Saúde e Bem-Estar

Filosofia é assunto de criança

Adriano Justino
18/05/2016 16:00
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Formar estudantes mais críticos, que respeitem o confronto de ideias e demonstrem mais facilidade de argumentação são alguns benefícios de se defrontar cedo com a Filosofia, uma disciplina obrigatória apenas no Ensino Médio, mas que pode ser trabalhada no Ensino Fundamental. Confira a entrevista com a professora Maria Angélica Pereira Penha, que dá aulas da disciplina nessa fase da educação há dez anos e que apresenta uma palestra sobre a importância do tema no próximo dia 19, quinta-feira, no Sinepe/PR, dentro da programação da Maratona do Ensino Fundamental I:
A Filosofia está mais perto das crianças do que dos adultos?
A Filosofia está mais próxima das crianças porque elas têm uma curiosidade nata. Elas gostam de perguntas, do indagar que conduz o ser humano à busca de respostas, de suas verdades. Conforme envelhecemos, passamos a aceitar o mundo como ele é, a nos adequar aos modelos sociais. O adulto sabe quando realizar certas perguntas e deixa de fazer outras porque sabe que alguns questionamentos podem prejudicá-lo em determinados momentos. A criança, por sua vez, se sente mais livre para questionar. E essa geração de agora é mais livre ainda, pelo acesso às informações via internet. A própria criança busca instrumentos para responder às suas dúvidas.
Quais questões filosóficas mais geram debates entre as crianças?
As questões éticas e morais costumam provocar longos debates. Debatemos, por exemplo, o sentido de “amizade”, sobre o que é ser amigo de verdade. Ao fim de algumas aulas, os alunos disseram que amigo é aquele que aceita você com os seus defeitos e qualidades, que está sempre junto de você. Disseram que amigo não pode ser comprado com presentes, que amigo é aquele com quem você se identifica. Os alunos também questionam se certas atitudes são ou não corretas. Além disso, as crianças têm trazido perguntas relacionadas ao que ouvem nos meios de comunicação ou em casa, como “o que é corrupção” e “o que é impeachment”.
A partir de qual idade é interessante introduzir discussões de filosofia?
O pensamento crítico pode e deve ser trabalhado desde a Educação Infantil, a partir de 2 a 3 anos de idade.
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A senhora pode indicar títulos infantis de livros que podem ser interessantes para crianças.
As novelas filosóficas, compostas de vários títulos, como Pimpa; Brincar a Pensar? Manual de Filosofia para Crianças (título português de Portugal); Filosofia para crianças; O pequeno filósofo: não, não fui eu!; e Pé no chão – pense bem: descobrindo a filosofia.
Como os pais podem inserir em casa esse tipo de discussão?
Ler com a criança livros infantis da faixa etária e realizar perguntas que façam a criança refletir sobre os temas abordados no livro, em um filme ou em um desenho são boas dicas. Também levantar questões relacionadas ao cotidiano, que despertem a curiosidade na criança são boas ideias.
Em tempos de pouco respeito à opinião do outro, como quebrar o pensamento unidimensional?
A filosofia é o principal instrumento para você trabalhar com as crianças, podemos desenvolver o pensamento crítico, a partir do qual a criança aprenderá a questionar, a dialogar, a respeitar opiniões diferentes das dela. Mas esse é o resultado de um trabalho de longo prazo. Com as turmas dos primeiros anos do ensino fundamental, usamos uma corujinha para que os alunos respeitem a liberdade de o outro falar. Só pode falar quem estiver com a coruja na mão. Além disso, reforçamos que todos têm o direito de pensar de forma diferente.
A Maratona do Ensino Fundamental I acontece até dia 20 de maio, sempre das 19h às 21h, no Auditório do Sinepe/PR (Rua Guararapes, 2.028, Vila Izabel, Curitiba). Investimento:  R$ 20  (instituições de ensino associadas ao Sinepe/PR); R$ 40 (não associadas e outros). Inscrições pelo site.