Saúde e Bem-Estar

Stephanie D’Ornelas, especial para a Gazeta do Povo

Confira os indicadores que revelam se você está em pré-diabetes

Stephanie D’Ornelas, especial para a Gazeta do Povo
22/03/2019 08:00
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Entre os sinais de descompensação do diabete estão tontura, dores no peito e nas pernas. Dois dos sintomas apareciam em 52% dos entrevistados. Foto: Bigstock.

O corpo dá um sinal de alerta antes de desenvolver o diabetes tipo 2. Trata-se do pré-diabetes, condição que é originada quando o nível de glicose no sangue está além do padrão saudável, mas ainda não está elevado o suficiente para caracterizar o diabetes.

“Diabetes tipo 2 e pré-diabetes são na verdade a mesma doença, mas em estágios diferentes. Como o nome sugere, o pré-diabetes é uma fase mais inicial daquilo que, se a gente deixar progredir, vai virar o diabetes tipo 2”, explica José Carlos Stumpf Souto, médico e presidente da Associação Brasileira LowCarb (ABLC).

Diferentemente do diabetes tipo 1, em que o pâncreas não produz nenhuma insulina, no pré-diabetes e do diabetes tipo 2 o corpo produz insulina de maneira insuficiente ou se torna incapaz de usar este hormônio de forma eficiente — situação conhecida como resistência à insulina.
Alimentos que elevam a glicose no sangue produzem uma ascensão muito maior em diabéticos e pré-diabéticos em relação a indivíduos saudáveis.
Restrições

“Os alimentos que elevam a glicose são os carboidratos. Carboidratos são açúcares e amidos. Então qualquer alimento que seja composto por açúcar ou de amido deveria ser evitado por pessoas que são pré-diabéticas ou diabéticas do tipo 2”, expõe Souto, que é uma das principais referências do país quando o assunto é dietas baixas em carboidratos.

Entre os principais cuidados que devem ser tomados em relação à alimentação, o pré-diabético deve manter uma alimentação rica em fibras, com porções controladas de frutas, verduras e legumes, diz Daniele Tokars Zaninelli, médica especialista em endocrinologia e metabologia.
Além disso, deve evitar frituras e controlar o consumo de gorduras, preferindo carnes magras, assim como leite e derivados com baixo teor de gordura. “Essa dieta ajuda a manter um peso saudável, que é a principal medida para prevenção do diabetes e pré-diabetes“, diz. Se houver consumo de carboidratos, Zaninelli recomenda as opções integrais — ainda assim de maneira moderada.
“Os integrais são mais ricos em fibras e isso retarda a absorção da glicose. O carboidrato é absorvido na quantidade total, mas de uma forma mais lenta, o que evita os picos de hiperglicemia”, explica. A médica especialista em endocrinologia e metabologia acrescenta que a fonte primária de hidratação deve ser a água, evitando o consumo de sucos e refrigerantes adoçados.
Evolução da doença
O pré-diabetes se instala de maneira silenciosa, pois não apresenta sintomas específicos. “Os sintomas da glicemia elevada só costumam aparecer quando seus níveis estão bastante alterados, momento em que o diabetes já está presente. Entretanto, 10% dos portadores de pré-diabetes podem desenvolver complicações típicas do diabetes tipo 2, como retinopatia ou nefropatia, que apresenta sintomas como perda visual e alteração de sensibilidade nos pés. Também existe aumento no risco de desenvolver problemas como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral”, diz Zaninelli.

O pré-diabetes pode evoluir por três caminhos. O primeiro é quando a condição permanece por toda a vida, sem se tornar diabetes. O segundo cenário, mais grave, é quando o pré-diabetes progride para o diabetes tipo 2 — segundo Zaninelli, as chances disso acontecer podem ser de até 70%.

Porém, não há um prazo definido para a evolução do pré-diabetes para o diabetes, diz Vicente Florentino Castaldo Andrade, endocrinologista e médico responsável pelo ambulatório geral de Endocrinologia e Metabologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“Isso varia muito de pessoa para pessoa, influenciado por vários fatores, como genéticos, além de fatores ambientais, que incluem hábitos alimentares, grau de sobrepeso, obesidade e sedentarismo”, afirma.
Reversão do quadro
O terceiro caminho possível é a reversão do pré-diabetes, e quanto antes o paciente adotar um novo estilo de vida, maiores serão suas chances de ser bem-sucedido. A principal, além da alimentação sadia, é manter um peso saudável e praticar exercícios físicos com regularidade.

