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O novo vilão da infância

Angieli Maros, especial para Gazeta do povo
18/10/2012 03:10
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Está faltando espaço na agenda das crianças modernas. Se antigamente aproveitar a infância não ia muito além do estudo e das brincadeiras, hoje, a situação é diferente. Quando não passam o dia todo na escola, muitas crianças precisam dividir o tempo entre tarefas e reforços escolares, curso de inglês, aula de natação, balé ou karatê, aprender a tocar um ins­trumento musical. Em alguns casos, essa enorme sobrecarga de atividades extras se torna motivo de estresse, o que está longe de ser bom para a evolução do talento da garotada.
Isso pode afetar o desenvolvimento cerebral infantil na medida em que alteraria o crescimento de uma área específica do cérebro, o córtex pré-frontal. Os cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA) acreditam que essa região é uma peça fundamental para a memória de trabalhos espaciais, responsável pela retenção temporária de informação no cérebro.
De acordo com o neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe Antônio Carlos de Farias, o impacto causado pelo estresse compromete o córtex pré-frontal não apenas em crianças, mas também em adultos. "A diferença é que, durante a infância, a região está mais vulnerável porque o cérebro está em processo de maturação", explica.
Durante a realização da pesquisa, crianças que tinham passado por situações estressantes atingiram menos pontos em testes relacionados ao trabalho da memória espacial. Elas tiveram mais dificuldade em realizar atividades de memorização a curto prazo, como encontrar determinado símbolo em uma série de caixas, por exemplo.
Mesmo que a rotina atribulada seja uma situação cada vez mais recorrente, é importante considerar que outras situações, algumas ainda mais graves, como violência sexual, maus-tratos e agressões, também são grandes agentes estressantes.
Além disso, o acúmulo de atividades nem sempre resulta em problemas. É preciso avaliar a capacidade e o temperamento da criança e, a partir daí, ficar atento para não pecar por excesso.
Serviço:
• Antônio Carlos de Farias, Hospital Pequeno Príncipe, (41) 3310-1010. • Graziela Sapienza, PUCPR, (41) 3271-2688. • Mark Reine­cke, Universidade Northwestern (EUA), webmaster@northwestern.edu.