Saúde e Bem-Estar

Camila Kosachenco, da RBS

As doenças oportunistas que atacam quando você está cansado, estressado e com calor

Camila Kosachenco, da RBS
06/02/2019 07:00
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Dentre os fatores externos ao organismo, o tempo é um dos maiores influenciadores da imunidade. Temperaturas extremas, muito calor ou muito frio, podem interferir nas barreiras de defesa do corpo. Foto: Bigstock

É clichê, mas a melhor forma de definir o sistema imunológico é pensar em um exército trabalhando em defesa do nosso organismo. Como em qualquer batalha, muitas vezes essa tropa sofre uma baixa, abrindo as portas para o ataque de inimigos. Em outras palavras: embora nossa imunidade tenha o importante papel de barrar a entrada de organismos nocivos à saúde, fatores internos e externos ao corpo podem desequilibrar essa balança, favorecendo o surgimento de doenças que, justamente por se aproveitarem desse desequilíbrio, são conhecidas como oportunistas – herpes e candidíase são as mais comuns entre elas.
Tecnicamente, a imunidade é composta por um conjunto de células que nos mantém vivos, protegendo-nos contra ameaças externas, como microorganismos, por exemplo. Outra função importante desse sistema é combater células anormais produzidas pelo próprio corpo. Mas é preciso salientar diferenças em relação a essa proteção.
“Quando falamos de sistema imunológico, abrem-se dois caminhos: tem horas em que ele está muito ruim, e conseguimos medir isso com exames. Ou quando há uma deficiência imunológica, que chamamos de imunodeficiência. Ela pode ser primária, ou seja, genética, ou secundária, da qual a mais conhecida é o HIV, que é um vírus que ataca nossas defesas. Essas doenças fazem com que a gente fique suscetível às doenças oportunistas”, explica a imunologista Ana Paula Moschione Castro, da Clínica Croce.
Assim como outros sistemas, o imunológico não nasce pronto. Ele se desenvolve no decorrer da vida e se torna “adulto” por volta dos 10 ou 12 anos de idade. Isso explica por que as crianças são tão expostas a infecções. “Algumas vão amadurecer mais cedo. Outras, mais tarde. Sabemos que o contato com a natureza ajuda nesse processo, enquanto muita proximidade com infecções na escolinha ou convivência com fumantes, por exemplo, atrapalha”, observa a especialista.
Com energia suficiente para encarar décadas de “guerras”, com o passar do tempo, nosso exército imunológico começa a perder força. Com 50 anos de idade, inicia-se um processo chamado de imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema imunológico. Dessa forma, o indivíduo se torna mais propenso a infecções, doenças autoimunes e até câncer. Nessa fase, cresce a importância dos cuidados com vacinação e alimentação, principalmente. 
Embora não haja uma receita para deixar a imunidade alta, o trunfo para manter as tropas em estado de alerta é apostar no consumo saudável de alimentos, especialmente vegetais e legumes crus, capazes de suprir as necessidades vitamínicas do corpo. Ter uma exposição solar adequada também é recomendado, pois a vitamina D está amplamente associada a esse sistema.

Tempo impacta na defesa do organismo

Dentre os fatores externos ao organismo, o tempo é um dos maiores influenciadores da imunidade. Temperaturas extremas, muito calor ou muito frio, podem interferir nas barreiras de defesa do corpo, afirma Ana Paula Moschione Castro, médica imunologista.

É por isso que o verão muitas vezes é o vilão – esta época do ano é propícia para o aparecimento de algumas doenças oportunistas. A exposição demasiada à fumaça também pode afetar o sistema.

Outros aspectos que podem impactar no bom rendimento desse exército que nos protege são o déficit nutricional – carência de vitamina D, ferro, selênio e zinco -, o uso prolongado de medicamentos, como corticosteroides e até mesmo o exercício em demasia.
“Ainda que controlada, essa constante superação de limites pode trazer efeitos adversos”, lembra a imunologista. O que também afeta, e muito, nossas defesas é o estresse. Como ele muda o funcionamento do nosso organismo, acaba deixando brechas para o aparecimento de doenças oportunistas.

Imunidade alta

Em pessoas saudáveis, ou seja, sem nenhuma imunodeficiência, o fundamental é garantir as horas de sono necessárias (que variam de pessoa a pessoa), cuidar da alimentação – incluir muitos vegetais crus -, ter uma exposição controlada ao sol e não fumar.
Já aqueles indivíduos que têm alguma deficiência imunológica precisam, necessariamente, fazer uso de tratamentos específicos para manter as defesas equilibradas.

