Saúde

Viva bem a terceira idade

Annalice Del Vecchio, especial para a Gazeta do Povo
10/11/2013 02:04
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De bem com a vida: Vó “eclética”. É assim que os netos apelidaram Odete Zagonel Blitzkow, 75 anos. A intenção era dizer “atlética” ao vê-la, boquiabertos, pulando corda. Depois disso, eles passaram a exigir sua participação em todas as brincadeiras. “Acham que eu tenho a idade deles”, diverte-se. E disposição é o que não falta a esta professora aposentada que jogava vôlei na juventude, mas parou de fazer atividades físicas quando, ao se casar, viveu um período em Brasília, onde teve os filhos. “Lá não havia quem me ajudasse a cuidar das crianças.” Com todos crescidos, voltou a se exercitar e, lá pelos 50 anos, matriculou-se na ginástica, aconselhada pelo médico, como forma de combater dores de coluna e no nervo ciático. “Desde então, nunca mais senti nada, nem mesmo uma dor de cabeça.” Para se manter tão capaz e “altiva” em seus saltos, capricha nas caminhadas na esteira, na musculação e no alongamento três vezes por semana na Academia Athletica, na capital. Atribui o fato de não sentir dores nos joelhos ou nas costas, comuns entre as pessoas desta idade, aos exercícios prescritos como parte de um programa da academia que oferece atendimento personalizado, de acordo com as limitações e necessidades de cada aluno. | Aniele Nascimento / Gazeta do Povo

Usar salto alto. Viajar. Pintar a casa. Dirigir. Pular corda. Carregar sacolas. Ler e escrever. É difícil imaginar que ações tão banais possam se tornar privilégios com a chegada da velhice. Não para muitos idosos que decidiram incorporar a atividade física às suas rotinas como uma fórmula para se manter tão ou ainda mais ativos do que eram antes. Eles sabem que o sedentarismo é o principal inimigo das pessoas com mais de 60 anos.
"Um jovem que deixe de praticar atividades físicas por um tempo não sofrerá tanto as consequências disso quanto o idoso, que tem perda de massa muscular acelerada. Nesta fase, o exercício não é só profilático, mas terapêutico", explica a médica geriatra Débora Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria – Seção Paraná.
Está comprovado que o chamado "envelhecimento ativo" contribui para manter sob controle alguns ônus da longevidade como a perda de força e de massa muscular, diminuição da flexibilidade e da velocidade da marcha, alterações cardiovasculares, de imunidade e endócrinas. Mexer-se não só previne doenças como pode ajudar a tratá-las. "O exercício físico faz parte do tratamento de doenças como a obesidade, a osteoporose, o diabetes e a hipertensão arterial e diminui a mortalidade de modo geral ao reduzir, por exemplo, os riscos de infarto e derrame", explica a médica geriatra.
Idosos que praticam uma atividade física têm ganhos significativos em qualidade de vida e bem-estar. "O exercício contribui para que o idoso possa manter sua independência, além de promover a interação social, dar-lhe mais ânimo, prevenindo ou ajudando a combater a depressão", diz Débora.
A médica geriatra recomenda àqueles que desejam começar uma atividade física que passem por uma avaliação médica para verificar seu estado de saúde, identificar doenças não manifestas e até ser aconselhado sobre que modalidade esportiva escolher. "A indicação vai depender do condicionamento físico, da aptidão cardiovascular, das doenças e, claro, das preferências de cada pessoa", observa a médica geriatra.
Atividades
Os exercícios mais recomendados nesta faixa etária são aqueles de força como a musculação, o pilates e mesmo a hidroterapia, pois contribuem para a reversão da perda de massa muscular. Práticas que trabalham o equilíbrio como o yoga e a dança ajudam a diminuir os riscos de quedas. Algumas academias oferecem ainda atividades que ajudam o idoso a não perder habilidades indispensáveis ao dia a dia como agachar para amarrar os sapatos, pentear os cabelos ou mesmo se levantar sozinho após uma queda. "O objetivo agora não é ter músculos, como o jovem, mas fortalecer o corpo para se manter realizando os exercícios diários. Nesse sentido, as atividades funcionais são excelentes", considera Débora.
A Academia Gustavo Borges Mercês, por exemplo, oferece ginástica funcional adaptada ao público formado, em sua maioria, por mulheres entre 40 e 80 anos. "Elas também vêm para fazer amizade, sociabilizar, quer dizer, a atividade física também é saúde mental", explica a professora de Educação Física Renata Arlant.
Quando a aposentadoria, não raro, implica a perda de um papel social, é necessário buscar atividades prazerosas. "O idoso tem que ser ativo, se sentir capaz", afirma a médica geriatra.
Infelizmente a maioria da população idosa no Brasil não pratica nenhuma atividade física por diversos motivos. "Mesmo com diversos programas oferecidos à população em locais como academias, igrejas, postos de saúde, o Sesc, o idoso não vai porque a família não pode levar, não quer ou não pode ir sozinho. Há também a barreira social, ou seja, ele pensa ‘eu nunca fiz exercícios, não vai ser agora que vou fazer’", conta Débora.
Para aqueles que ultrapassam essa barreira, a terceira idade pode significar a estreia na vida esportiva. "Pessoas que sempre foram sedentárias podem, sim, se tornar ativas", diz o professor de Educação Física da Companhia Athletica, Luiz Otávio Coimbra. "Para isso, devem estabelecer uma rotina de exercícios que respeitem suas necessidades, condições físicas e limitações. Lembrando que os benefícios não são imediatos, mas serão adquiridos durante a prática", completa o profissional.
Idosos ativos
Serviço
• Academia Bella Vida. Rua Prof. Nilo Brandão, 454, São Lourenço, (41) 3354-3802.
• Academia Athletica. Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 600, Mossunguê, (41) 3241-5000.
• Academia Gustavo Borges Mercês. Rua Antônio Grade, 563, (41) 3015-2333.
• Unidade de Atenção ao Idoso Ouvidor Pardinho. Rua 24 de Maio, s/n, Praça Ouvidor Pardinho, (41) 3321-2725.
• Fernanda Mariano – Fisioterapia Traumato-Ortopédica/RPG. Rua Reinaldino S. de Quadros, 87, Alto da XV, (41) 4102-8380/9976-4366.