Saúde e Bem-Estar

Cecília Aimée Brandão, especial para Gazeta do Povo

Por que as mães se isolam socialmente nos primeiros meses de vida do bebê?

Cecília Aimée Brandão, especial para Gazeta do Povo
03/11/2018 07:00
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Este isolamento tem uma parcela cultural: a sociedade muitas vezes não ajuda a promover uma inserção desta mãe, agora com um filho. Foto: Bigstock

Na maioria das vezes não é intencional. Sequer é planejado. Muito menos desejado e, às vezes, nem mesmo percebido. No entanto, após o período inicial de adaptação da mulher com a chegada do bebê, a realidade traz uma nova perspectiva: o isolamento social da mãe.
“Não dá para definir quando isso começa e a hora em que pode acabar. Esse isolamento depende do tempo de cada mulher — de como ela se descobre e se organiza como mãe”, diz a psicóloga da Paraná Clínicas, Rafaela Teixeira.
Este isolamento tem uma parcela cultural: a sociedade muitas vezes não ajuda a promover uma inserção desta mãe, agora com um filho. “É corrente que se idealize a maternidade como uma nova fase de vida, mas na hora de integrar esta família, as cidades não oferecem, normalmente, muitas alternativas, e as famílias, ao adotarem uma postura omissa, não colaboram”, comenta.

Estratégia para incluir

Felizmente, há programas mais inclusivos. O projeto CineMaterna, criado em 2008, é um exemplo. Presente em mais de 50 cidades brasileiras, promove sessões de cinema adaptadas para que mães e pais possam ir com seus bebês — a sala não fica completamente escura, o volume é diminuído e existem espaços para a troca de fraldas e roupinhas.
Foto: Bigstock
Foto: Bigstock
Irene Nagashima, fundadora da ONG CineMaterna, conta que o objetivo é ir além do cinema: “a ideia é permitir à mãe, em especial, que saia de casa por um período, que volte a dirigir, que se arrume para um passeio e que interaja com outras mulheres na mesma fase de vida, se sentindo normal e aceita”, conta.

“A maternidade é o momento de maior mudança na vida de uma mulher. O primeiro filho é um grande choque e sabemos que deixar o bebê sob o cuidado de outras pessoas pode ser um desafio. A amamentação torna o período ainda mais intenso”, considera Irene.

Neste momento, contar com uma rede de apoio é fundamental e saudável, “não precisamos, como mães, ser autossuficientes. Podemos e devemos pedir ajuda, contar com os outros. A maternidade tem uma carga emocional e física muito grande e, se não cuidar, a mulher pode adoecer”, alerta.
Ela conta que são inúmeros casos, ao longo desses dez anos de projeto, de mulheres que se conheceram e viraram melhores amigas ou sócias em novos negócios, de vizinhas que se encontraram apenas no cinema e hoje compartilham mais espaços juntas e, até mesmo, muitos casos de mães que aproveitavam o horário do cinema para dormir. “O importante é permitir a interação e o retorno à vida social”, explica Irene Nagashima.

Importância de trocar

Essa interação entre mães é muito importante na percepção de Fernanda Costa Mueller, publicitária e fundadora do blog Babyboom Curitiba. “A mulher muda muito e ter com quem trocar  informações e dividir as angústias desta fase é muito importante. Vemos isso com frequência em nosso grupo do Facebook, por exemplo.
Desconhecidas desenvolvem afinidade por estarem vivendo o mesmo momento e apoiam umas às outras de forma muito intensa. Inclusive, há casos de mães que não contam com nenhum outro tipo de apoio e suporte além do grupo virtual, o que gera cumplicidade e empatia”, conta.
Fernanda, que é mãe de uma menina de 10 anos e de meninos gêmeos de 7 anos, conta que é fundamental falar sobre a maternidade, mas cabe à mulher ir além e não se esquecer de outros pontos importantes na sua vida. Para isso, é fundamental contar com o apoio da família. “Muitas vezes precisamos aprender a pedir ajuda e a confiar no apoio dos outros. Não precisamos ficar sozinhas”, aconselha.

Família tem papel fundamental

A família tem um papel fundamental para a socialização não só da mãe, como da criança, e o pai é essencial.

“Ter um filho é um compromisso emocional do casal, não só da mãe. Deve existir um pacto para que o pai exerça o seu papel de pai, sem as chamadas ‘ajudas’. Que ele seja parte ativa e um grande parceiro, com iguais responsabilidades, na criação e educação dos filhos”, explica Rafaela Teixeira, psicóloga da Paraná Clínicas.

Ela acredita que avós, tios e tias também podem ser grandes aliados, afinal, todos têm um papel decisivo na criação dos futuros cidadãos. “A criança é também um ser social que precisa aprender a conviver nos diferentes círculos, entendendo que todas as pessoas têm seus papeis”, comenta. Cabe à mãe permitir o desenvolvimento destes relacionamentos e responsabilidades, compreendendo que todos são importantes para o desenvolvimento do bebê.
A editora e idealizadora do site Criança na Plateia, Paula Martins, acredita que esta é uma escolha da mãe. “A mulher tem o poder de escolher e cabe a ela se isolar ou não. Acredito que o ideal é que a criança seja inserida na rotina da mãe, de forma leve e natural, para que desde pequena perceba o contexto da família e seja apresentada ao universo da mãe. Assim fiz com meus dois filhos”, explica.
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal
A jornalista trabalha com a divulgação de programações e eventos culturais e sociais para serem curtidos em família e acredita que hoje as cidades estão mais preparadas para receberem mães, pais e crianças de todas as idades: “temos muitos restaurantes com espaços para brincar, a maioria dispõe de menu kids e conta com facilidades para a troca de fraldas. Os shoppings evoluíram e se tornaram hoje grandes centros que se preocupam em oferecer entretenimento para toda a família e inúmeros espaços na cidade promovem atrações voltadas para todas as idades”.
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