Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Privação do sono ajuda no tratamento contra a depressão

Amanda Milléo
16/10/2017 20:14
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(Foto: Bigstock)

Pessoas com depressão “brigam” com o sono. Seja porque dormem demais ou porque o sono nunca vem, a relação entre a doença e a hora de dormir costuma ser complicada, atrapalhando até mesmo o tratamento. Mas, uma terapia tem surgido nas pesquisas médicas como inovadora e com resultados surpreendentes: a privação do sono do paciente depressivo.
“O sono é um dos pontos primordiais no tratamento da depressão. Para melhorar um paciente em depressão, você tem que fazer com que ele durma bem e há duas formas de fazer isso: ou dá um remédio, como todo mundo faz, ou faz ele acordar antes, o que é o mais adequado fisiologicamente”, explica Felipe Augusto Dufloth, médico psiquiatra do hospital Marcelino Champagnat e do Centhre – Centro de  Tratamento do Humor Resistente.
Acordar antes do horário previsto faz com que o organismo se ‘reinicie’ e afete, principalmente, o ritmo homeostático do corpo – calculado pela quantidade de atividades que você faz. “Quanto mais você cansa durante o dia, maior a tendência a afundar no sono e, então, o paciente dorme melhor”, reforça o médico psiquiatra.
Há duas formas, conforme explica Dufloth, para fazer essa privação do sono. Ou o paciente faz uma restrição total, por 36 horas; ou parcial, acordando entre quatro a seis horas antes do horário previsto. Acordada, a pessoa é incentivada a fazer exercícios físicos, a se submeter a uma luminosidade, de preferência, natural e se alimentar de forma leve.
“Se no começo do tratamento você usar de todos os tratamentos, pedindo para ele fazer exercícios físicos, tomando o antidepressivo, acordando cedo pela manhã, com privação parcial do sono, o paciente melhora mais. Isso altera o ritmo biológico”, completa Dufloth.
Os resultados têm se mostrado positivos para boa parte dos pacientes, conforme divulgou o site médico Medscape. Em um dos levantamentos, ou uma meta-análise, mais recentes dos principais estudos que relacionam a privação de sono com a depressão, diminuir as horas dormidas reduz os sintomas da doença em até 50% dos pacientes.
A rapidez com que os sintomas diminuem chamou a atenção dos médicos e pesquisadores principalmente porque, no tratamento tradicional, o tempo que se leva para fazer efeito é maior. “A medicação antidepressiva pode levar 15 a 30 dias para fazer efeito, e às vezes passa desse tempo. A psicoterapia leva semanas a meses. Por isso que essa terapia de privação, por ser rápida, chamou a atenção da comunidade científica”, explica Glauber Higa Kaio, médico psiquiatra, mestre pela Unifesp e membro da Associação Paranaense de Psiquiatria.
Não se “automedique”
A privação do sono, no entanto, não pode ser feita pelo próprio paciente, mas sim controlada com as orientações de um médico.
“Não é ficar sem dormir, sem um controle do número de horas, do ritmo da luz. Do contrário, o paciente pode acabar piorando, porque a privação não controlada do sono piora os sintomas dos transtornos mentais”, alerta Raquel Tatiane Heep, médica psiquiatra da Prefeitura Municipal de Curitiba e professora do curso de medicina da Universidade Positivo.
Da mesma forma, a privação deve ser feita durante um período pré-determinado. “Os estudos indicam, às vezes, três meses, enquanto outros recomendam 12 dias e então uma pausa; outros fazem uma privação maior em menos noites. Mas o importante é que os estudos mostram que temos que rever algumas coisas. Até então tínhamos uma ideia errada do sono, de que a insônia piorava a depressão”, completa Heep.
Outro detalhe, alertado pela médica psiquiatra, é que os estudos excluíram pacientes que tomavam qualquer tipo de antidepressivo, o que faz os médicos repensarem para quais pacientes a terapia pode ser mais benéfica.
Resultados positivos não se mantêm por muito tempo
O lado negativo, conforme ressaltado pela literatura médica, é que a redução nos sintomas depressivos não se mantêm, geralmente, até a noite seguinte. Cerca de 80% dos pacientes apresentam recaída neste período.
De acordo com Glauber Higa Kaio, médico psiquiatra, mestre pela Unifesp e membro da Associação Paranaense de Psiquiatria, outro detalhe importante a ser ressaltado da meta-análise é que os estudos analisados têm curta duração – de no máximo duas semanas. Assim, não fica claro qual será o efeito a longo prazo desse tipo de privação do sono.
Da mesma forma, outros estudos, excluídos da meta-análise, mostram resultados não tão positivos da relação entre privação do sono e depressão. “Em 2014, um estudo com 4 mil jovens, de 11 a 17 anos, nos Estados Unidos, mostrou que diminuir as horas de sono aumenta o risco para o transtorno depressivo maior. E que a própria depressão prejudicaria o sono. Então vira um ciclo vicioso”, alerta Kaio.
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