editorial

Números e palavras

Adriano Justino, editor - adrianoj@gazetadopovo.com.br
17/04/2014 03:04
É um fenômeno no mínimo curioso: se por um lado a ciência na área da saúde avança de maneira fabulosa – vide o número exponencial de pesquisas e tecnologias de rastreamento, tratamento e intervenção –, por outro lado, e na mesma quantidade, brotam a cada segundo novas promessas de terapias não médicas, dietas e substâncias de frágeis alegações curativas.
Apesar de jamais termos lido e escrito tanto quanto hoje, minimizamos ou subavaliamos o quanto estamos submersos em um mar de números. Organizados, frios e aparentemente verificáveis, esses substratos da ciência nos estimulam a pensar que se pudéssemos acomodar nossa vida em sequências numéricas, nosso corpo estaria assim esquadrinhado, e então alcançaríamos a nossa verdade, ou seja, a desejada cura para nossas doenças e sintomas.
Porém, não somos feitos de números. E além disso: o mito de que eles próprios seguiriam uma lógica infalível e possível de ser determinada não se sustenta: qual é o maior número que você consegue pensar? Qual seria a máxima aproximação e distanciamento de um objeto?
Sim, somos fundamentalmente "feitos" de palavras. Organizadas de um modo singular, amarradas pela nossa história particular, e principalmente por um algo além desse "horizontalismo" desejado por todos e produzido pelo cientificismo.
Quanto mais aprofundamos nosso conhecimento científico em saúde, tanto mais áreas de escape se proliferam, e em outra direção. Pois muitas das nossas buscas são reflexos do necessário desejo de entender tais palavras, das quais números nunca conseguirão dar conta.
Boa leitura!
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