Saúde e Bem-Estar

Meu filho só veste o que quer!

Érika Busani
22/04/2007 23:32
erikab@gazetadopovo.com.br
Lá fora, um calor de 35°C e seu filho de 5 anos insiste em vestir aquela jaqueta forrada. Ou sua filha de 3, num dia de geada, quer porque quer colocar o vestido de alcinhas de algodão. A hora da criança se vestir pode se transformar em verdadeira guerra familiar e, o que é pior, diariamente.
“Brigas por roupas entre pais e filhos acontecem unicamente porque o adulto não entende que a criança pensa diferente dele”, garante a psicóloga e psicopedagoga Úrsula Mariane Simons, professora da Universidade Tuiuti. Ela explica que até os 6, 7 anos o pensamento da criança ainda não funciona dentro da lógica formal. É por isso que se alguém, dentro de casa, pede a uma criança pequena “vai ver se estou lá fora”, ela irá.
Daí vem a dificuldade de classificação. “Quem classifica sabe quando está quente ou frio. A criança vai pelo impulso, o que tende a ser visto pelos adultos como teimosia, gênio forte.”
E quando o filho escolhe a roupa de festa para brincar na caixa de areia e a mãe interfere, como ele ainda não consegue argumentar, faz o que sabe: grita e chora.
Evitar toda essa confusão, para Úrsula, é simples: “Os pais precisam pré-classificar o guarda-roupas do filho, separando as peças de frio, de calor, de festa e de brincar.” Assim, na hora de trocar a criança, os pais podem pedir que ela escolha uma roupa de brincar e de calor, por exemplo.” A criança deve ter direito de optar, senão mais tarde não vai saber como fazer as escolhas da vida.” Além disso, a pré-classificação vai ensinando o raciocínio lógico.
Treinar a autonomia, o poder de decisão da criança, para a psicóloga e psicopedagoga Karin Buckheimer, especialista em clínica infantil e do adolescente, é importante, mas não pode se tornar algo sofrido, nem causar conflito na família. “Os pais devem dar aos filhos poder até o ponto em que não interfira na saúde e na adequação. Há horas em que precisam ser firmes, não podem ceder quando a criança bate o pé”, alerta.
Excessos
Histórias de crianças muito pequenas que se recusam a vestir o que os pais compram não são incomuns hoje. Para Úrsula, isso ocorre quando a criança tem muitos desejos satisfeitos e ganha coisas demais. “O excesso não permite mais a alegria. Se o pai compra alguma coisa e a criança não quer usar, é porque ela tem demais. Senão, ela se alegra quando ganha algo. É como ver comida após uma boa refeição: ela rejeita porque está saciada, não agüenta mais.”
A moda, que influencia muito os pequenos, é outra questão que pesa no conflito. “Eles seguem a mídia e não sabem o que é bom ou ruim. Os pais têm que ter coragem de amar seus filhos, há certas coisas que não precisam ceder aos modismos”, diz Úrsula. Ela dá o exemplo de meninas com sapatos de salto alto. “É totalmente inadequado para a saúde da criança, que precisa brincar, pular, desenvolver o equilíbrio.” A psicóloga faz um paralelo preocupante: “Mais tarde, se a moda for usar drogas, é uma porta aberta para o adolescente que sempre teve tudo o que quis, mesmo o que lhe fizesse mal.”
As compras
A técnica da pré-classificação também vale para a hora das compras. É preciso combinar com a criança antes, ainda em casa, o que vai ser comprado e quais vão ser as condições. Na loja, dê a ela a opção de escolha entre roupas pré-selecionadas.
Para Karin Buckheimer, se as compras forem para renovar o guarda-roupas, é melhor os pais irem sozinhos. No caso de uma ou outra peça, dá para levar a criança. É preciso cuidado com o que pode gerar angústia e ansiedade. No shopping, vemos muitos pais e filhos brigando, se estressando, falando o que não devem.”
Serviço: Karin Bruckheimer (psicóloga), fone (41) 3233-3192, site www.orgone.com.br / Úrsula Mariane Simons (psicóloga), fone (41) 3338-8223.