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Tratamento do Alzheimer para além dos remédios

Amanda Milléo
16/01/2014 02:14
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Aos primeiros sinais de esquecimento, os familiares ficam atentos à sombra da Doença de Alzheimer. Mesmo sem cura e sem poder impedir sua progressão, há hoje várias frentes de batalha, como novos medicamentos e, especialmente, as terapias não farmacológicas. O estímulo ao cérebro através da música, da arte, das fotografias antigas de família e de suplementos nutricionais adia o surgimento de alguns sintomas da doença e melhora não apenas a qualidade de vida do paciente, mas também de quem está ao seu lado.
"As terapias alternativas servem, primeiramente, para manter a qualidade de vida. Depois, melhoram a mobilidade e procuram ajudar a manter o paciente bem, evitando as fraturas comuns aos idosos", explica a mestranda em Neurologia e Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo, Cybelle Diniz. Algumas atividades visam aprimorar a noção espacial e temporal, bem como a relação direita/esquerda dos pacientes. Outro benefício dos não farmacológicos é o incentivo à neuroplasticidade. As intervenções estimulam o cérebro a substituir as células nervosas perdidas e restaurar conexões neurais, fomentando a memória e adiando em até o dobro do tempo sintomas que paralisariam o paciente. "Antes pensávamos que os neurônios não eram aproveitados. Hoje vemos que sim, que há sinapse, que há melhora", comenta a professora neurologista, geriatra e psiquiatra da Universidade Federal Fluminense, Vilma Duarte Camara.
Por meio de conversas e exposição de fotografias, a professora Vilma orienta os pacientes a lembrarem de histórias e a compartilharem aos colegas e familiares. "Tentamos resgatar as funções sociais, melhorando as mudanças de comportamento, os distúrbios do sono, a orientação tempo/espaço que eles perdem com a demência. A memória afetada prejudica a conexão com a fala e os deixam mudos, acaba o diálogo. Os tratamentos ajudam neste sentido", explica.
Adaptação
Com o avanço da doença, as técnicas também devem ser moldadas. No início, a memória não está tão debilitada e exige exercícios mais difíceis. Quando os familiares percebem que a perda de memória é maior e há mudança de comportamento, a reabilitação trabalha com a autoestima, de forma a acalmá-lo, e foca nas necessidades do dia a dia, seja em usar um talher ou em dormir à noite. Apesar dos resultados positivos, especialistas reforçam a necessidade de vincular as técnicas aos medicamentos. "O tratamento combinado é o ideal. Não podemos esquecer os farmacológicos e não farmacológicos.
A demência exige um trabalho em equipe, que atenda tanto o paciente quanto a família", afirma o professor e geriatra da Faculdade Evangélica do Paraná, Rubens de Fraga Junior.
Suplementos
Uma das alternativas mais recentes no mercado é o suplemento nutricional Souvenaid, da Danone, que estimula as sinapses das células cerebrais, contribuindo com a memória. "O composto foi lançado há um ano e meio no Brasil e estamos começando a trabalhar com ele. Já existem pesquisas que mostram o efeito na sinapse principalmente na fase inicial da doença, pois tem um ganho em cognição e qualidade de vida", explica Cybelle, que apresentou as terapias farmacológicas e não farmacológicas no 17º Congresso Brasileiro de Nutrologia. Há estudos relacionando a vitamina D, a B12 e outros compostos naturais com a doença de Alzheimer, mas sem resultados concretos, segundo o professor e geriatra Rubens de Fraga Júnior. "Estes tratamentos não farmacológicos são sintomáticos. Agem nos sintomas e não na doença. Não há nada que paralise a doença", afirma.