saúde bucal

Entre um gole e outro

Vanessa Fogaça Prateano
18/10/2012 03:12
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Os enófilos profissionais e amadores devem tomar cuidado com os dentes após a ingestão de vinhos. Mesmo que a escovação após as refeições seja fundamental para a saúde bucal, os dentistas recomendam que ela só seja feita 30 minutos depois do último gole.
O alerta vem por causa do efeito corrosivo que o vinho causa nos dentes, removendo o cálcio e o fosfato presentes no esmalte dentário. "Estudos demonstram que a desmineralização mais severa e prejudicial ocorre após dois minutos de exposição à bebida. Como um vinho é normalmente degustado e apreciado por períodos mais prolongados, a ação erosiva é bastante intensa", explica o dentista especialista em estética e membro da American Academy of Esthetic Dentistry Newton Fahl Júnior.
Além de corroer os dentes, o vinho também diminui a salivação, que tem justamente a função de neutralizar a acidez causada por certos alimentos e bebidas. Por isso, é fundamental que quem aprecia a bebida – que comprovadamente traz benefícios à saúde, como a do coração, por exemplo – tome cuidados para preservar os dentes.
Sorriso bonitoConfira a seguir as recomendações do dentista especialista em estética Newton Fahl Júnior para evitar a corrosão do esmalte dos dentes:
Por que escovar os dentes logo após beber vinho é prejudicial?
Durante sua fabricação, o vinho sofre fermentação e produz dois tipos de ácidos: o tartárico e o málico, que têm um PH próximo de 3 (o PH é o índice de acidez de uma substância, que varia de 0 a 14. Quanto menor o índice, maior a acidez). Tais ácidos removem o cálcio e o fosfato presentes no dentes, e, com essa desmineralização, o esmalte dentário se torna mole e poroso. A saliva, que tem a função de neutralizar a acidez e remineralizar os dentes, também diminui durante a ingestão desse tipo de bebida, o que agrava o processo de erosão dos dentes. Por fim, o contato das cerdas da escova e do creme dental com um dente já frágil provoca um efeito abrasivo no local.
Qual vinho é mais ácido – tinto ou branco?
Em relação ao tipo de vinho, o branco causa mais prejuízos aos dentes do que o tinto. De acordo com estudo publicado na revista Research Nutrition, o problema está no PH (índice de acidez) do branco, que é menor do que o do tinto – e quanto menor o índice, maior a acidez. O primeiro tem um PH de 3,3 a 3, e o segundo, entre 3,5 a 3,3. A variação de uma unidade – de 3 para 4, por exemplo – significa uma acidez dez vezes maior ou menor. O local de produção do vinho também interfere – vinhos produzidos em regiões mais frias são mais ácidos do que os que provêm de zonas quentes.
Como minimizar os efeitos da acidez?
Durante a ingestão da bebida, a recomendação é para que a pessoa também coma, pois o ato de comer estimula a salivação.
O hábito de ingerir vinhos com queijo é comprovadamente benéfico, pois esses alimentos elevam o PH da boca. Já a saliva volta a ter seu poder de remineralização restaurado, em média, 30 minutos após a ingestão da bebida. Quem é degustador profissional de vinhos precisa ir um pouco além e procurar um dentista regularmente para a aplicação de vernizes fluoretados ou de resinas compostas nos dentes, evitando a erosão.
Quais outros alimentos e bebidas provocam efeito semelhante nos dentes?
Sucos cítricos, como os de abacaxi, laranja e limão apresentam o mesmo problema, assim como refrigerantes e energéticos.
Há estudos que comprovam que certos medicamentos também geram efeito semelhante, principalmente os que contêm a substância xerostomia, que inibe a produção de saliva.
Por fim, produtos para bochecho que contêm álcool, vendidos em farmácia, com o objetivo de combater a placa bacteriana dos dentes, produzem o mesmo efeito.