Moda e beleza

Camille Bropp Cardoso

A hora certa para o botox será aos 20 anos?

Camille Bropp Cardoso
06/06/2015 15:49
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O princípio pode até parecer lógico. Em vez de tentar minimizar os efeitos de uma ruga formada no rosto (tarefa ainda difícil para a medicina), usa-se toxina botulínica, ainda na juventude, para paralisar músculos e impedir que a linha de expressão se forme. Rotineira no estilo de vida de celebridades, a tática chegou a pessoas comuns, criando um nicho de mercado atrativo para clínicas e consultórios (médicos e estéticos)– cada sessão custa de R$ 300 a R$ 600 e o tratamento pede longo prazo.
Mas a prática, cada vez mais popular , vem causando polêmica. Afinal, não estaria existindo um excesso de vaidade de jovens na faixa dos 20 anos e até menos que começam a adotar o procedimento? Não há uma idade mínima para começar a usar o popularmente conhecido botox (em referência a marca mais famosa)?
“A procura vem aumentando muito. As adolescentes mostram ter visão estética quando procuram por implantes de silicone [nas mamas]. Daí para fazer outro procedimento é fácil, porque todos parecem menos complexos se comparados a uma cirurgia”, avalia o cirurgião plástico Marco Aurelio Gamborgi, diretor no Paraná da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Mas o assunto é tabu mesmo entre esses pacientes, que não admitem abertamente fazer uso da toxina.
Avaliação
A prática não se justifica para todo e qualquer jovem. Gamborgi salienta que bons profissionais filtram a clientela de forma a definir quem se beneficiaria da tática. “São pessoas que têm vida estressante e são expressivas”, avalia. “Muitos jovens chegam aos 20 anos com marcas de expressão, especialmente os de pele clara.” O cirurgião reconhece que, quando a triagem é feita, o número de clientes que sobra é pequeno. “No meu consultório, cerca de 5% dos pacientes é jovem e apenas uma parcela usa a toxina.”
A reportagem constatou que a classe médica ligada a estética não tem o hábito de comentar a fundo o impulso que leva jovens a se preocuparem com rugas tão cedo. O principal argumento é de que o uso da toxina botulínica vai além do estético. Derivada de um veneno produzido pelas bactérias que causam uma doença chamada botulismo, a toxina é receitada para pacientes com paralisias e vem sendo testada até para problemas cardíacos. O uso é tão amplo que abrange bebês, o que dá justificativa para o silêncio.
Especialista em toxina botulínica, a dermatologista Bhertha Thamura informa que pesquisas definiram que o uso estético da substância não faz sentido antes dos 12 anos. “O paciente tem que ser muito bem avaliado por um excelente profissional”, diz. Bhertha ressalta que o efeito temporário esconde o fato de que a toxina tem riscos pouco desprezíveis. Ela pode desencadear doenças neurológicas de fundo genético. “É um alerta para quem faz a aplicação com dentistas, esteticistas e médicos que não entendem do assunto”, acredita.
Dismorfia
É inegável que a preocupação precoce com rugas exige atenção. Ela pode ser reação a pressões familiares ou do ambiente em que o jovem vive, além de baixa autoestima. Especialista em dismorfia corporal (transtorno em que a autoimagem do doente é diferente da real), o psiquiatra Glauber Higa Kaio lembra que a adolescência e o início da vida adulta são fases de insegurança em que qualquer mal-estar é superestimado. “O jovem pode atrelar algum complexo interno à aparência. Tendo conflitos mentais não resolvidos, ele nunca verá sua beleza”.
Ninguém me indicou. Resolvi fazer para amenizar linhas de expressão e evitar o surgimento de outras. Recomendo porque é um tratamento preventivo e um dos métodos mais usados para evitar marcas. Não é preenchimento, são coisas diferentes. A toxina é legal até nos EUA, onde a rigidez com medicamentos é notável. Conheço pessoas com paralisia facial que melhoraram o problema usando a toxina. Equilibrou a assimetria facial. Em pequenas doses, ela não faz mal e traz menos riscos do que uma cirurgia.
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Letícia Birkheuer 37 anos, atriz.
Tenho 25 anos e faço aplicações da toxina desde 2014. Me incomodava tirar fotos e ver marcas ao redor dos olhos. Na clínica de estética me recomendaram uma dose baixa. Resolvi arriscar. É desconfortável na hora de aplicar, tem que cuidar com os movimentos depois. Dá um pouco de dor de cabeça. Em 5 dias se vê o resultado. É uma maravilha! Existe preconceito, por isso só pessoas próximas sabem que fiz. Mas não é mais coisa de celebridade, não. Me considero dentro da média quanto a preocupação com beleza. Coloquei silicone nos seios e faço tratamentos. Tento me cuidar como posso, pois a maioria dos procedimentos de estética são bem caros.
Daniele* 25 anos, administradora
* Nome fictício.