bem-estar

Uma pílula de meditação

Angieli Maros, especial para a Gazeta do Povo
18/10/2012 03:24
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Foi-se o tempo em que a meditação era considerada apenas uma forma de encontrar a paz de espírito, e, há muito, a Medicina vem mostrando que esta técnica pode exercer também grande influência na saúde das pessoas. Um programa de meditação de oito semanas, proposto por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA) e publicado na edição deste mês do jornal Brain, Behavior and Immunity, conseguiu reduzir a sensação de solidão em adultos mais velhos. E mais: segundo os cientistas, como estudos anteriores haviam evidenciado que esse sentimento está associado ao aumento na atividade dos genes relacionados à inflamação, eles concluíram que meditar reduz significantemente o desenvolvimento de doenças inflamatórias.
Respaldos científicos como esses – cada vez mais comuns entre pesquisadores da área da saúde – ajudam a esclarecer a contribuição da meditação para o equilíbrio físico e mental dos seres humanos. Segundo a psicóloga da Unidade Intermediária de Crise e Apoio à Vida (Uniica) Mariane Bonato Holz, os processos psíquicos podem mesmo refletir no organismo das pessoas, deixando-as mais vulneráveis a certos tipos de doenças, e aí é que a meditação pode atuar como aliada do bem-estar. "Quando acumulados, os processos psíquicos vão acabar estourando no corpo, muitas vezes causando esses problemas inflamatórios. Tem muitos estudos que também mostram a relação disso com problemas reumatológicos ou com fibromialgia, além de outras doenças, e nisso, a meditação pode ser muito útil."
Segundo a professora de psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Elisa Kozasa, a meditação funciona a partir do momento em que provoca uma resposta de relaxamento e permite que a pessoa aprenda a atingir esse estado, que, de uma maneira simplificada, é benéfico, pois é contrário à resposta de estresse do dia a dia.
Praticante de meditação há um ano e dois meses, a estudante de medicina Flávia Marin sentiu na prática os resultados dessa atividade. A princípio muito ansiosa, ela acredita que depois que começar a meditar, passou a controlar mais as suas reações, que nem sempre eram saudáveis. "Sempre fui muito ansiosa e quando tinha uma discussão falava muito, o que acabava magoando as pessoas. Hoje, não. Eu consigo escutar mais e só falo quando tenho consciência de que não vou magoar ninguém."
O psiquiatra e presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria (SPP), André Rotta Burkiewicz, acrescenta que, biologicamente, a meditação consegue "zerar" o cérebro de uma pessoa a ponto de fazê-la não pensar em nada. "Por isso, ela pode ser usada para controlar a ansiedade de indivíduos com distúrbios sérios, como em um momento de crise de pânico, por exemplo", diz o médico.
Não por menos, especialistas estão apostando cada vez mais no uso dessa técnica milenar como uma aliada a tratamentos clínicos. De acordo com Elisa, diversos hospitais e clínicas – principalmente nos Estados Unidos e em países europeus – usam a meditação como parte do tratamento de pacientes ou até mesmo como a única forma de terapia. No Brasil, o Ministério da Saúde criou em 2006 a Política Nacional de Práticas Integrativas em Saúde, que apoia a implementação da meditação e outras práticas complementares em saúde pelo Sistema Único de Saúde.
Mesmo carregado de importância, o ato de meditar precisa ser muito bem orientado para que a pessoa atinja seus objetivos. E isso vai muito além da típica imagem dos monges budistas que estamos acostumados a ver. "A ideia que as pessoas têm é que meditar é sentar, respirar e se concentrar, mas não é bem assim. É preciso ter várias técnicas anteriores que possam facilitar a meditação para não saturar a mente. Daí, sim, a meditação passa a fazer sentido", diz Flávia.
Serviço
André Rotta Burkiewicz, Sociedade Paranaense de Psiquiatria, (41) 3342-8809. Elisa Kozasa, Universidade Federal de São Paulo, (11) 5576-4000.
Mariane Bonato Holz, Unidade Intermediária de Crise e Apoio à Vida, (41) 3271-5855.