“Dietas mais pobres em carboidratos e mais ricas em proteínas são comprovadamente capazes de reverter quadros de pré-diabetes. Outro cuidado é manter algum tipo de atividade física, o que ajuda a regular os níveis de glicose no sangue. Existem estudos publicados mostrando que estratégias que produzam um emagrecimento significativo, especialmente a perda de gordura visceral, de gordura na região do abdome, no fígado e ao redor dos órgãos, são capazes de reverter quadros de pré-diabetes”, aponta Souto.

Zaninelli dá uma sugestão para quem quer deixar o sedentarismo de lado, mas não consegue ou não gosta de academia. “O paciente pode ao menos tentar se movimentar mais ao longo do dia. Uma dica é contar os passos com aplicativos de celular, por exemplo, procurando caminhar no mínimo 6 mil passos por dia”, indica a endocrinologista.

Pesquisa indica possibilidade de remissão do diabetes tipo 2

Em 2017, um estudo das Universidades de Newcastle e Glasgow, financiado pela instituição de pesquisa Diabetes UK, demonstrou que uma dieta de baixa caloria que resulta em perda de peso de pelo menos 15 kg, diminuindo a gordura do fígado e pâncreas, pode reverter até mesmo o diabetes tipo 2, mesmo seis anos depois de adquirida a doença.
Nove em cada dez pessoas que participaram da pesquisa e que perderam o peso de maneira saudável colocaram o diabetes tipo 2 em remissão. “A remissão da doença não significa que a pessoa possa voltar a comer aquilo que a deixou diabética em primeiro lugar, quer dizer, uma dieta de alimentos processados ou ultraprocessados, especialmente açúcar e farinha”, diz Souto.
“A gente não chega a falar em cura do diabetes, mas em remissão, que significa que as características, os sintomas e os exames laboratoriais que caracterizam o diabetes estão ausentes, desde que a pessoa mantenha uma dieta de baixo carboidrato”, conta o médico.
De acordo com ele, o motivo pelo qual nem todos os pacientes, quando progridem para o diabetes, conseguem entrar em remissão, tem a ver com o fato de que o pâncreas, depois de um período prolongado de doença e exposto a níveis muito elevados de glicose, vai perdendo a capacidade de produzir insulina.

“As chamadas células betas, no pâncreas, são responsáveis pela produção de insulina. Elas tendem a morrer com o passar do tempo quando são expostas cronicamente a níveis elevados de glicose. Então é bem mais fácil reverter um quadro de pré-diabetes do que um quadro de diabetes. E é bem mais fácil reverter um quadro de diabetes recente do que um quadro de diabetes antigo, que já tenha muitos anos de duração e um controle glicêmico ruim”, informa o especialista.

Fatores de risco

Os fatores de risco para o desenvolvimento do pré-diabetes são os mesmos do diabetes. Devem ficar mais atentos aqueles que se enquadram nos seguintes grupos:
  • Idade superior a 45 anos;
  • sobrepeso ou obesidade;
  • pais ou irmãos com diabetes tipo 2;
  • sedentarismo;
  • mulheres com síndrome dos ovários policísticos;
  • mulheres diagnosticadas com diabetes gestacional ou com filhos nascidos com mais de 4 Kg;
  • portadores de hipertensão arterial ou colesterol elevado.

De olho no exame

Três exames podem revelar se a pessoa é portadora ou não de diabetes ou pré-diabetes. Confira, abaixo, o significado do resultado de cada um deles, segundo Daniele Tokars Zaninelli, médica especialista em Endocrinologia e Metabologia.
Sinal verde: nível glicêmico normal
Glicemia em jejum: até 99 mg/dL
Hemoglobina glicada: abaixo de 5,7%
Teste oral de tolerância à glicose: abaixo de 140 mg/dL
Sinal amarelo: pré-diabetes
Glicemia em jejum: entre 100 e 125 mg/dL
Hemoglobina glicada: entre 5,7% e 6,4%
Teste oral de tolerância à glicose: entre 140 e 199 mg/dL
Sinal vermelho: diabetes
Glicemia em jejum: igual ou superior a 126 mg/dL (exame deve ser repetido para confirmação)
Hemoglobina glicada: igual ou superior a 6,5%
Teste oral de tolerância à glicose: igual ou superior a 200 mg/dL
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