Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Existe idade mínima para cirurgia de amígdalas e adenoide?

Amanda Milléo
25/11/2016 16:11
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Crianças com sono não reparador, que respiram pela boca com frequência e sofrem infecções de repetição podem passar por cirurgia (Foto: Bigstock)

Horas depois de passar por uma cirurgia de amígdalas e adenoide, um menino de dois anos e sete meses faleceu, na última quinta-feira (24), em Curitiba. A história comoveu mães e pais nas redes sociais nesta sexta (25) e gerou muitas dúvidas sobre o procedimento cirúrgico. Um dos principais questionamentos foi com relação à idade da criança e a horacerta” em se fazer a cirurgia de retirada das amígdalas e da adenoide.
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A indicação da cirurgia não está relacionada à idade da criança, conforme explica Vinicius Ribas Fonseca, médico otorrinolaringologista pediátrico do Otorrinos Curitiba e vice-presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica, mas sim a alguns sintomas importantes. “A cirurgia deve ser feita quando necessária, nunca preventivamente, e a partir dos sintomas, como ter uma criança com uma respiração bucal intensa, com padrão respiratório inadequado e sono muito ineficaz, por exemplo”, explica.
Tanto a adenoide quanto as amígdalas são tecidos que fazem parte do sistema imunológico do organismo e têm uma função importante nos dois primeiros anos de vida. A partir dessa idade, eles não são tão eficazes na defesa do corpo, mas podem gerar infecções e obstruções que afetam a saúde e qualidade de vida da criança.
As amígdalas crescem quando estão inflamadas e, como estão localizadas no ‘fundo’ da garganta, podem gerar inflamações na garganta com frequência. A adenoide, que está na parte mais ao fundo do nariz e não pode ser vista facilmente, normalmente causa otites e influenciam na respiração bucal, pois geram obstruções na entrada de ar e de comida.
“É bem comum na indicação por obstrução o médico operar os dois tecidos em conjunto. Mas, em alguns casos, quando há apenas a reclamação de otites ou a respiração bucal, é feita a cirurgia apenas das adenoides. Ou, quando é infecção de garganta e não tanto a obstrução, faz a cirurgia só das amígdalas, ou das tonsilas palatinas”, afirma Fonseca.

7 a 10 dias é o tempo médio de recuperação das crianças depois da cirurgia. Há crianças que podem se recuperar mais rapidamente e outras que demoram um pouco mais. É comum que, neste momento, as crianças reclamem de dor, que pode ser tratada com analgésicos.

Alimentação especial –  Mais líquidos, pastosos e alimentos macios, para não machucar a garganta e evitar o sangramento da área.

Riscos da cirurgia
A cirurgia de adenoide e amígdalas jamais deve ser feita como forma de prevenção, mas como tratamento para os sintomas. Dos principais riscos, o médico otorrinolaringologista pediatra cita o sangramento durante e após a cirurgia, e a anestesia geral, que exige um preparo e atenção maior dos médicos.
“Há também os riscos de comprometimentos que a criança possa ter e que sejam exacerbados depois da cirurgia, como uma insuficiência cardíaca ou outra patologia que, eventualmente, possa piorar após o ato cirúrgico. Por isso os cuidados pré-cirúrgicos são de fundamental importância, para reduzir ao menor risco possível“, explica o médico.

Sintomas que indicam a cirurgia, seja qual for a idade

Fique atento aos seguintes sinais na criança, que podem indicar uma cirurgia de amígdalas e adenoide:
– Fica constantemente com o nariz entupido;
– Respira muito pela boca;
– Tem sete ou mais infecções de garganta no mesmo ano;
– Tem cinco ou mais infecções de garganta em dois anos seguidos;
– Tem rinosinusite de repetição e comprometimento do ouvido;
– Tem infecções de repetição ou acúmulo de secreção no ouvido.

Se meu filho não fizer a cirurgia, os sintomas podem sumir?

Tanto a adenoide quanto as amígdalas têm um pico de crescimento, que ocorre entre o primeiro e quarto ano de idade da criança. Até os sete ou oito anos, esses tecidos tendem a diminuir, principalmente pelo crescimento da criança e pela perda da função de defesa no organismo.
Manter os sintomas, como respiração bucal constante ou obstrução das vias, no entanto, pode causar sérios problemas para a saúde da criança no futuro.
“Além dos problemas de respiração ruim, causa um sono não repousante e a criança pode ter deficiências no aprendizado, sentir sonolência durante o dia, tornar-se hiper ou hipoativas, comprometer a função cardiopulmonar e até mesmo o coração pode ser levado a uma hipertensão e aumentar de tamanho”, explica o médico otorrinolaringologista Vinicius Fonseca.
A estrutura da boca, dentes e mandíbula também são afetados, em consequência do esforço que a criança faz, durante anos, para respirar pela boca. Isso gera alterações na fala e na deglutição também. “Todas essas questões justificam a cirurgia, mesmo em crianças pequenas, mesmo acreditando que com sete, oito anos de idade, o tecido diminui”, afirma Fonseca.

“Os pais devem saber que essa é uma cirurgia corriqueira, uma das mais feitas na pediatria. É uma cirurgia com baixo índice de complicação, com menos de 1% de risco.”