Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Médicos estão receitando Tamiflu para pacientes não vacinados contra a gripe

Amanda Milléo
13/07/2018 12:43
Thumbnail

Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo

Mais de seis milhões de brasileiros que se encaixam nos grupos de risco para a gripe não se vacinaram contra a doença neste ano. Os dados, divulgados na última quarta-feira (11) pelo Ministério da Saúde, demonstram a falta de medo com relação à gripe, especialmente entre as gestantes e crianças. Este grupo específico foi o que menos procurou pelas salas de vacinação, atingindo uma cobertura de apenas 76,4% e 73,6%, respectivamente – bem abaixo dos 90% esperados pelo ministério.
Diante deste cenário, médicos que recebam pacientes não vacinados e com sintomas que se assemelham aos da influenza são orientados a prescreverem a medicação antiviral Tamiflu (fosfato de Oseltamivir) o mais rápido possível — dentro das primeiras 48 horas após o início dos sintomas, de preferência. A recomendação vem da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (SESA), que reforça que a orientação também depende da avaliação médica.
Começar com a medicação o mais precocemente possível visa evitar a evolução da doença, e a consequente piora no quadro do paciente, que pode levar à morte. Até julho deste ano, foram registrados 4,2 mil casos de influenza em todo o Brasil, que resultaram em 745 mortes pela doença. Dos sinais indicados pela SESA para reforçar a atenção na pessoa com suspeita de gripe estão a dispneia ou a falta de ar, hipoxemia (insuficiência de oxigênio no sangue), sonolência ou agitação e desidratação, entre outros.
Bay Ismoio/AFP.
Bay Ismoio/AFP.
“A gravidade do vírus do resfriado é muito menor que a do vírus da gripe. Eu concordo com a recomendação de que, se a pessoa não tomou a vacina, é mais prudente prescrever a medicação, mas isso depende muito da intensidade dos sintomas do paciente”, explica Myrna Perez Campagnoli, médica pediatra e endocrinologista.
No caso dos resfriados, os sintomas de mal estar, coriza e febre são mais brandos. Na gripe, o mal estar vem associado a tosse, congestão nasal intensa e febre alta. “Mesmo fazendo uso do Tamiflu no início, é importante fazer o exame que comprove a influenza, para que as pessoas não sejam medicadas sem a devida necessidade”, reforça.

Síndrome gripal = Tamiflu

Quanto mais cedo os sintomas da influenza forem tratados, menor será o risco de danos ao trato respiratório, segundo Viviane Dias, médica infectologista do hospital Marcelino Champagnat e professora da pós-graduação da PUC-PR.

“Tratando antes, você reduz o tempo da doença e os danos no trato respiratório. O benefício do remédio é nas primeiras 36, 48 horas. Por isso que, nessa época, a gente coloca que síndrome gripal é igual a Tamiflu. Mesmo quem tiver sido vacinado [pode receber o medicamento quando apresentar sintomas da gripe] porque, por mais que a vacina seja muito boa, em algumas pessoas pode não ser tão eficaz”, reforça a especialista.

Dos danos da influenza ao organismo, um dos principais é a lesão no epitélio respiratório, que dificulta a função do pulmão, trazendo falta de ar e reações inflamatórias.
“Se é uma pessoa que tem uma doença de pulmão, ou um tabagista, com a gripe associada essa pessoa tem uma chance maior de fazer pneumonia”, explica Dias, que lembra ainda que para as pessoas em grupos de risco, como os idosos e gestantes, a preocupação deve ser ainda maior.
Entre as gestantes, inclusive, a proteção da vacina vai além da própria saúde. “As gestantes também têm um risco maior de ter a doença mais grave e a proteção se estende ao bebê, inclusive quando ele nasce. Como a vacina é contraindicada antes dos seis meses de idade, a forma como o bebê adquire anticorpos é através da proteção que a mãe tiver. É interessante, portanto, que as gestantes se vacinem”, explica Letícia Ziggiotti, médica infectologista do hospital São Vicente e do hospital Nossa Senhora das Graças.

Com gripe? Fique longe

Devido à baixa cobertura vacinal indicada pelo Ministério da Saúde, no caso de uma confirmação da infecção por influenza, a melhor recomendação – além da devida medicação – é que o paciente se mantenha afastado dos seus afazeres e de outras pessoas por períodos específicos.
Se o paciente fizer uso do antiviral, a SESA recomenda cinco dias de afastamento para adultos e sete dias para crianças menores de 12 anos – período considerado a partir do início dos sintomas. Se não fizer uso do medicamento, é recomendável o afastamento de sete dias para os adultos e de 10 a 14 dias para crianças menores de 12 anos, conforme o tempo de transmissibilidade do vírus nas faixas etárias indicadas.

As vacinas têm uma duração média de seis a 12 meses e demoram cerca de duas a três semanas, depois de aplicadas, a começarem a proteger.

Vacinas liberadas

Com a baixa procura durante o período de campanha de vacinação – que se encerrou no último dia 15 de junho – as vacinas contra a gripe disponíveis nos postos de saúde estão à disposição da população em geral, não apenas dos grupos de risco.
“Esse ano, vendemos todas as doses da vacina contra a gripe nas clínicas e não tivemos de solicitar por novos lotes, porque não teve a procura. Isso preocupa porque cria um ambiente extremamente propício para que ocorram mais casos de gripe e, ano que vem, a população apresente uma imunidade tão baixa e volte a ter uma epidemia como teve há alguns anos”, explica Myrna Campagnoli, médica pediatra que também é diretora médica do Frischmann Aisengart.
A falta de vacinação, na visão de Campagnoli, estaria relacionada principalmente às fake news sobre as vacinas. “Tivemos também uns bons anos com pouca incidência de gripe, em virtude da boa cobertura vacinal. As pessoas deixam de acreditar que a gripe é grave, que pode matar e não se vacinam. As vacinas ainda estão disponíveis, então ainda dá tempo”, justifica.
LEIA TAMBÉM