Saúde e Bem-Estar

Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo

Três etapas que ajudam no desfralde das crianças com transtorno do espectro autista

Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo
11/11/2018 07:00
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Cena comum no universo infantil: roupas e meias molhadas, varais sempre cheios e uma boa dose de paciência para limpar o chão e o sofá algumas vezes por dia. Esse é o desfralde, que exige dedicação dos pais. O processo fica ainda mais complexo quando envolve crianças autistas.

“O ideal é fazer em torno dos três anos. Quanto mais tempo passa, mais difícil fica, pois a criança se acostumará com o padrão de usar fralda e poderá se sentir insegura sem ela”, explica Luciene Vianna, diretora do Conviver Centro de Autismo.

A retirada da fralda para crianças autistas segue três etapas: “observação dos hábitos e preenchimento de uma tabela de horários de ida ao banheiro, análise da tabela e organização do plano de ação”, orienta a terapeuta ocupacional Syomara Smidiziuk, do Centro de Excelência em Recuperação Neurológica (CERNE).
Dicas práticas para o plano de ação envolvem a antecipação (levar ao banheiro dez minutos antes do horário marcado); proporcionar a familiaridade com o banheiro que será utilizado; apoiar os pés, usando um banquinho ou adaptadores; sentar a criança ereta e deixar que ela escolha a melhor posição; e estimular a bexiga com massagem, se necessário.

“Não use o banheiro como uma brincadeira, não pergunte se ela quer ir, apenas conduza e, para crianças com dificuldade de comunicação, como autistas, use gestos, sinais ou fotos”, ensina Syomara.

Outra sugestão é adotar uma recompensa exclusiva para a ida ao banheiro.
A educadora Luciene ressalta também a importância da persistência: “uma vez iniciado o desfralde, não volte atrás, para não desgastar a criança, criando mais resistência”. Por esse motivo, todos devem estar preparados para o desafio. “Quando a criança adquire o controle da bexiga e do intestino, ela passa a ser mais autoperceptiva e consegue controlar também de forma mais adequada suas emoções e a atenção, dominando melhor o ambiente”, comenta.

Preparação e desafios

As principais dificuldades enfrentadas pelas crianças autistas no desfralde envolvem quatro áreas, segundo Syomara: linguagem (entender o estímulo do adulto relacionado à ida ao banheiro); vestuário (demora ou incapacidade de retirar as roupas); o próprio medo de se sentar no vaso ou do barulho da descarga; e o conhecimento do corpo.  Um trabalho de preparação prévio também é muito importante. A psicóloga do Espaço Comunicar, Manuela Gloemba, orienta: “devemos preparar as crianças, conversar, demonstrar o que vai acontecer, não associar nenhum medo ao banheiro, cuidar com barulhos altos e prestar atenção inclusive na temperatura do vaso, para não criar nenhum trauma”.
O uso de elementos visuais é muito positivo nessa preparação e pode ser em formato de desenhos, fotos ou até mesmo com jogos e pequenas historinhas no tablet. “Criar familiaridade com o assunto e exemplificar o passo a passo do processo é fundamental. Além do desfralde, essa técnica pode ser usada também no aprendizado de outras responsabilidades, como escovar os dentes, vestir a roupa, pentear o cabelo, tomar banho… tudo pode ser apresentado previamente, para ajudar no entendimento e assimilação do processo”, conclui Syomara.
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