Doenças oportunistas mais comuns

As consideradas “clássicas” por especialistas são herpes, herpes-zóster e candidíase. Conheça um pouco mais dessas infecções e saiba como preveni-las.
CANDIDÍASE
Trata-se de uma infecção causada pelo fungo Candida albicans, que está presente na pele, nas mucosas bucais e vaginais. Boa parte da população está colonizada por esse microrganismo, o que não é sinônimo de infecção.
“Trata-se de um micro-organismo oportunista que existe no nosso corpo. Quando aparece? Quando há fraqueza do sistema imunológico”, diz o ginecologista oncológico Desidério Fulber, do Hospital Fêmina.
De acordo com o especialista, qualquer mudança no pH da vagina ou alteração na flora intestinal pode acarretar na multiplicação do fungo, provocando os sintomas, que são, geralmente, coceira intensa, edema e vermelhidão na vulva e secreção branca e espessa.
Esse problema, chamado de vulvovaginite micótica, atinge cerca de 75% das mulheres, segundo o ginecologista.
Algumas dicas podem ajudar a amenizar os sintomas e deixar o corpo mais bem preparado para o período de oscilação. Foto: Bigstock
Algumas dicas podem ajudar a amenizar os sintomas e deixar o corpo mais bem preparado para o período de oscilação. Foto: Bigstock
Dentre os fatores de risco da candidíase estão o diabetes, o uso de antibióticos por muito tempo – eles alteram a flora bacteriana normal -, a gestação e o uso de quimioterápicos.
O tratamento é à base de cuidados básicos de higiene, antifúngico via oral, creme vaginal e banhos de assento.
HERPES-ZÓSTER
Popularmente conhecido como cobreiro, o herpes-zóster é a manifestação do vírus da varicela, ou catapora, que permanece dormente no organismo desde a infância (entre quem desenvolveu a doença). Inativo por muitos anos, o vírus permanece alojado nas células nervosas da espinha e da cabeça.
“Se fizer exames de sangue, a maioria das pessoas recebe o resultado positivo para herpes. Mas grande parte não vai se manifestar ao longo da vida. Em menor número, ela aparece em algum momento”, comenta o oftalmologista Otávio Magalhães, preceptor do Hospital Banco de Olhos.
Acometendo principalmente os idosos, o vírus dá os primeiros indícios provocando formigamento, calor e coceira na região afetada. Alguns dias depois, surgem as bolhas na pele em uma faixa extensa de um único lado do corpo.
“Essas faixas correspondem às células nervosas nas quais o vírus foi ativado”, justifica o oftalmologista.
Em um período entre duas e três semanas, as erupções viram crostas. Conforme Magalhães, um dos grandes problemas dessa condição é a dor intensa, que pode permanecer por anos no paciente. Em casos graves, pode inclusive haver repercussões neurológicas e necessidade de transplante.
“Já fiz transplante de córnea porque não houve tratamento do herpes-zóster ocular. A maioria não tem esse vírus, mas ele pode provocar danos”, conta o oftalmologista.
O tratamento se dá por meio de antivirais, que reduzem a gravidade e a duração da doença. Como prevenção, há uma vacina, recomendada para pessoas acima dos 50 anos.
“É importante destacar que a candidíase não é catalogada como uma doença sexualmente transmissível (DST). Pode ser transmitida pela relação sexual, mas não necessariamente”, pontua o médico.
HERPES
Causada pelo vírus Herpesviridae, o herpes simples tem duas variantes: o tipo 1, que aparece na boca ou na pele, e o tipo 2, mais comum na região genital. Esse tipo de herpes é da mesma família do zóster, porém, de outra espécie.
O vírus se aloja no sistema nervoso periférico, onde fica dormente por meses e até anos.
“Quando a imunidade cai, ele se replica no tecido neural, percorre o nervo e chega na pele, causando vesículas (bolhinhas) agrupadas”, explica Paulo Ricardo Criado, coordenador do Departamento de Dermatologia e Medicina Interna da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Segundo o especialista, esse episódio dura entre sete a 10 dias e pode provocar comichão e ardor na região. Como é um vírus, é contagioso, porém, somente enquanto as bolhinhas estão com água. Passado esse período, não há mais risco de contágio.
A contaminação entre pessoas se dá pelo contato pele a pele, mas também ocorre por meio de objetos como canudos, copos e até mesmo toalhas.
“Em crianças, pode haver um quadro de estomatite herpética, que são múltiplas aftas na boca. Isso caracteriza a primeira infecção dos pequenos pelo herpes”, completa o médico da SBD.
Para prevenir esse problema, é fundamental evitar o contato com pessoas com herpes e também a exposição excessiva ao sol sem proteção na área. O tratamento é feito com antivirais prescritos por um médico. Colocar gelo na região também pode aliviar a dor.
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