Saúde

Plástica antes dos 18?

Daniel Batistella, especial para a Gazeta do Povo
08/04/2012 03:10
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Com as mudanças físicas, psicológicas, hormonais e comportamentais, a adolescência é a fase da vida em que surgem os primeiros sinais de insatisfação com a própria imagem. E, mal largaram as bonecas e os carrinhos, muitos adolescentes querem retocar o nariz, fazer lipoaspiração e até colocar silicone. Mas determinar os efeitos da plástica em um organismo em desenvolvimento não é tarefa fácil e por isso procedimentos precoces preo­­cupam e são desaconselhados por especialistas. Na realidade, o bom senso deve imperar na hora de indicar a plástica, para uma pessoa com menos de 18 anos.
"Os pais acabam não sabendo dosar o limite dos filhos e as intervenções cirúrgicas são feitas de maneira precoce", alerta a psicóloga Daniele Meifter Ribeiro. Ela avalia que, nessa fase da vida, a procura por intervenções estéticas ocorre devido a problemas de autoestima, quando a pessoa não tem aceitação do próprio corpo.
A especialista acredita que a própria sociedade tem grande responsabilidade na "banalização da cirurgia plástica". "Ela [a sociedade] prioriza a beleza. As pessoas precisam ser bonitas, precisam ter uma boa aparência", salienta.
Além disso, em alguns casos, os pais pressionam para a realização de uma cirurgia por acharem que a criança tem um problema estético, lembra o cirurgião plástico Luiz Henrique Calomeno. "Mas o pedido para a realização da cirurgia tem de vir do paciente. Por mais que os pais achem que a criança deve fazer, às vezes ela convive bem com isso", diz.
Total formação
"O correto é esperar a formação óssea terminar para depois fazer qualquer procedimento. É preciso fazer uma avaliação de crescimento por meio de um raio X no punho e descobrir se ele foi finalizado", orienta o cirurgião plástico e secretário da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) no Paraná Marco Aurélio Lopes Gamborgi. O médico explica que, se achar que uma paciente não deve fazer a cirurgia, ele pode recusar o procedimento. "Se uma menina tem um seio bonito, uma mama proporcional, mesmo que ela queira, eu posso contraindicar a prótese de silicone", garante.
Gamborgi alerta ainda para a grande chance de um resultado indesejado. "Se vem uma menina querendo colocar uma prótese de 400 ml porque uma amiga colocou, mas ela tem 1,60 m e 50 kg e a amiga 1,80 m, o corpo dela não vai comportar o volume da prótese e no pós-operatório vão se formar estrias e flacidez", justifica.
Para a psicóloga Daniele Meifter Ribeiro, ao surgir o desejo de realizar uma cirurgia plástica em um adolescente, pais e filhos devem conversar com um médico para tirar dúvidas, colher informações e saber sobre os malefícios e os benefícios que a operação pode causar. Ela pede também uma avaliação psicológica, para que se entendam os reais motivos dessa cirurgia. "É preciso saber se não é apenas para ser aceito pelo grupo", pondera.
PondereA psicóloga Raphaella Ropelato dá algumas orientações para quem está pensando em realizar uma cirurgia plástica:
• O corpo de um adolescente leva um tempo para ficar proporcional. Por isso, é preciso ter paciência.
• Evite expor adolescentes a procedimentos cirúrgicos para corrigir mínimos defeitos.
• Tenha cautela total quando se tratar de lipoaspiração ou implantes de seios. O médico precisa descobrir quais são as expectativas e se existem muitas fantasias com relação ao procedimento. Se for somente uma correção, tudo bem, mas às vezes a cirurgia é para resolver problemas com as amigas ou com os meninos.
• Nos casos em que a cirurgia não pode ser feita, por causa do desenvolvimento do corpo, um psicólogo deve auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais, de enfrentamento das situações cotidianas.