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Corpo a corpo

Melissa Medroni, especial para a Gazeta do Povo
18/04/2013 03:16
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Um dos exercícios do treino funcional, a corda de sisal com uma ponta presa ao teto trabalha a força do bíceps, tríceps e também do antebraço, grande dorsal, peitoral e da região do core – abdominal e musculatura de sustentação da coluna | Leticia Akemi

Com exercícios simples, que usam o corpo como contrapeso, o treinamento funcional promete resultados visíveis em 30 dias para atletas e não atletas. Esta sequência de movimentos descomplicados trabalha vários músculos ao mesmo tempo, utilizando equipamentos que promovem instabilidade a partir da reprodução de ações básicas do dia a dia, como empurrar, puxar, agarrar, girar e lançar.
Total
Emagrecer, desenvolver o controle corporal, melhorar o desempenho atlético e a flexibilidade do corpo. O segredo da multifuncionalidade do treinamento funcional está nos acessórios de desequilíbrio – bolas e discos infláveis, cordas e elásticos – e na forma de utilizá-los. Enquanto nos equipamentos tradicionais de musculação a contração é estimulada pela resistência isolada a pesos reguláveis, no treinamento funcional, onde o próprio corpo do aluno é o contrapeso, mobiliza-se mais de um grupo muscular ao mesmo tempo.
O desequilíbrio experimentado nos exercícios de suspensão ou sobre plataformas instáveis exige a contração da parte central do corpo, de onde vem a força necessária para a execução das atividades, dentro e fora da sala de ginástica. "Valorizamos o fortalecimento da região do ‘core’, onde ficam as musculaturas abdominais e das costas, responsáveis pela sustentação da coluna", explica Alejandro Ormeño, educador físico e instrutor da Mobi Dick Fitness, que se formou na modalidade no México.
O treinamento tem ainda efeito profilático, ao atuar diretamente na melhoria da coordenação motora. Outra vantagem é não sobrecarregar os joelhos e demais articulações. "Com o emprego do corpo como contrapeso, reduzem-se os riscos de lesões, pois a probabilidade de se usar uma carga inapropriada é baixa", explica o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Jomar Souza.
Simples
Os movimentos reproduzem atividades cotidianas, como empurrar um carrinho de supermercado, atirar uma bola, girar para desviar de um obstáculo ou levantar uma criança. "Embora não exista uma organização teórica completa do método, cada componente tem a sua fundamentação separadamente", diz o personal trainer Ivan Pinto Ribeiro.
Os acessórios variam de uma academia para a outra. Podem ser convencionais como cordas, bolas, barras e bancos ou específicos como o TRX, emprestado dos treinos militares, que permite movimentos em suspensão. Outros utensílios são originários da fisioterapia, como os discos para propriocepção – semiesferas infláveis usadas para trabalhar o equilíbrio.
Há ainda peças que são velhas conhecidas dos esportistas, como o kettlebell. A bola de ferro fundida com uma alça era usada em torneios de força na Europa no século 16 e foi muito popular entre os guerreiros russos na era czarina. No circuito funcional, é empregada em exercícios de pêndulo, que fortalecem costas, abdome e pernas.
Universal
Qualquer pessoa sadia pode praticar o treinamento funcional. "O método gera benefícios tanto na qualidade de vida quanto no desempenho desportivo", confirma Rafael Strugale, conselheiro do Conselho Regional de Educação Física do Paraná (CREF9-PR). O que muda são os objetivos de um aluno para o outro.
Com os sedentários, prioriza-se o fortalecimento muscular, enquanto os atletas buscam aperfeiçoar os movimentos na sua modalidade esportiva. As crianças costumam se exercitar para perder peso, por recomendação médica. Nesse caso, os exercícios são lúdicos, como subir em corda, e não há levantamento de peso.
Já na terceira idade, o objetivo é recuperar a capacidade para executar movimentos, perdida com o passar dos anos.
Nas academias, os treinos são geralmente divididos em níveis gradativos de intensidade e todo mundo, em regra, começa no básico, mesmo que esteja em forma. "São exercícios diferentes, então mesmo quem é condicionado sente o impacto no início", avisa Ormeño.
Foi o que aconteceu com o triatleta Adriano Pacher, que treina duas vezes por semana. Ele se prepara para a prova física do concurso de agente penitenciário. Acostumado a nadar, correr e pedalar, saiu com as pernas adormecidas nas primeiras aulas. "É mais forte que qualquer outra atividade", avisa.
Já a aluna Alexsandra Quirino não gosta de musculação, que considera monótona, mas desde que começou a correr – há cerca de um ano – precisa fortalecer o joelho, por isso optou pelo treino funcional três vezes por semana. "Fez muita diferença, tenho mais resistência e força, o que contribui para melhorar os resultados nas provas de rua", diz.
Como funciona
As aulas, de 30, 45 ou 60 minutos, são recomendadas para pessoas de todas as idades. Em algumas academias, são chamadas de treinamento funcional e, em outras, de circuito. São planejadas por um profissional de educação física conforme as necessidades de cada aluno e executadas em atendimentos individuais ou em pequenos grupos. Acontecem com hora marcada ou dentro da grade horária normal da ginástica.
Nos parques
Devido à simplicidade dos movimentos e equipamentos, tem muita gente comprando os aparelhos para praticar os exercícios do treinamento funcional por conta própria, em casa ou ao ar livre – em Curitiba, é comum ver praticantes nos parques da cidade. Os especialistas alertam que pelo menos na fase inicial é indicado procurar a orientação de um profissional para obter os resultados desejados e evitar lesões.