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Casais unidos em busca da boa forma

Franco Caldas Fuchs, especial para a Gazeta do Povo
18/03/2012 03:01
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Ângela e Vanderlei Toso entram em forma juntos, praticando inclusive uma paixão em comum, o futebol | Diogo Pisante/ Gazeta do Povo

É batata. Se para o padre, no altar, a maioria dos casais diz um "sim" sonoro e convincente frente ao "promete ser fiel na alegria e na tristeza?", diante de um nutricionista a coisa muda. Quando, em seu consultório, Elisângela Hito­­mi pergunta algo como "promete maneirar esse mês na picanha?", a hesitação toma conta de muitos. Sem falar nos que dizem "sim", mas cruzam os de­­dos debaixo da cadeira.
De fato, uma porção de ho­­mens e mulheres que não se dá conta dos benefícios que teriam se fossem parceiros também à mesa e na hora de fazer exercícios. "Quando os dois se unem, a chance de ter sucesso em suas dietas é maior. O problema é que, se um quer salada e outro vem com uma lasanha, a lasanha ga­­nha sempre", destaca Elisângela.
Ela e outros especialistas em nutrição garantem que é possível reverter um ganho de peso tido como "irreversível" para quem é casado ou namora. O comerciante Vanderlei Toso sabe bem como os hábitos alimentares da vida a dois podem trazer consequências sérias. Há um ano, ele estava com 120 quilos e mal podia se abaixar para amarrar os sapatos. Depois de ouvir os conselhos da esposa, Ângela, ele procurou o auxílio de uma nutricionista, exemplo se­­guido depois pela própria mu­­lher, que também estava acima do peso.
Necessidade individual
"O primeiro mês de reeducação alimentar foi complicado, porque tive de parar de comer uma série de coisas, como carne ver­­me­lha, que eu adoro!", diz To­­so. Ele precisou lidar ainda com o fato de que sua esposa foi liberada dessa restrição. "A minha dieta é to­­tal­­mente diferente da dele. Eu, por exemplo, não posso comer glúten, mas a carne vermelha está li­­­­berada. Mas, como sei que ele não pode, hoje acabo preparando bastante peixe e saladas, alimentos liberados para os dois", diz Ân­­gela.
A nutricionista Elisângela ressalta a importância de que cada parceiro tenha um acompanhamento nutricional que identifique as necessidades de cada um. Do contrário, seguir a dieta do ou­­tro pode ser arriscado. "Cada caso é um caso, e às vezes um tem problema de colesterol alto e ou­­tro não, assim com um pode estar com diabetes ou intolerância a lactose."
Aceitar que a perda de peso, em geral, é mais rápida para os homens é outro fato importante que deve ser assimilado pelas mulheres, diz a nutricionista Flávia Sguario. "Eles têm mais massa magra e um metabolismo mais acelerado. Já as mulheres engordam também por questões hormonais e por conta da retenção de líquidos".
A lição foi aprendida por Ângela. "Enquanto o Vanderlei perdeu 18 quilos eu perdi só 6 até agora! No começo eu até fiquei brava", diz a dona de casa. Estimu­­lada pela dieta, ela e o marido também voltaram a jogar futebol, outra paixão que têm em comum.
Concessões
Chef de cozinha, Fabiano Mar­­colini agradece à esposa, Alaíde, pela influência que ela exerce no controle dos hábitos alimentares da família. "Como chef existe esse lado bom de você ter um know how sobre a qualidade dos alimentos, mas por outro você engorda pela degustação do dia a dia. Então, eu tenho certeza de que, se não fosse pela Alaíde, eu acabaria consumindo muito mais comida do que devo", reconhece ele, que chegou a pesar 120 quilos e hoje está com 100.
"A gente não se priva o tempo todo das coisas, mas como sou eu quem faz as compras do supermercado, costumo dar preferência para os alimentos mais saudáveis. Fritura em casa não entra", conta Alaíde. Ela também não tem problema em deixar de consumir alimentos que não fariam bem para Fabiano.
