Comportamento

Raquel Derevecki

Professora de 92 anos tem melhora de saúde ao alfabetizar cuidadora: “foi um remédio”

Raquel Derevecki
01/04/2019 14:51
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A professora aposentada Ione Nobrega está ensinando sua cuidadora Maria Silva a ler e escrever. Foto: Manuela da Nóbrega Praxedes

As gripes frequentes, dores e o desânimo sumiram depois que a professora aposentada Ione Nobrega, de 92 anos, voltou a ensinar. “Agora estou muito bem de saúde. Dar aula foi um remédio”, afirma a moradora de Fortaleza, Ceará.
No início de março, ela descobriu que sua nova cuidadora — Maria Borges da Silva, de 34 anos, era analfabeta e tinha o sonho de aprender a ler e escrever. “Ela me disse que isso é o que mais queria na vida, então eu falei que ia ensinar”.
Ione estava longe da sala de aula desde 1979, mas isso não a impediu de conquistar a estudante, natural de Itapajé, a 130 quilômetros de Fortaleza. “Comecei apenas conversando, e depois passei o bê-a-bá”, relata a educadora que, em pouco mais de uma semana, já estava cobrando ditados simples da aluna. “Ela é muito inteligente”.
Foi durante um desses ditados, na última sexta-feira (22), que a neta Manuela da Nóbrega Praxedes flagrou a avó sentada na mesa ensinando a funcionária. “Eu estava saindo de casa quando vi as duas. Na hora já comecei a filmar”, comenta a advogada, que mora no mesmo prédio da matriarca. Ao se aproximar, ela perguntou o que as duas estavam fazendo com cadernos e canetas na mesa, e ficou surpresa com a alegria de dona Ione ao responder sua pergunta.

“Ela disse que estava ensinando a Maria, e eu achei aquilo lindo porque uma semana antes minha avó estava triste, doente e falando que ia para o buraco. Agora estava ensinando, toda compenetrada e cheia de vida”.

Foto: Manuela da Nóbrega
Foto: Manuela da Nóbrega
A oportunidade fez Ione lembrar dos momentos felizes que viveu em sala de aula e também das três irmãs, professoras. “Uma delas até abriu uma escola comigo, o extinto Instituto Nóbrega”, disse. Antes de inaugurar a instituição, Ione também passou no concurso para ser educadora da cidade de Fortaleza, onde se aposentou como orientadora.
Além das conquistas como professora, voltar a ensinar também trouxe à sua memória os tempos de infância, quando era ela quem aprendia o abecedário e formava as primeiras palavras. “Comecei a estudar com sete anos e queria ser dentista”, revelou a cearense.
No entanto, o pai não aceitava que as filhas trabalhassem com homens e só as deixava frequentar a escola se o objetivo fosse lecionar. “Ou nos tornávamos professoras, ou ficávamos dentro de casa”. Com isso, as quatro irmãs viraram docentes, enquanto os três irmãos escolheram as carreiras de advogado, jogador de futebol e comerciante.
Por sorte, dona Ione gostou da profissão sugerida pelo pai, se sentia muito feliz com os estudantes e agora revive esse sentimento ao ensinar a cuidadora Maria. “Ela é uma ótima aluna. Dá conta de todas as tarefas que eu passo e estará lendo em breve”, promete Ione, que é viúva, tem duas filhas, cinco netos e dois bisnetos.
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