Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Cortei o açúcar totalmente da dieta e sobrevivi!

Amanda Milléo
11/10/2016 17:00
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Marcela substituiu o açúcar por frutas. Ao invés do brigadeiro, ela se joga no pêssego, na maçã e se sente muito mais feliz e satisfeita hoje (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo) | André Rodrigues

Se existe um alimento da dieta que é totalmente dispensável, é o açúcar. Embora considerado uma ‘caloria vazia’, que não agrega nenhum nutriente à alimentação, abandonar de vez a sobremesa açucarada ou o refrigerante adoçado não é simples, e poucas pessoas conseguem. Mas algumas sim! Com substitutos mais saudáveis, é possível ter uma vida longe do doce de leite, do leite condensado, do chocolate ao leite, do brigadeiro, do pudim, do bolo recheado, da torta doce… você entendeu não é?
Quando percebeu que não poderia mais comer todas essas tentações, Marcela Palumbo Souza Rolim, de 35 anos, não se desesperou. O motivador era a sua saúde. “Eu ia passar por uma cirurgia e precisei fazer os exames que indicaram o colesterol muito alto. Não era um impeditivo para a cirurgia, mas como estava muito alto, tanto o colesterol ‘bom’, quanto o ‘ruim’, eu resolvi mudar a alimentação”, relata a jornalista.
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Até então, Marcela não era ‘enjoada’, comia de tudo: todos os alimentos saudáveis e os nada saudáveis também. Leite condensado? Virava a caixinha sozinha. O lado positivo é que ela sempre foi adepta dos exercícios físicos, e alguns alimentos estavam longe da sua cozinha há anos, como refrigerantes e sorvetes. Para evitar sentir tanta vontade por doces, ela trocou pelos salgados – empadões, coxinhas, salgadinhos, o que não ajudou em nada no peso, mas aos poucos foi aprendendo a equilibrar. Para ela, a pior parte do processo de abandono dos doces foi o início.
“Eu parei duas vezes. A primeira quando era uma promessa e a segunda por causa da saúde. Nessa segunda vez foi mais fácil, mas ainda tinha muita sensação de abstinência. A minha impressão era que eu passava 48 horas acordada. Eu dormia às 23 horas, acordava à 1 hora da madrugada, e não dormia mais. Não sei se era um efeito colateral da falta de açúcar. Era tipo uma insônia, eu não levantava, mas ficava de olho aberto. Podia levantar, trabalhar, ver filme, era uma agitação, mas me sentia ótima. No dia seguinte, passava o dia todo cansada”, diz Marcela, que está há mais de um ano sem abusar do açúcar.
A sensação de abstinência é um dos relatos mais conhecidos dos pesquisadores, porque o açúcar, comprovadamente, pode viciar. Em uma pesquisa de 2011 da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, ratos de laboratório provaram que comer muito açúcar modifica o comportamento, além de causar no cérebro mudanças similares aos efeitos do abuso de drogas.
Porém, esses efeitos da ‘abstinência’ passam a partir da segunda semana. “Nos primeiros dias, a pessoa vai sofrer muito mais do que sentir qualquer benefício do corte do açúcar, isso devido ao desejo. Em 10 dias, esse desejo reduz bastante e então ela percebe os benefícios. Ela vai para a academia e a falta do açúcar refinado facilita a lipólise, ou a quebra da gordura, especialmente na região abdominal. Quando as pessoas percebem isso, ficam felizes e são estimuladas a continuar”, explica Magda Rosa Ramos da Cruz, professora de Nutrição da PUCPR e coordenadora da pós-graduação em Nutrição Clínica e Funcional e Fitoterapia.
(Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)
(Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)

Como reduzo esse desejo?

