Saúde e Bem-Estar

Raquel Derevecki

Mãe desiste de abortar e faz cirurgia intrauterina para salvar filha com espinha bífida

Raquel Derevecki
13/02/2019 16:58
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“Eles a tiraram do meu ventre e a colocaram de volta para ficar lá o tempo que puder”, contou a inglesa Bethan Simpson, de 26 anos. Foto: Reprodução/Facebook

Com 20 semanas de gravidez, a jovem inglesa Bethan Simpson, de 26 anos, precisou tomar uma decisão difícil: encerrar a gestação naquele momento ou manter a gravidez e correr o risco de ter um filho com sequelas graves como retardo mental, paralisia, disfunção intestinal e problemas na bexiga. “Nossa filha tinha espinha bífida”, relatou a moradora do Reino Unido em sua página no Facebook.
De acordo com o especialista em medicina fetal Andre Miyague, professor no Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a espinha bífida é um defeito congênito no fechamento da coluna vertebral do feto e ocorre, em média, três vezes a cada 10 mil nascimentos. “Sem contar as gestações que são terminadas logo após o diagnóstico”, afirma.
No Reino Unido, essa porcentagem de abortos devido à doença chega a 80%, segundo o relato de Bethan. No entanto, ela não aceitou as opções apresentadas pelos médicos de seu país e buscou outra alternativa. “Em 48 horas, estávamos em Londres fazendo exames em sua cabeça e espinha”, escreveu.

Na capital inglesa, a gestante descobriu que poderia realizar uma cirurgia fetal para “consertar” a coluna vertebral do bebê antes do nascimento. “Nós tivemos que fazer isso”, conta em sua página, ao descrever todo o processo.

Foto: Reprodução/Facebook
Foto: Reprodução/Facebook
O procedimento ocorreu dia 8 de janeiro – na 24.ª semana de gestação – e foi o quarto caso registrado na Inglaterra. Para a realização da cirurgia, o bebê foi retirado do útero da jovem, operado e introduzido novamente para que a gestação continue pelo maior tempo possível. “Eles a tiraram do meu ventre e a colocaram de volta para ficar lá o tempo que puder”, escreveu. 
De acordo com o médico Miyague, apesar dos benefícios da cirurgia, o procedimento aumenta o risco de parto prematuro, o que pode ser muito prejudicial ao bebê. Por isso, Bethan precisa de repouso e acompanhamento médico durante os próximos meses de gestação. O parto está previsto para abril.
Foto: Reprodução/Facebook
Foto: Reprodução/Facebook
Em sua página, ela afirma que a cirurgia apresentou resultados positivos, pois o tamanho do bebê está normal e o fluido espinhal – que antes vazava para a coluna do feto devido à espinha bífida – agora segue para a cabeça, como deve ocorrer.

“Eu sinto o nosso bebê chutar dia após dia. Isso nunca mudou. Ela é muito especial e mostrou o quanto merece essa vida”, comemorou em sua página, ao incentivar outros pais a tomarem a mesma decisão. “Há riscos de as coisas darem errado, mas, por favor, pense mais sobre a espinha bífida porque ela não é o que costumava ser”.

Segundo o especialista do Hospital de Clínicas da UFPR, a cirurgia intrauterina é realizada desde a década de 90 na Universidade da Califórnia, e se tornou mais comum a partir de 2011, após comparações entre a cirurgia pré-natal e a pós-natal. “A partir desse momento ela foi considerada, de fato, a terapêutica mais eficaz, reduzindo a necessidade de derivação ventrículo-peritoneal e melhorando a função motora do bebê recém-nascido”, afirmou.
A cirurgia tem evoluído e já chegou a diversos países. No Brasil, há cirurgiões especializados na técnica em São Paulo. Eles operam com uma pequena abertura no útero e também por vídeo.
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