Comportamento

Amanda Milléo

Refúgio, lazer e terapia: benefícios dos cursos para a terceira idade

Amanda Milléo
22/10/2016 20:30
Thumbnail

O curso de pintura em tela é um dos mais procurados por idosos (Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo) | Henry Milleo

As aulas de canto e técnica vocal são, para Zuenir Araújo Ferreira da Silva, de 75 anos, mais que um passatempo. “Cantar foi um refúgio para mim, junto com a igreja. Perdi meu neto de 13 anos no ano passado e consegui me sentir melhor cantando. Tenho outro neto, que é esquizofrênico, de quem eu preciso cuidar também, mas as aulas me alegram, e foi onde fiz muitas amizades“, conta Zuenir, que além das aulas de canto duas vezes na semana, faz curso de viola caipira e teclado.
Os idosos são frequentadores assíduos dos cursos ofertados pela Fundação Cultural de Curitiba, sejam nas Ruas da Cidadania, no Centro de Criatividade ou mesmo em projetos isolados. De acordo com informações da Fundação, as aulas de pintura em tela, mosaico e canto coral e técnica vocal são os cursos mais procurados pelos aposentados. O motivo para isso, segundo o professor de canto e técnica vocal Fernando Klemann, pode ser a socialização que as aulas propiciam.
Zenir Araújo Ferreira da Silva, de 75 anos, faz aulas de viola caipira e teclado, além das aulas de canto e técnica vocal (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)
Zenir Araújo Ferreira da Silva, de 75 anos, faz aulas de viola caipira e teclado, além das aulas de canto e técnica vocal (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)
“Eles vêm mais como uma forma de socializar, para interagir com as outras pessoas, com outros idosos. Vejo muitos que trazem amigos, que conhecem de outros grupos de canto, e um acaba puxando o outro. Além disso, eles também interagem com alunos mais jovens, temos até crianças no grupo. Vemos os jovens com a energia e os idosos com a experiência, é muito interessante”, diz o professor, que dá aulas na Rua da Cidadania de Santa Felicidade.
Quando a filha do casal Mario e Líria Badu Albuquerque não pode mais continuar as aulas de canto porque os horários batiam com as aulas da faculdade, a mãe teve uma ideia: ela teria as aulas de coral. “A música me traz paz e sempre convido outros para esse momento de descontração, de partilha. O primeiro que eu consegui ‘puxar’ foi o meu marido”, conta Líria, de 58 anos, dona de casa. “Temos poucas oportunidades de conviver junto, de encontrar os amigos, vizinhos e mesmo a família. Como gosto muito de cantar, vim junto com a minha esposa. A aula ajuda muito no entrosamento e na união da família”, diz Mario, que é aposentado.
Mario e Líria Badu Albuquerque, de 62 e 58 anos, respectivamente, viram na música uma forma de unir a família (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)
Mario e Líria Badu Albuquerque, de 62 e 58 anos, respectivamente, viram na música uma forma de unir a família (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)
Cantar une todo mundo, inclusive o Papai Noel! Enquanto se prepara para ser o bom velhinho em dezembro, o aposentado Daniel Swiech, 61 anos, se posiciona ao lado de outros tenores para cantar as músicas sobre trem – temática que estão preparando para a próxima apresentação. “Eu gosto de cantar, ajuda na mente e faz bem para o ego também“, relata Daniel, que começou as aulas de canto a convite de amigos, há mais de três anos.
Em poucos meses, Daniel Swiech, de 61 anos, se tornará Papai Noel. Enquanto isso, canta no coral do projeto Nosso Canto, na Rua da Cidadania de Santa Felicidade (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)
Em poucos meses, Daniel Swiech, de 61 anos, se tornará Papai Noel. Enquanto isso, canta no coral do projeto Nosso Canto, na Rua da Cidadania de Santa Felicidade (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)

Pintando para desestressar

A popularidade das aulas de pintura em tela, por outro lado, se deve a um benefício diferente. A professora da disciplina Iriene Borges avalia que, apesar de ser uma atividade tranquila, pintar ajuda a liberar a tensão.
“Pintar é um processo criativo, você cria algo que faz parte de você. Vejo que aos meus alunos que eram muito ansiosos, que estavam passando por uma fase complicada na vida ou que estavam deprimidos, pintar fez toda a diferença. Quando você não dá vazão à tensão, àquela necessidade de se sentir útil, de fazer algo que seja esteticamente agradável, aí sim você começa a envelhecer“, diz a professora, que é responsável pelas aulas de pintura em tela nas quintas-feiras na Rua da Cidadania de Santa Felicidade.
Oito quadros é a quantidade de obras que Ólide Mzart, de 71 anos, lembra de ter pintado ao longo dos últimos dois anos e meio, nas aulas de pintura em tela. Isso sem contar os outros tantos de sua autoria, que foram dados de presente a amigos e parentes, e não entraram na contagem final. “É muito gostoso receber elogios. Ver o trabalho pronto, em uma exposição, é gratificante. Quando você começa, quer pintar tudo, todas as paisagens, que é o que eu mais gosto de pintar”, diz a dona de casa, que faz aulas uma vez por semana na Rua da Cidadania de Santa Felicidade.
Ólide Mzart, de 71 anos, sente que a pintura é como terapia (Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo)
Ólide Mzart, de 71 anos, sente que a pintura é como terapia (Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo)
Descarregar o estresse também é o objetivo de Valdice Ribeiro Scholz, de 61 anos, quando procurou pelas aulas de pintura. “Pintar desestressa porque colocamos as nossas emoções na tela, e eu fico tão concentrada que se eu tiver qualquer problema na cabeça, ele desaparece, e eu mal vejo a hora passar”, relata a diretora de escola aposentada. “As minhas experiências anteriores com a pintura eram só de obrigação, e não sentia prazer. Mas eu sempre dizia que depois da aposentadoria iria começar a pintar de verdade, e foi o que eu fiz. Hoje eu vejo que é maravilhoso, eu me sinto útil, e quando vejo a obra pronta, é uma alegria e satisfação“, relata.
"É maravilhoso, eu me desestresso e me sinto útil", diz Valdice Ribeiro Scholz, de 61 anos
"É maravilhoso, eu me desestresso e me sinto útil", diz Valdice Ribeiro Scholz, de 61 anos
Nanci Buzo Tullio, de 63 anos, “culpa” a pintura pelos anos a mais que ganhou. “É uma atividade que me deixa mais leve, que me permite viver pelo menos mais uns 20 anos. Eu não sabia que gostava tanto de pintar, apesar de ter sido maquiadora em um salão. Hoje pinto nas aulas e pinto em casa, mas lá uso as técnicas mais livres e agora estou trabalhando em telas de vasos. Ainda não achei meu estilo”, completa Nanci, que fica feliz ao ouvir da professora que talvez seu estilo seja mais impressionista.
"Eu não sabia que eu gostava tanto de pintar", diz Nanci Buzo Tullio, de 63 anos (Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo)
"Eu não sabia que eu gostava tanto de pintar", diz Nanci Buzo Tullio, de 63 anos (Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo)

Quer fazer um curso?

Aqui estão todos os cursos oferecidos pela Fundação Cultural de Curitiba, em diferentes regionais. Alguns exigem pagamento de mensalidade, enquanto outros são gratuitos.