‘Minha roupa é alma, é expressão’: Elke Maravilha era a mãe da Lady Gaga que vivia no Brasil

Tal como o vestido de carne eternizado por Lady Gaga, em seus 71 anos de idade Elke Maravilha deu o que falar por suas escolhas de estilo. Ela era um aviso vivo de que a moda é diversão e dá muito mais prazer quando você não se prende a regras e padrões. “Minha roupa é alma, é expressão”, costumava dizer. Com este lema seguiu seu caminho estético com muita extravagância até a madrugada desta terça-feira (16), quando faleceu num hospital do Rio de Janeiro.

Trabalhou como modelo para nomes importantes da moda brasileira, como Zuzu Angel e Clodovil. Recentemente, chegou a estrelar a campanha de um dos novos designer brasileiros de sucesso: Lucas Magalhães e, no último mês, apareceu na nova campanha da Avon, ensinando a usar um produto de pele. Mas merece destaque pelo que construiu sozinha. Chamava seus looks de “escavação arqueológica” e fazia da vida uma passarela. Roupas, perucas, dreads: ela era sua própria estilista. No seu site oficial ela explica a mistura que a compõe: “Rússia, Alemanha, França e aos 6 anos de idade o Brasil, país das infinitas possibilidades onde todas as raças e crenças convivem lado a lado e até judeu se dá com árabe e vão juntos ao centro de macumba”.

As roupas eram confeccionadas e bordadas em casa, com a ajuda de uma costureira. Em diversas entrevistas, dizia que sua inspiração vinha da cultura africana antiga, mas também da Rússia (seu país de origem) e do Egito. Tudo com um toque à lá Elke, moderno e sem amarras. “Aos poucos fui me impondo, mesmo como manequim. No início fazia um pouco o jogo, porque também sei ser chique: fazer um cabelo convencional, uma maquiagem leve, etc. Mas aquilo para mim era me fantasiar. Eu não sou aquilo! E o legal é que os próprios costureiros começaram a entrar no meu barato, entender o meu estilo e proposta estética e fazer roupas especiais para eu desfilar”, escreveu.

Nos anos 1960 despontou com símbolo de transgressão e libertação. Chegou a ser naturalizada brasileira, mas teve a cidadania cassada pelo governo militar. Visionária, quebrava tabus sobre questões de gênero desde aquela época. Elke Maravilha era uma obra de arte em constante metamorfose. Em seu Facebook ela deixa uma mensagem final: “Crianças, conviver é o grande barato da vida, aproveitem e convivam”.