Saúde e Bem-Estar

Beatriz Pozzobon, especial para a Gazeta do Povo

Paladar infantil não é frescura e pode ser superado com dicas simples

Beatriz Pozzobon, especial para a Gazeta do Povo
01/03/2019 07:00
Thumbnail

O paladar infantil é um distúrbio alimentar em que a pessoa rejeita um grupo de alimentos e continua comendo "como criança" mesmo depois de adulto. Foto: Bigstock

Entre um pacote de salgadinhos e uma maçã, a jornalista Pamela Andrade sempre opta pela primeira opção. Além dos salgadinhos, os nuggets, a bolacha recheada, o macarrão instantâneo e o fast-food são os itens mais recorrentes na alimentação da jornalista. Ela não gosta de frutas e tem muita dificuldade em inserir verduras, legumes e carne vermelha nas suas refeições. Aos 27 anos, Pamela continua escolhendo os alimentos como se fosse criança.
Essa alta seletividade alimentar, quando leva a um aporte nutricional e energético insuficientes, além de prejuízos na vida social da pessoa, é classificada como um Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE). O distúrbio foi incluído recentemente como transtorno mental, ao lado de doenças como a bulimia e a anorexia.
O TARE acontece quando as pessoas deixam de comer grupos inteiros de alimentos, sendo mais comuns as frutas e os vegetais. Há também casos de indivíduos que deixam de ingerir alimentos por conta da cor, cheiro ou textura. Essas restrições peculiares no hábito alimentar podem ser levadas da infância para a vida adulta. Por isso, popularmente, é dado o nome de “paladar infantil”.
Neste sentido, é importante separar o transtorno alimentar restritivo de maus hábitos alimentares. Pessoas que se alimentam de forma inadequada apenas por opção ou comodidade não se encaixam no grupo de indivíduos com “neofobia alimentar”.
A nutróloga Elza Daniel de Mello, professora do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que este distúrbio alimentar pode estar associado a uma abordagem inadequada dos pais durante a infância e adolescência do indivíduo com paladar infantilizado. Dessa forma, os pais podem não ter insistido o suficiente e acatado o paladar seletivo da criança.

No entanto, de nada adianta ficar culpando os pais depois de adulto.

A professora deixa claro que comer é um aprendizado e as pessoas precisam estar abertas a experimentar novos alimentos. Isso porque uma alimentação muito restritiva leva a uma carência de nutrientes no organismo, o que pode ocasionar uma série de doenças, como obesidade, diabetes, doenças do coração, demências e câncer.
O ideal é consumir cinco pequenas porções de frutas e vegetais durante o dia, o que equivale a 390 gramas e ajuda a evitar em até 30% a incidência de câncer. Em casos de pessoas com dificuldade para consumir esses alimentos, a nutróloga orienta que o primeiro passo para a mudança é se conscientizar de que uma alimentação balanceada é importante para se ter saúde e um futuro com mais qualidade de vida.
(Foto: Bigstock)
(Foto: Bigstock)
“Mudar um hábito é extremamente difícil. Mas é preciso ter persistência. Escolher uma fruta e começar ingerindo metade todos os dias. No início, a pessoa vai comer obrigada, mas depois passa a desenvolver um prazer nisso”, afirma Elza.

“Estudos da área dizem que a mudança de hábito ocorre de 21 dias a três meses, isso para qualquer coisa, como tomar café da manhã, acordar mais cedo, fazer exercício e ler”, acrescenta.

Segundo a nutróloga, durante esse processo, a pessoa vai descobrir alimentos que, realmente, têm aversão, e outros que pode passar a ingerir. Ela não precisa gostar de todas as frutas, mas com persistência vai encontrar alguma que goste e a melhor forma de consumi-la.

“A sensação de mudar um hábito é muito boa. Você fica orgulhoso da sua conquista e sente que é capaz”.

E, no caso da jornalista Pamela Andrade, as mudanças já começaram. Ela tomou a decisão de comer melhor quando percebeu que sua imunidade estava sempre baixa, além de passar por problemas digestivos. “Estou tentando reverter todos os 27 anos que passei comendo errado”, destaca.
Ela, que trabalha num shopping, passou a fazer escolhas diferentes na hora de almoçar. “Eu me forço a colocar no meu prato a opção mais saudável que tem. Estou tentando experimentar coisas novas, comer salada”, revela. “Se você tiver disciplina e se esforçar muito, você consegue”, completa a jornalista que há um mês não come fast-food.

Dicas para reverter o paladar infantil

A nutricionista Gisele Pontaroli Raymundo, professora do curso de Nutrição da PUCPR, elaborou oito dicas, para pessoas com alimentação seletiva, iniciarem uma vida mais saudável.
  1. Para quem não gosta de frutas, a dica é começar pelos sucos e vitaminas para depois ingeri-las em pedaços;
  2. Optar por frutas mais adocicadas que são melhores aceitas, como maçã, banana, pera e mamão;
  3. No caso dos vegetais, iniciar pelos com sabores mais suaves. Por exemplo, entre escarola e alface americana, a alface tende a ser mais aceita. Cenoura e abobrinha também têm sabores mais suaves;
  4. Molhos podem ajudam a disfarçar o sabor;
  5. Misturar uma comida que não gosta junto com outra que tem prazer em comer;
  6. Aprender a cozinhar ou cozinhar mais em casa. O ato de manusear o alimento pode ajudar a aceitá-lo;
  7. Bater vegetais e consumir em formato de caldo. Aos poucos, a pessoa pode aumentar o tamanho dos pedaços, como se faz com crianças;
  8. Em algumas situações, é necessário procurar ajuda psicológica.

LEIA TAMBÉM