Procure por substitutos mais saudáveis. Ao invés do brigadeiro, habitue-se a comer uma fruta, que também é doce, mas não tão calórica quanto a sobremesa açucarada. Se a vontade for por um chocolate, tenha em mãos um chocolate amargo – com concentração de cacau, pelo menos, 70%.
“Escolher alimentos com menos açúcar é o primeiro passo. Substituir as sobremesas por frutas, escolher geleias que não sejam diets, nem tenham adoçantes, mas que sejam adoçadas com sucos de frutas. Além de ser doce, não contém açúcar adicionado”, sugere Marcella Garcez Duarte, médica nutróloga, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia.
Para Santina Pilonetto Oliveira, de 55 anos, o que ajudou no processo de cortar o açúcar e os produtos industrializados foi substituir hábitos. Quando sentia vontade, tomava chá de hibisco. “Você gira igual uma barata tonta, sem saber bem o que fazer sem o açúcar, mas o chá de hibisco me ajudou muito para cortar a vontade por doces. Eu tomava todos os dias”, diz a aposentada, que recentemente perdeu 14 kg com exercícios físicos e mudança na alimentação.
Santina não se intimidou com o açúcar, e quando sentia vontade de doces, tomava chá de hibisco. Além de perder 14 kg em uma competição de academia, ela diz se sentir melhor agora (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)
Santina não se intimidou com o açúcar, e quando sentia vontade de doces, tomava chá de hibisco. Além de perder 14 kg em uma competição de academia, ela diz se sentir melhor agora (Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)

Mas meu corpo não precisa de açúcar?

O que o organismo, na verdade, precisa é de energia. Existem muitas fontes que garantem essa energia associadas a outros nutrientes. Fontes de carboidratos, como pães e massas, frutas e mesmo fontes de proteínas conseguem dar a energia que o corpo precisa, sem recorrer aos doces.
O açúcar refinado, aquele usado para adoçar o café, chá e fazer bolo, é considerado uma ‘caloria vazia’ porque não está atrelado a outros nutrientes, como vitaminas e minerais. A única agregação que ele fará será no diâmetro do abdômen e na sensação de bem estar.
“O efeito que mais pesa da falta de açúcar é o aspecto psicológico e social. O brigadeiro não é apenas um brigadeiro, mas é aquele que a avó fazia na infância, é o desejo, a vontade. É muito difícil excluir totalmente os doces e por isso orientamos o equilíbrio, para que se mantenha o efeito psicológico. Da mesma forma, a pessoa vai a festas de aniversário onde vão oferecer o doce, e esse é o aspecto social”, explica Magda da Cruz, professora de nutrição.

Abandono de vez ou só diminuo o açúcar?

Para algumas pessoas pode ser mais difícil reduzir o açúcar do que tirá-lo completamente da dieta. Isso porque o pouco que a pessoa prova gera vontade de comer mais, e ela se sente incapaz de reduzir o consumo. Teste sua vontade! Veja se comer doce duas a três vezes na semana é suficiente para você, ou se isso gera mais vontade, e não se preocupe com as recaídas.
“Quase sempre a pessoa vai ter recaídas. Quando se trata de um atleta, ele lida melhor com isso, retira todo o açúcar mesmo. Mas, quem não precisa desse tipo de rendimento do corpo, essas pessoas terão recaídas e isso é normal, porque você não consegue excluir socialmente. Mantendo um padrão de 2 a 3 vezes na semana, porém, já traz um benefício grande para a saúde”, diz a professora.
Atenção! Se você for o tipo de pessoa que passa mal se não comer nenhum doce, isso pode indicar um quadro de pré-diabetes, de acordo com a nutróloga Marcella Duarte. “Quando a pessoa diz que precisa comer uma colher de açúcar, caso contrário tem uma sensação de desmaio, e se ela não estiver em jejum, isso pode mostrar uma alteração do metabolismo dos açúcares, ou mesmo um diabetes não diagnosticado”, alerta. 
(Foto: VisualHunt)
(Foto: VisualHunt)

Benefícios extras

Além da redução na gordura abdominal, a diminuição dos açúcares refinados no organismo traz outros benefícios para a saúde. Confira!
– Previne doenças do envelhecimento
– Previne a obesidade
– Previne a hipertensão ou pressão alta
– Reduz a dislipidemia ou o aumento do colesterol
– Diminuição do risco de um evento cardíaco
– Diminuição do risco de desenvolver diabetes tipo 2