Saúde e Bem-Estar

Com informações de Estadão Conteúdo e Folhapress

Privação do sono e má higiene da boca podem ter relação com Alzheimer

Com informações de Estadão Conteúdo e Folhapress
25/01/2019 10:08
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Pesquisa relaciona bactéria encontrada na boca com Alzheimer. Foto: Bigstock

Bactéria que causa infecção bucal x Alzheimer

A presença da bactéria P. gingivalis, causadora da periodontite crônica (basicamente uma inflamação séria da gengiva e das áreas adjacentes), por outro lado, é um fator de risco já conhecido para o surgimento do mal de Alzheimer. Ainda não havia pistas mais detalhadas sobre a relação causal entre uma coisa e outra, no entanto. Seria concebível que pessoas nos inícios da doença degenerativa acabassem simplesmente descuidando da higiene bucal, sem que a bactéria estivesse ligada ao problema.
Uma toxina produzida pela bactéria é capaz de causar morte de neurônios e de afetar estruturalmente a tau, o que poderia funcionar como gatilho da doença. Novos dados levantados pela equipe de Dominy fortaleceram a ideia de uma conexão causal. A pesquisa, patrocinada pela farmacêutica americana Cortexyme, identificou tanto proteínas quanto DNA da bactéria em praticamente todos os cérebros de pessoas com Alzheimer que estudaram (a frequência em cérebros humanos saudáveis cai pela metade).
Mas, só a presença da bactéria no cérebro dos pacientes não seria suficiente para concluir que ela causa a demência. Isso porque, por vários motivos, como má alimentação ou dificuldade em manter a saúde bucal, pacientes com Alzheimer poderiam desenvolver a bactéria – e não o contrário.
Então, os pesquisadores usaram ratos para demonstrar que a infecção pela Porphyromonas gingivalis levou a uma produção maior de beta amiloide, proteína que se acumula no cérebro de pacientes com Alzheimer. Os especialistas infectaram animais com a bactéria e, em seguida, aplicaram uma droga capaz de diminuir a carga bacteriana.
Com isso, notaram que o medicamento ajudou a bloquear a produção da beta amiloide e a proteger neurônios no hipocampo dos animais, região cerebral responsável pela memória. O estudo foi publicado na revista Science Advances. “A principal conclusão é que há quantidade significativamente maior de enzimas bacterianas tóxicas nos cérebros de pacientes com Alzheimer. A atividade tóxica das enzimas pode ser bloqueada com uma droga”, disse o autor principal do estudo, Stephen Dominy, cofundador da Cortexyme.

Desafios

Para Rogério Panizzutti, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pesquisa se insere em um contexto de mais interesse dos cientistas em investigar conexões entre o Alzheimer e agentes infecciosos.

“O desafio do campo é observar se há relação causal entre uma infecção bacteriana ou viral e o Alzheimer. Esse estudo avança ao usar modelos animais, nos quais consegue sugerir causalidade. Mas ainda não dá para ter certeza de que haverá a causalidade em humanos.” Novos estudos, diz, são necessários.

Para Daniel Ciampi, neurologista do Hospital Sírio-Libanês, é provável que vários fatores estejam envolvidos e o estudo é “mais uma pista para pensar a doença”. Embora não seja possível concluir que infecções na boca causam o Alzheimer, manter a higiene, diz, está longe de ser algo em vão. “Um dos pilares do tratamento é ter uma saúde oral adequada. É como se tirasse um estresse inflamatório da jogada. E o paciente pode ter uma melhora parcial.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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