Saúde e Bem-Estar

Benefícios da jardinagem para quem passou dos 50 anos

Marina Mori
15/01/2016 22:00
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Adalziza Taeco Ohashi, 70 anos, e José Luiz Trindade, 58 anos: maior orgulho do casal é encontrar flores a cada passo no jardim. Fotos: Rodrigo Sóppa/Gazeta do Povo.

O contato com a natureza é saudável. Eleva a autoestima, revitaliza e traz uma penca de outros bons frutos ao corpo e à mente. Pode parecer que isso veio de algum livro budista, mas na verdade é o resultado de uma pesquisa norte-americana sobre o benefício da jardinagem em pessoas que passaram dos 50 anos.
Em 2010, pesquisadores da Universidade do Texas A&M e da Universidade do Estado do Texas aplicaram um questionário para estudar os níveis de satisfação e qualidade de vida em pessoas que praticam ou não a jardinagem. Eles analisaram as respostas de 298 pessoas – homens e mulheres acima dos 50 – entre as que estavam sempre em contato com o jardim e as que não gostavam de mexer na terra.
Para 96% dos jardineiros por hobby, as atividades diárias não eram consideradas nem de longe chatas ou monótonas. Tanto que 71% afirmaram sentir-se cheios de energia no dia a dia e 74% acreditaram ter alcançado muitos de seus objetivos de vida. Tem mais. Os participantes avaliaram sua saúde em “muito boa” e “excelente”. Os que não tinham o hobby, por outro lado, eram menos otimistas. Suas respostas davam a entender que a vida é monótona e a satisfação deixava um pouco a desejar.
Terapia
A terapeuta ocupacional Bruna Caires explica que a jardinagem pode ser considerada terapêutica porque há um processo de dedicação, mas é preciso planejamento. “Por mais simples que seja, a atividade tem que ser bem planejada para que haja satisfação no final, seja a colheita ou o surgimento da flor”, explica.
Regina Moreira Rodrigues, 87 anos, descobriu a paixão pela jardinagem depois dos 50 anos. Quando os filhos cresceram, encontrou nas plantas e flores um novo mundo de cuidados. Alçou voo. De família acadêmica (o pai e o marido foram professores de universidade), lançou-se à aventura de corpo e alma. Aos 55, viajou sozinha pela primeira vez a um continente antes desconhecido: Europa. O destino? Le Vasterival, na cidade de Dieppe, ao norte da França. A experiência durou quatro meses num jardim digno de filmes encantados. O espaço de mais de 120 mil m² foi idealizado pela princesa Greta Sturdza e foi lá que dona Regina aprendeu muito do que sabe sobre as plantas, flores e paisagismo. Chegou ao Brasil e arregaçou as mangas; era vez de construir o seu jardim dos sonhos.
Regina Moreira Rodrigues, 87 anos:  “eu consigo me comunicar com as plantas”.
Regina Moreira Rodrigues, 87 anos: “eu consigo me comunicar com as plantas”.
“Eu consigo me comunicar com as plantas”, afirma Regina, sempre ativa e pronta para exibir suas conquistas. Não foram poucas. Enquanto desenhava alguns projetos de paisagismo (ao todo, foram mais de 300), fundou uma sociedade de jardinagem (Centro de Jardinagem e Arte Floral do Paraná ou Cejarte) em setembro de 1986, que funciona até hoje. Edita a publicação trimestral da revista O Regador e cuida da sede do Cejarte, na própria casa. As sócias se reunem todas as quartas-feiras para compartilhar histórias e dúvidas sobre certas flores e, claro, se divertir. “Somos todas amigas aqui. Organizamos viagens para conhecer parques, jardins e tudo relacionado à jardinagem. É uma terapia”, conta.
Uma das belas gérberas amarelas cultivadas no jardim de dona Regina.
Uma das belas gérberas amarelas cultivadas no jardim de dona Regina.
Durante oito anos, dona Regina manteve o “Jardim dos Sentidos” no quintal de sua casa. A experiência, destinada inicialmente aos deficientes visuais, ganhou popularidade e o público se estendeu a crianças, adolescentes e apaixonados pela natureza. O percurso, guiado por uma hora, tinha em média 200 metros e contava com mais de 60 espécies de plantas, pássaros e esculturas. Mais tarde, a ideia foi reproduzida no Jardim Botânico de Curitiba, onde funciona até hoje.
Tradição
Para Adalziza Taeco Ohashi, 70 anos, e José Luiz Ferreira da Trindade, 58 anos, o maior orgulho de seu jardim é encontrar flores a cada passo. “Aqui em casa não tem um dia dos 365 em que a gente não descobre uma flor. Mesmo quando o tempo está seco e não chove há dias, sempre aparece uma florzinha”, revelam. Manacá, Antúrio, Momiji, Glicínia, inúmeras suculentas e por aí vai.
Adalziza Taeco Ohashi, 70 anos, e José Luiz  Trindade, 58 anos: maior orgulho do casal é encontrar flores a cada passo no jardim. Fotos: Rodrigo Sóppa/Gazeta do Povo.
Adalziza Taeco Ohashi, 70 anos, e José Luiz Trindade, 58 anos: maior orgulho do casal é encontrar flores a cada passo no jardim. Fotos: Rodrigo Sóppa/Gazeta do Povo.
No terreno, os 500 m² de jardim começam em frente à casa e continuam a delinear o comprimento do muro até os fundos, onde se abrem num espaço amplo. É uma festa de flores, árvores e hortaliças. “A gente não gosta de muita organização no jardim. Os pés de alface nascem embaixo das roseiras, junto com beterrabas, repolhos e outras folhas comestíveis”, conta Adalziza. Trindade, professor de tecnologia de alimentos na UTFPR em Ponta Grossa, teve experiências de todo o tipo no quintal. Plantou milho e colheu mais de 300 espigas, cultivou um pé de café e até plantou uma mudinha de morango para mostrar à neta de onde vinha a fruta.
Em cada parte do jardim, há uma planta com história. Duas árvores, Ginkgo Biloba e Momiji, foram trazidas em mudas do Japão pela tia de Adalziza. Outras tantas mais foram deixadas pela tia avó de Trindade, como a Flor-de-cera, uma trepadeira tão delicada que parece de mentira. O rei do jardim, porém, é o pinheiro, que foi testemunha dos momentos mais felizes da família.
O casal cuidando de uma das flores do belo jardim.
O casal cuidando de uma das flores do belo jardim.
O primeiro foi o casamento de Adalziza e Trindade, em 1982. Trinta e três anos depois, a filha escolheu o mesmo cenário para celebrar sua união: o jardim de casa. “Havia muito a se fazer e cada um ajudou com o que podia, desde trocar a grama, mudar as plantas de lugar e arrumar a decoração no jardim. Essa união da família trouxe muito mais alegria e emoção”, relembra Adalziza.
Frustrações
Manter uma horta, um jardim ou mesmo alguns vasinhos de plantas pela casa desperta um sentimento de responsabilidade. Como é um ser vivo, a planta depende de vários fatores para crescer e dar frutos. É preciso dedicar atenção à terra, à água e também à luminosidade. Cada planta, seja a da horta ou do jardim, se adapta a uma estação do ano, portanto vale buscar informações para cuidar bem da espécie escolhida.
A terapeuta ocupacional Bruna Caires explica que o importante é pensar no processo como um todo quando o resultado não sai como o esperado. “É legal fazer uma análise da atividade realizada, desde a escolha das sementes ao cuidado diário com a planta. Ao pensar no aprendizado, fica mais fácil lidar com possíveis frustrações”, comenta.