Suor solidário

A corrida tem fama de ser um esporte solitário, em que cada atleta segue seu ritmo. Mas não é preciso muito para torná-la mais amistosa e comprometida com o outro. Uma maneira é participar de eventos de corrida que promovam a amizade e o espírito de equipe.

"As provas de revezamento têm essa característica, o que deixa as pessoas mais motivadas, já que recebem o apoio dos colegas e, assim, conseguem ultrapassar seus limites", diz o coordenador da V8 Assessoria Esportiva, Murilo Klein. Além de colaborar com o companheiro de equipe, é possível também correr em favor de pessoas que os competidores ainda não conhecem.

É o que vai acontecer no próximo sábado, quando cerca de 1,5 mil atletas vão disputar a maratona noturnade revezamento Corrida do Povo – Revezamento Solidário e levar no peito o incentivo de torcedores especiais: a numeração que cada atleta vai usar durante os 42 km de prova disputada nas pistas do Barigui foi personalizada com desenhos de crianças atendidas por instituições selecionadas pelo Instituto Pró-Cidadania de Curitiba (IPCC).

Isso porque a organização da corrida promovida pela Gazeta do Povo destinou parte do valor das inscrições para a compra de brinquedos para 400 crianças de diversas instituições. "Esperamos incentivar os corredores a terem uma contribuição maior com o mundo; estabelecer um vínculo com o social. Além de resgatar os valores da amizade, não apenas da vitória. Uma prova para reunir os amigos em uma causa, além da atividade física, que é colocar o sorriso no rosto de uma criança", destaca o gerente de Marketing Jornais do GRPCom, Axeu Beluca.

Entre os participantes, mesmo os que vão tentar a vitória ou melhorar suas marcas, o clima de amizade deve prevalecer. "O Parque Barigui é o mais procurado pelos corredores para os treinos, por sua boa estrutura e um circuito plano, que permite bons desempenhos", destaca o professor do Grupo de Corridas da Academia Cia. Athlética, Matheus Henrique Ferraz de Souza. "Dentro do parque, os corredores vão se ver não só no ponto de transição, mas várias vezes durante o percurso, o que é uma boa oportunidade para um animar o outro e até para concorrentes correrem trechos juntos", recomenda Klein.

O Barigui é o ponto de encontro de uma das equipes femininas que vai disputar a categoria em octetos. A estudante Jéssica Meurer, 20 anos, conta que o grupo resolveu se inscrever na Corrida do Povo após completar uma prova mais curta de revezamento.

A decisão estreitou o relacionamento da equipe, que se conheceu por causa da atividade física. "Tem gente que correu maratona e quem está se dedicando para fazer sua segunda prova de 5 km, e nossa meta no revezamento é a diversão. Isso criou um comprometimento maior até com o treino individual de cada uma. Ninguém quer faltar para dar seu melhor ao grupo no dia 20", conta.

Contando com a participação de cada um de seus integrantes, as equipes da Corrida do Povo vão completar a mais clássica das distâncias do atletismo: a maratona, com 42,2 km. O revezamento torna o desafio possível a atletas de todos os níveis de preparo, já que é possível correr 5 km, 10 km ou 21 km.

Mesmo com capacidades diferentes, todos os corredores têm de seguir algumas recomendações para evitar lesões ou riscos à saúde.

A programação de treinos feita com prudência também garante resultados imediatos. "Corro desde os 12 anos, mas há apenas um mês comecei a ter a orientação de um técnico e já consegui baixar meu tempo. Vou disputar a prova em duplas para baixar o meu tempo e quero terminar a meia-maratona [21 km] abaixo de 1h23", diz o estudante Alexandre Luiz Rodrigues Silva, 20 anos.

"Para quem vai começar, o primeiro passo é fazer exames médicos, inclusive os cardiológicos. Então, é a vez da avaliação ortopédica, especialmente de pernas e quadril", destaca o ortopedista Mark Deeke, do Hospital Marcelino Champagnat. Para programar treinos, o coordenador geral da HP Sports, Leandro Hadlich, recomenda a escolha de um profissional formado em Educação Física especializado em corrida.

Mas o principal segredo para transformar um sedentário em um corredor de rua é ter paciência. "Para atingir um condicionamento físico, são pelo menos quatro meses de atividade física no mínimo três vezes na semana, para que só então se comece a pensar em rendimento", lembra Deeke.

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A corrida de rua é uma das poucas modalidades em que é possível que atletas de níveis distintos participem das mesmas provas. Confira os perfis dos corredores que disputarão a Corrida do Povo em duplas, quintetos ou octetos:

O desafio de fazer a meia-maratona na Corrida do Povo atrai dois tipos de corredores: os que vão para baixar tempo e os que fazem da prova um treino de luxo. É o caso de Alexandre Luiz Rodrigues Silva, 20 anos, e do fisioterapeuta Álvaro Lopes Quinta Neto, 34, que formam uma dupla na disputa da prova noturna deste sábado. Enquanto Silva quer vencer seu próprio recorde, aproveitando um circuito já bastante conhecido e sem obstáculos, Quinta Neto usa a competição como teste para dar seu próximo passo: "Em novembro, faço meus primeiros 42 km", conta.

Para esses corredores, lembra a nutricionista esportiva Giovana Leiner, é importante ingerir, durante a prova, carboidratos de rápida absorção. "Eles podem ingerir um [sachê] de carbogel antes da largada e, depois mais um a cada meia hora, para o corpo receber energia de rápido consumo e o rendimento não cair", ensina.

Depois do boom da corrida de rua pelo Brasil, as provas de 10 km tornaram-se as mais comuns por ser uma distância intermediária e que agrada a diversos públicos. São desafiadoras para iniciantes e ainda servem de acúmulo de rodagem para os que pensam em, no futuro, dobrar a distância e entrar em outro patamar de treinamento. "Em média, os atletas a cumprem em um ritmo não muito forte, na casa dos 50 minutos", fala o professor do grupo de corridas da Academia Cia. Athletica, Matheus Henrique Ferraz de Souza.

A farmacêutica Maria Camila Guntowski, 34 anos, corre há oito anos e diz que a vantagem dos 10 km é que há provas dessa distância quase todo fim de semana. "Não é tão curta quanto os 5 km e, como andava sem tempo para treinar, vinha sendo um desafio suficiente", conta.

Ela vai participar da Corrida do Povo com um quarteto misto e, em março de 2013, correrá a Meia-Maratona do Atacama, no deserto chileno.

O começo de tudo tem como principal objetivo a diversão. Para os estreantes, o mais importante é cruzar a linha de chegada e ganhar gosto pelo esporte. Mas vale também investir em estratégia para fazer o melhor tempo. "Corro há oito meses e já fiz outras provas. Minha equipe fez até reunião para definir a ordem das corredoras e treinei à noite, para me habituar ao clima da Corrida do Povo", conta a analista pedagógico Sue Ellen Halmenschlager, de 29 anos, sobre a preparação para correr neste sábado com as colegas do seu grupo de corridas.

Uma das principais recomendações para os iniciantes é a escolha do calçado a ser usado. "Deve-se procurar um par de tênis conforme o tipo de pé [curvo ou plano] e tipo de pisada [para dentro, neutra ou para fora] e com amortecimento especialmente na parte do calcanhar", destaca o ortopedista Mark Deeke.