Cleber Andrade Caproni (foto 3), 36 anos, que trabalha há dois anos na casa. Misturado à criançada, fica difícil saber quem é que está entretendo quem. Cleber vai ao chão para brincar, mergulha junto na piscina de bolinhas e come com gosto as comidinhas dadas na boca. “É uma delícia isso. Eles já me reconhecem, vêm puxando o cabelo, passando a mão na barba… Há um afeto muito grande que nos une. Um afeto mais de amigos que entre pai e filhos.” E o amigão não se faz de rogado na hora de defender a turminha: “Quero o melhor para eles. Me revolto quando fico sabendo das histórias pregressas de algumas crianças. Mas tento focar no que estamos vivendo aqui, no presente. Esta é uma experiência positiva e alegre”, comenta.
larissa@gazetadopovo.com.br