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Ioga a 40 graus C

Camille Cardoso, especial para a Gazeta do Povo
18/07/2013 03:10
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Antes de se matricular o ideal é ir a um médico para checar o equilíbrio de sódio no organismo, o mineral que mais se perde pelo suor | André Rodrigues / Gazeta do Povo

Ao longo de uma hora e meia, as 26 posturas clássicas do ioga tornam-se um desafio cada vez maior. O organismo pede água, a respiração fica ofegante e o suor molha as roupas. Na saída da aula, vem a sensação imediata de corpo leve, com energia fluindo. E o choque térmico: o frio de Curitiba traz alívio para quem passa os últimos minutos se exercitando em uma sala mantida a cerca de 40.ºC por aquecedores a gás. Esse é o ambiente do Bikram Yoga (ou hot yoga), vertente da prática indiana disponível em duas escolas no Brasil – uma na capital paranaense e outra no Rio.
A promessa da modalidade é garantir uma maior flexibilidade muscular, proporcionada pelo relaxamento que vem do ambiente aquecido. Mas o grande chamariz é a perda de calorias, até 900 por hora. O método foi desenvolvido por Bikram Choudhury, ou "Mc Yoga", um controverso indiano que se tornou milionário nos Estados Unidos com a disseminação da prática entre estrelas do porte de George Clooney e Jennifer Aniston. E a propaganda boca a boca tem realmente funcionado no caso do hot yoga.
"A sensação no fim da aula é de corpo superleve", conta Aline Dias, estudante de nutrição de 20 anos, ao sair da sua segunda aula em Curitiba. Aline diz que decidiu testar a modalidade para se tornar mais flexível e forte. As cinco primeiras aulas são um teste de resistência – há quem passe longe de completar os exercícios. A ordem é persistir, como fez a designer e fotógrafa Eliana Monteiro Leite, 42 anos, praticante há um ano. "Tinha dores na coluna que sumiram em menos de um mês. Também perdi medidas".
Em Curitiba, as aulas atraem gente dos 20 aos 70 anos. A ordem é que todos se exercitem dentro das suas limitações, mas ninguém pode deixar a sala durante a aula, mesmo que perca o fôlego. A justificativa é impedir que os outros se desconcentrem. A água é liberada, mas atenção: a orientação médica é de que não seja ingerida em excesso. Os alunos levam a sua garrafinha, além de toalhas para o rosto e para cobrir o tapete de ioga.
Não é para qualquer um, dizem os especialistas
Com base em estudos recentes nos EUA, o médico Jomar Souza, da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, afirma que o hot yoga beneficia adultos jovens. "Em crianças e idosos, o sistema de regulação da temperatura corporal não funciona tão bem", diz. As vantagens são maiores no campo vascular. Ele alerta ainda que água ingerida em excesso pode resultar em colapso renal. Portanto, para Souza, vale limitar a apenas uma o número de aulas diárias e procurar antes um médico para checar o equilíbrio de sódio no organismo, o mineral que mais se perde pelo suor.
A psicóloga e doutora em saúde coletiva pela Unicamp, Pamela Siegel, que estuda medicina alternativa, lembra que o relaxamento dos músculos em altas temperaturas pode exigir demais de tendões e ligamentos. "No início dos anos 2000, adeptos norte-americanos começaram a aparecer nos consultórios com rupturas", conta ela. Pamela avalia que o Bikram pode ser útil para melhorar o condicionamento físico, desde que praticado com cautela.
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