Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

“Bafômetro” criado por brasileiros identifica 15 doenças diferentes

Amanda Milléo
04/03/2019 12:00
Thumbnail

Irmãs e amigo criam "bafômetro" capaz de identificar 15 doenças diferentes (Foto: Bigstock)

Asma, tuberculose, pneumonia, gastrite, diabetes e doença de Crohn não são, a princípio, doenças interligadas. Mas, graças ao trabalho das irmãs Nathalia e Júllia Nascimento e do amigo Rheyller Vargas, todas elas podem ser identificadas através de um único aparelho, que simula a ação de um “bafômetro”.

Chamado de OrientaMED, o “bafômetro” das doenças é capaz de identificar as assinaturas gasosas de 15 doenças diferentes a partir dos gases emitidos pela boca do paciente. No momento, a equipe está focada em aperfeiçoar a identificação de três infecções respiratórias: asma, pneumonia e tuberculose. As doenças foram sugeridas por médicos e especialistas entrevistados pelo grupo durante o desenvolvimento e apresentação do protótipo. 

“Na primeira versão do produto, demos o nome de ‘gastrômetro‘ porque o intuito era verificar a atuação da H. pylori [bactéria que vive no trato estomacal e pode levar ao surgimento de úlceras e gastrites] e medir a gastrite. Mas, durante as consultorias que tivemos, uma pessoa indagou se o produto se limitava a uma doença só. Pesquisamos e verificamos que podíamos alcançar até 15 doenças com o OrientaMED”, relata Rheyller, sócio do OrientaMED e estudante de Biotecnologia, com foco em Microbiologia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em entrevista por telefone com o Viver Bem.
Protótipo do aparelho OrientaMED vem com uma tela ao centro, onde indica a probabilidade de alguma doença. Acima, pode ser colocado o bico para o sopro (Foto: Arquivo Pessoal)
Protótipo do aparelho OrientaMED vem com uma tela ao centro, onde indica a probabilidade de alguma doença. Acima, pode ser colocado o bico para o sopro (Foto: Arquivo Pessoal)
Mais detalhes sobre o alcance e a efetividade do produto ainda estão sendo estudados pela equipe. Como, por exemplo, se há necessidade de estar em jejum para ter uma precisão nos resultados ou se os dados variam conforme a idade do paciente. Testes clínicos, que estão sendo discutidos com diferentes hospitais do país, ajudarão a formar esse cenário.
“A ideia é que qualquer pessoa, seja qual for a alfabetização dela, consiga usar e receber informações corretas do aparelho. O equipamento vem com uma tela, que indica a probabilidade de determinada doença, e é 100% independente da internet para funcionar. Nosso intuito é dar o máximo de liberdade ao agente de saúde ou técnico para ser usado em locais afastados”, reforça Rheyller.

Irmãs atentas

Equipe formada pelas irmãs Júllia e Nathalia Nascimento e o amigo Rheyller Vargas desenvolveu um aparelho capaz de identificar 15 doenças diferentes (Foto: Arquivo Pessoal)
Equipe formada pelas irmãs Júllia e Nathalia Nascimento e o amigo Rheyller Vargas desenvolveu um aparelho capaz de identificar 15 doenças diferentes (Foto: Arquivo Pessoal)
Foi durante uma apresentação da pesquisa de dissertação da Nathalia, na universidade em que a Júllia estuda, que fez a irmã mais nova perceber a dimensão dos estudos da irmã mais velha. Nathalia, que hoje é doutoranda em Engenharia da Computação pela PUCRio, analisava o metabolismo das bactérias que vivem em frutas e verificou que era possível prever o tempo de amadurecimento do alimento.

“Eu não havia tido um contato tão próximo com a pesquisa dela, mesmo a gente convivendo. Como eu sou da área de Biologia, eu vi que poderia ter uma ligação entre o que eu estudava e o trabalho que ela desenvolvia. Quando surgiu o hackaton [maratona hacker] eu chamei ela e o meu amigo Rheyller para desenvolvermos o projeto”, conta Júllia, estudante da graduação em Biotecnologia pela UFRJ, com ênfase em Gestão.

Neste evento, a equipe foi premiada com mentorias e o projeto do OrientaMED começou a crescer. “Queremos fazer algo diferente, principalmente para a área da Saúde, porque ao longo do tempo tivemos uma noção de como funciona a Saúde Pública no país. A nossa expectativa cresceu em poder fazer uma pequena, ou grande, mudança, ao trazermos um dispositivo de fácil manuseio para a identificação das doenças”, diz a estudante.
Desde 2017, quando o projeto começou a tomar forma, a equipe recebeu diversas premiações, como a startup mais dedicada no Bio Startup Lab 6 (BSL6) e o segundo lugar no Camp de inovação do maior congresso de Engenharia Biomédica da América Latina.
LEIA TAMBÉM