Comportamento

Larissa Jedyn

Será que ainda dá tempo?

Larissa Jedyn
18/02/2007 22:12
larissa@gazetadopovo.com.br
Com seus 11 meses, a Mariana Schmitz aí ao lado ainda não sabe, mas – desculpe a rima – a coisa no planeta está preta. No ritmo de degradação que andamos, quando ela for crescidinha, rios limpos só nas histórias de Chico Bento. Os de verdade estarão cortando a cidade, canalizados e mal-cheirosos. Pode ser que até Mariana ficar maior, não veja mais florestas de araucárias. E nem gralhas-azuis e nem pinhões. O símbolo do Paraná, que um dia esteve em matas que cobriam o estado e agora estão reduzidas a menos de 1% do que eram, estará eternizado apenas na bandeira. Sobrariam também os livros e fotos. A temperatura, se concretizadas as previsões dos cientistas que assinaram o relatório recente do Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), deverá subir em menos de 100 anos entre 1,8ºC e 6,4º C, o que aumentaria o nível dos mares entre 18 e 59 centímetros. Com isso, algumas cidades costeiras desapareceriam. Adeus mangues e praias para fazer castelinhos. Bye, bye tatuíras e siris.
Há quem não se preocupe com isso, afinal o homem se adapta às diversidades desde o início dos tempos. Pode ser também que você não se importe com o desaparecimento do urso polar devido ao derretimento das geleiras ou com o fato da Europa virar uma geleira por causa de uma possível alteração nas rotas das correntes marítimas que levam calor ao continente. Longe demais, né?
A questão crucial é o desequilíbrio causado por tudo isso, que além das catástrofes naturais, provocaria falta de alimento e epidemias. Aí, todo mundo entra na história. “Diante disso, não temos outra alternativa. Temos que fazer alguma coisa”, diz o diretor do curso de Engenharia Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Garcias.
Muito tem se falado em sustentabilidade e de como é que as pessoas podem na prática fazer alguma coisa para salvar o planeta. Ações simples no dia-a-dia podem ajudar a conter a situação, mas o principal, para a bióloga Vivian Uhlig, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), é a tomada de consciência – ou seja, a ficha tem de cair.
A primeira coisa é fazer uma análise do ciclo de vida do que está ao seu redor. “A roupa que está vestindo por exemplo: ela é feita do quê? É de algodão? Ele foi plantado em área de floresta nativa? Como foi transformada a fibra? Foram usados corantes artificiais ou naturais para tingir o material? Foi utilizada mão-de-obra remunerada? Que tipo de embalagem utiliza? É reciclável?”, sugere. Após isso, ela orienta que as pessoas corram atrás de informação e – para isso – que busquem as fontes. “Procure saber mais sobre as causas do aquecimento global, leia sobre o que você pode fazer para contê-lo. Acesse as listas de animais em extinção, procure conhecer peculiaridades da sua região e veja que riscos ela corre.” E, por último, segundo Vivian, é a hora da indignação, da denúncia, da sugestão, da exigência de que se faça alguma coisa, que o poder público assuma suas responsabilidades.
“O grande problema é a omissão. É o uso excessivo dos bens naturais, o consumo inconsciente. Há que se fazer uma opção coletiva pela sustentabilidade e admitir outro modelo, com limites para a prática de consumo, da redução dos supérfluos”, diz a ambientalista e jornalista Teresa Urban. “A conta é simples, quem consome mais produz mais lixo. A gente pode até ver mais lixo na favela e dizer que pobre é quem suja. Mas não é verdade. Lá está o nosso lixo também”, destaca Garcias. E isso todo mundo tem de aprender, inclusive a Mariana.