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Para manter acervos vivos, moda investe na arte e se apropria de grandes obras

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04/09/2018 17:00
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Os modelos da Vans em parceria com o Museu Vincent Van Gogh já estão praticamente esgotados. Foto: Divulgação

Quanto custa restaurar a tela “Vaso com Doze Girassóis” (1888), de Van Gogh? E quanto dinheiro se despeja para manter holofotes sobre uma marca, nascida nos pés dos skatistas californianos, que enfrenta a concorrência de jovens gigantes da moda urbana, como a Supreme? “Muito” seria eufemismo.
Essa equação milionária consagrou nas vitrines brasileiras, na semana passada, um tipo de mecenato no qual museus de todo o mundo se fiam desde a virada do século, a fim de custear a conservação de suas relíquias e, também, para manter o apoio à produção de jovens artistas.
A grife Vans se uniu ao Museu Van Gogh, de Amsterdã, para lançar uma coleção que reproduz, em moletons, camisetas e seus famosos “slip on” – tênis baixos com solado de borracha -, quadros e cartas importantes da trajetória do pintor impressionista.
As pinceladas irregulares dos girassóis e de telas como “Amendoeira em Flor” (1890) e “Vinha Velha com Mulher Camponesa” (1890) são de domínio público, mas a marca preferiu oficializar a parceria e reverter os lucros para o museu. Não é bom-mocismo.
Ao vincular o nome da marca ao do pintor, a grife agrega à coleção um “conceito de exclusividade que as artes visuais propiciam“, segundo define a diretora global se calçados da Vans, Diandre Fuentes.
“A história de resiliência de Van Gogh [que morreu pobre e não conseguia viver de seu trabalho] pode ser inspiradora para os jovens”, afirma.
À frente do projeto está o diretor do museu, Axel Rüger, celebridade no meio artístico e responsável por abrir o legado do pintor holandês para os cineastas Dorota Kobiela e Hugh Welchman, indicados ao Oscar deste ano pela animação “Com Amor, Van Gogh“.
“Para nós, que vivemos de incentivos para manter atividades, parcerias são vitais. Do ponto de vista do legado, curadores precisam manter vivo o interesse das novas gerações acerca da história dos artistas clássicos”, diz Rüger à Folha.
Não foi aleatória a seleção de obras, muitas desconhecidas do grande público. “A coleção tem um papel educativo, porque não estamos falando de ‘Noite Estrelada’, mas de obras pouco exploradas”, explica Rüger.
No site da marca estão esgotados os “slip on” que reproduzem versões de “Caveira” e a carta enviada pelo artista ao irmão. Ainda há bonés (R$ 190) e tênis que estampam “Vinha Velha” a R$ 400, e “Autorretrato”, vendido a R$ 350.
A relação entre arte e moda tem se feito cada vez mais presente, com grifes investindo em espaços próprios, assinados por arquitetos como Frank Gehry, que desenhou o prédio da Fundação Louis Vuitton, em Paris, ou Rem Koolhaas, que concebeu o da Fundação Prada, em Milão.
Esses centros culturais abrigam a produção de artistas contemporâneos e apoiam a exibição de jovens criadores, outro mantra associado a esse tipo de gestão cultural promovida pelas marcas.
Foto: Divulgação
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