"Eu e meus filhos, por exemplo, adoramos foundue de queijo, e no último inverno até pensei em pedir para ele fazer, mas como sabia que ele tinha intolerância a lactose eu deixei pra lá."
Para Marcolini, concessões como essa são provas de amor. "Nunca fico chateado quando minha esposa me diz para evitar certas coisas. É uma demonstração de que o outro te quer bem".
Estar acima do peso pode ser um sintoma de que a relação a dois caiu num marasmo perigoso, diz a psicóloga Cleia Oliveira. Em seu consultório, ela atende diversos casais que têm como única opção de lazer o hábito de sair para comer. "O ganho de peso decorrente disso é sério. Afeta a saúde, a autoestima, e reverbera em áreas delicadas, como a sexualidade do casal."
Mudanças de hábito para a vida toda
Quem está disposto a seguir os exemplos dos casais desta reportagem precisa lembrar de que a saúde e o peso ideal estão relacionados a hábitos permanentes, não a dietas momentâneas. "Ninguém vive de dieta do abacaxi, shakes e sopas. Que faz isso emagrece um pouco, mas sempre tem recaídas. O casal precisa aprender a fazer escolhas alimentares saudáveis. Dessa forma é possível emagrecer comendo bem, com saciedade", diz Mara Cooper, gerente regional do grupo Vigilantes do Peso.
Longe de passar fome, Ângela e Vanderlei Toso co­­me­­moram os resultados que obtiveram por conta de uma reeducação alimentar. "Voltar a caber em certas roupas é a me­­lhor coisa! Eu tinha um calça que estava há dois anos estacionada no guarda-roupa, e agora voltei a usar", diz a dona de casa.
Vanderlei também celebra o fato de voltar a subir escadas com facilidade e destaca ainda a economia que os dois passaram a fazer: "Nós pedíamos lanches quase todos os dias e saíamos mui­­to para comer fora. Agora que preparamos a nossa própria comida, além de nos sentirmos mais dispostos, economizamos uns R$ 400 por semana."
Malhando junto
Orgulho para a indústria das sombrinhas, Curitiba não está entre as cidades mais estimulantes para as práticas esportivas. Diante da instabilidade do clima, ter um parceiro para a prática de atividades "é fundamental", diz Hallan Woicie­­kosvky, professor de educação física e dono da academia Am­­bient’s. "Muita gente falta à academia por causa da chuva ou do frio, mas e se você tem um parceiro que o incentiva a treinar isso ajuda muito."
No caso da estudante de psicologia Chris Sardá, se não fosse o namorado Felipe Jeremias, estudante de direito, ela provavelmente não estaria malhando três vezes por semana. "Eu era sedentária e sempre desistia de fazer academia. Mas graças ao incentivo dele retomei os exercícios e hoje malhamos juntos."
Há um ano e meio, ela também se assustou um pouco com um reflexo indesejado do na­­mo­­ro. "A gente se descuida do pe­­so e eu acabei engordando dez quilos. Aí o Felipe brincava: olha, tá sobrando aqui! Foi por causa dele eu percebi que estava num extremo e, então, fui atrás de tratamentos estéticos e da aca­­demia", diz ela, que hoje voltou ao peso normal, de 60 quilos.
Sem ter problemas com a balança, Felipe confessa que não faz muitas concessões alimentares. "Só evito tomar refrigerante. De resto, eu treino também para poder comer de tudo. Afinal você gasta muita energia", diz ele.
Além da academia, o professor Hallan sugere que os casais explorem outras atividades que possam ser feitas em parceria: "Existem muitas possibilidades, como andar de bicicleta ou fazer dança de salão, que aproxima bem o casal. Há danças que proporcionam um gasto calórico até maior do que ginástica".
Ele também ressalta que os casais precisam analisar friamente se podem fazer atividades juntos ou se é o caso de buscarem horários ou esportes diferentes. Parceiros ciumentos ou muito competitivos costumam ter problemas. "Podem ocorrer brigas e sempre tem aquele que quer superar o outro no esporte, o que aumenta o risco de lesões. É bom frisar também que cada corpo responde diferentemente a um treino. Por isso não dá para um querer perder peso na mesma velocidade do outro."
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