Moda e beleza

The Washington Post, traduzido por Adriano Scandolara

Corpo do verão? Que nada!

The Washington Post, traduzido por Adriano Scandolara
09/08/2016 09:00
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Com a chegada do calor, as revistas para o público feminino vêm tentando convencer suas leitoras que existem dois tipos de pessoas: as que têm um “corpo de verão” e as que não têm. Suas capas estão estampadas com imagens, cheias de Photoshop, de mulheres magérrimas que representam o ideal de um corpo pronto para o verão. E dizem: “mulheres, essa é a aparência que vocês precisam ter para serem desejadas”. Com essa pressão toda, não é por acaso que as mulheres acabam condicionadas a criticar severamente seus próprios corpos.
Mas, este ano, pelo menos uma das maiores revistas do ramo deu um primeiro passo contra esse tipo de humilhação, o chamado “body shaming”. A revista Women’s Health não tem mais incluído expressões como “corpo de verão” ou “perder medidas” em suas capas, como apontou na última sexta-feira o Los Angeles Times. Em vez disso, a revista continuará promovendo a importância de um estilo de vida mais saudável para suas leitoras, mas que não precisa vir num tamanho 36.
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A revista anunciou a mudança na edição de janeiro, uma decisão tomada com base no feedback solicitado das leitoras. Para mostrar que estão falando sério, a editora-chefe da revista, Amy Keller Laird, escreveu cartas de despedida para as expressões abandonadas:
“Caro ‘Corpo de Verão’, Você é um equívoco, na verdade, além de um insulto por tabela: você sugere que um corpo tem um limite de tamanho para usar biquíni. Qualquer e todo corpo é um corpo de verão. Seu tom negativo e desdenhoso já está mais do que dando nos nervos”.
“Caro ‘Perder Medidas’, acabamos nos distanciando. Nós já lhe superamos, para sermos francas. Sim, é verdade que muitas de nós querem perder alguns quilos – há estudos e pesquisas que comprovam isso. Mas perder dois tamanhos num mês? Não é lá muito prático e nem mesmo saudável. Desculpe, mas as mulheres de 2016 querem histórias que, como uma leitora tão bem sugeriu, ‘girem mais em torno do bem-estar e menos em torno de objetivos irreais de perda de peso’”.
Estudos feitos ao longo dos anos vêm demonstrando que as jovens tendem a internalizar a imagem do corpo perfeito idealizado pela mídia. Quase todas as pesquisas sobre autoimagem corporal mostram que as mulheres costumam se sentir insatisfeitas com sua aparência, o que leva a uma baixa autoestima e, por vezes, a transtornos alimentares. A médica Carolyn Ross, cuja especialidade é saúde feminina, num artigo de 2012, descreveu essas imagens irreais colocadas nas capas das revistas como “uma armadilha para sentir ódio de si mesma”.
Mas, nos últimos anos, tem havido uma mudança cultural no modo como a sociedade celebra a aparência física. As redes sociais estão cheias de campanhas “body positive”, que pedem às mulheres que amem os seus corpos. Mulheres com corpos normais, como Amy Schumer e Mindy Kaling protagonizam histórias de romance em filmes e séries. A Sports Illustrated teve uma modelo plus-size na capa de sua edição anual de trajes de banho. As Barbies hoje vêm em toda uma variedade de tipos de corpos. Mulheres comuns de todos os tamanhos publicam fotos de si mesmas no Instagram com tops cropped e biquínis.
Na Women’s Health o principal continua sendo o bem-estar, mas Laird afirmou que a questão agora é mais a saúde e o empoderamento do que a magreza e a perfeição. As leitoras ainda encontrarão mulheres magras e com músculos tonificados nas capas, bem como dicas para perda de peso e como conseguir um abdômen sarado, mas a revista se esforça também para mostrar que não existe um padrão único para beleza, segundo Laird.
“Queremos reconhecer publicamente que a nossa missão é empoderar as pessoas, nunca humilhá-las, mas fazer com que elas se sintam bem”, ela disse. “É possível ser saudável e sarada em todos os tamanhos”.
Renee Engeln, professora de psicologia da Northwestern University, especializada na autoimagem das mulheres, não acha, no entanto, que a revista esteja se esforçando o suficiente. Ela afirma que ainda é dada uma atenção excessiva à perda de peso. “Há modos de se falar em saúde sem ser falando do peso”, ela disse. “Não faltam provas de que as dietas não funcionam, e se você for ver essas provas e as do quanto é difícil para as pessoas emagrecerem e manterem o peso, é estranho que uma revista com ‘saúde’ no nome ainda esteja obcecada com emagrecimento”.
Por mais que todos os esforços sejam louváveis no combate ao “body-shaming”, diz ela, as mulheres maiores ainda sofrem com os julgamentos da sociedade. Basta dar uma olhada atrás na história de algumas semanas da modelo da Playboy que tirou uma foto debochando de uma mulher nua num vestiário de academia e a publicou em seu Snapchat.
Mas há motivos para se ter esperanças de que as atitudes das pessoas estão mudando.
 No Reddit
No começo desta semana, uma mulher inglesa fez uma pergunta no Reddit sobre o seu próprio corpo. Ela comentou que usava tamanho 16, no padrão inglês, que equivale ao 12 norte-americano [42/44, no padrão brasileiro], e queria saber se poderia usar biquíni nas férias de verão. “Eu tenho 1,65m e sou razoavelmente musculosa, mas tenho celulite nas coxas e uma barriguinha. Eu vou passar as férias em Portugal em breve e estou meio nervosa com a coisa toda. Vou levar um maiô e umas túnicas só para garantir, caso eu fique com medo demais de sair do quarto de hotel de biquíni”. “Bem, tamanho 16 inglês me parece um tamanho perfeito, na minha perspectiva”. “Use aquilo que faça VOCÊ se sentir confortável. Seja confiante e arrase, amiga!” “Vai fundo! Pode usar, arrase, e a sua autoconfiança é tudo que você vai precisar :)” Ainda assim, Engeln preferia que a moça sequer tivesse que perguntar esse tipo de coisa. “A aparência sempre será uma preocupação para as pessoas”, ela afirmou, “mas eu diria que o que precisamos agora não é uma nova maneira de comentar a aparência das mulheres, mas sim de uma maneira de não comentar”.
 Sobre a autora:
Colby Itkowitz é a principal âncora do blog Inspired Life. Ela fazia a cobertura das matérias sobre os detalhes da política nacional e do governo federal dos EUA.