Saúde e Bem-Estar

Perseguição insana

Adriano Justino
21/06/2009 03:15
O envelhecimento é um processo de início impreciso, progressivo e irreversível, explica o médico geriatra José Mario Tupiná Machado, chefe do serviço de geriatria do Hospital Cajuru. “Quem está vivo está envelhecendo e isso é um privilégio, já que só envelhece quem está vivo”, diz Machado. A procura pela juventude eterna é, na opinião do médico, insana. “A receita de felicidade é saber viver bem a idade que se tem. Não recrimino quem valoriza a estética por buscar a aparência jovem. Desde que haja um limite, sendo coerente com ela mesma. Que se olhe no espelho e se reconheça com tudo que já viveu”, diz o médico.
Na opinião da psicóloga brasiliense Ana Paula Campos, que trabalha com o tema envelhecimento feminino, a indústria dos cosméticos está alimentando essa corrida desenfreada pela juventude eterna. “Hoje você encontra creme antirrugas para ser usado a partir de 25 anos. É como se houvesse um reloginho que fizesse com que todo mundo corresse do envelhecimento facial. Não seria um problema se não houvesse o preconceito contra rugas e cabelos esbranquiçados. A idade não está sendo mais encarada da forma positiva, vinculada à sabedoria, à vivência”, diz Ana Paula.
O comum, segundo a psicóloga, é que mulheres comecem a se angustiar com a idade quando atingem o período da menopausa, com o desequilíbrio hormonal e o fim da fertilidade. Para elas, essa é uma fase de apreensão. Já nos homens, o normal é sentir a chegada da idade com a aproximação da aposentadoria. É nessa época que se espera a crise e as primeiras reflexões sobre a morte e a procura de novos projetos.
Antes disso, pensar no avanço da idade de forma obsessiva é sintoma da corrida contra o tempo, o medo de perder a juventude, de não ser mais desejado. “Viver dessa forma é um sofrimento sem fim. É diferente de pensar o envelhecimento de forma positiva, que como qualquer coisa na vida é feita de perdas e ganhos. Se não se é mais jovem, tem conquistas na vida, potencialidades, realiza coisas que não conseguiria na infância, sempre com novos sonhos e perspectivas”, diz a psicóloga.