Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Dieta “zumbi” como a de Santa Clarita Diet, do Netflix, é arriscada

Amanda Milléo
06/03/2017 14:00
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Comer carnes cruas pode trazer benefícios à saúde, desde que com cuidados na hora de comprar e armazenar o alimento (Foto: Reprodução série Netflix)

Sheila, personagem da atriz Drew Barrymore na série do Netflix Santa Clarita Diet, é uma das mais populares adeptas das dietas de proteína. Do dia para a noite, a corretora imobiliária troca todo e qualquer alimento pela carne (humana), quando se transforma em um zumbi. Quem quiser pode seguir essa dieta, desde que faça uma leve adaptação.
Incluir a carne bovina e de peixe cruas na alimentação traz benefícios à saúde, embora os riscos sejam grandes e os cuidados devam ser redobrados na hora da compra e armazenamento do alimento. Dos pontos positivos, a carne vermelha crua é mais facilmente digerida pelo organismo e a absorção de ferro também é facilitada no ponto cru, conforme explica Chris Vitola, nutricionista funcional.
Os riscos, porém, são superiores e devem ser levados em consideração antes de pedir o quibe cru, a carne de onça ou mesmo o sashimi. As carnes que não atingem a temperatura de 70 °C com o cozimento ou a fritura podem conter micro-organismos (vírus, bactérias e protozoários) que podem desenvolver doenças no organismo.

Fique atento às doenças!

Dentre os principais agentes de contaminação e doenças que podem estar presente nas carnes de boi, então a salmonelose, desenvolvida a partir de um grupo de bactérias denominadas de Salmonella; shigelose, causada pelas bactérias Shigella; as doenças causadas pela bactéria Escherichia coli; e até mesmo a doença toxoplasmose, desenvolvida pela presença do parasita Toxoplasma gondii nas carnes.
Outras contaminações na carne bovina podem vir da bactéria Listeria monocytogenes, que causa quadros de intoxicação e infecção alimentar. “A carne de boi pode estar infectada com parasitas como a Taenia saginata, uma espécie específica da tênia que parasita a carne bovina e causa a teníase. A carne de porco, se ingerida crua, pode conter a Taenia solium, que também causa teníase”, explica Mauren Isfer Anghebem, farmacêutica, doutora em ciências farmacêuticas com ênfase em análises clínicas e professora da PUCPR e UFPR.
Do peixe, o parasita Diphylobothrium latum é um das mais perigosos. Ela desenvolve a doença difilobotríase, uma verminose que gera a tênia que chega a medir 10 metros de comprimento, comprometendo a absorção de nutrientes pelo intestino. A verminose causa também dores pelo corpo, diarreia e vômito. Há também um parasita, que antes era comum apenas nos países asiáticos, mas agora atinge também o Ocidente. Trata-se do Anisakis simplex que causa desconfortos estomacais.
Grávidas podem ou não comer carne crua?
Não. Gestantes são cinco vezes mais suscetíveis a infecções parasitárias, de acordo com Mauren Isfer Anghebem, farmacêutica e professora da PUCPR e UFPR, devido a imunomodulação que ocorre durante a gestação para evitar que o bebê seja rejeitado pelo corpo da mãe.
“Um dos motivos para que as gestantes não comam carnes cruas é evitar as possíveis contaminações. Se ela se contaminar, seja com bactéria ou parasitas, ela precisará passar por um tratamento e alguns medicamentos podem trazer efeitos adversos a ela e ao bebê. Além das gestantes, mulheres amamentando também devem evitar carnes cruas”, explica a farmacêutica.

“Carne crua é menos calórica”: mentira

O processo de cozimento não agrega, por si só, calorias ao alimento. Uma preparação crua da carne bovina ou mesmo de peixe pode ser tão calórica ou até mais calórica do que uma preparação cozida, pois depende muito dos condimentos, molhos, óleos e especiarias usadas nesse preparo.
Cuidados na hora de comprar a carne
Embora sejam doenças perigosas, alguns cuidados podem ser tomados desde o momento da compra até o armazenamento do alimento, para conter a contaminação. Quando for comer um quibe cru, carne de onça ou mesmo um sashimi, lembre-se das seguintes orientações:
– Quando for adquirir a carne, verifique se há o selo de inspeção federal. Não que ele vá garantir a total ausência de micro-organismos na carne, mas elimina o risco presente nas carnes que não possuam o selo.
– Depois de comprada a carne no açougue ou mercado, congele a carne vermelha durante 15 dias e o peixe durante cinco dias. O congelamento faz com que as bactérias e vírus morram e não é preciso ter um congelador especial – o de geladeira é suficiente.
– Fique atento a higiene de quem vende, prepara e come o alimento cru. Os vendedores devem usar roupas fechadas, limpas e adequadas, sem contato das mãos com o alimento, sem a proteção de uma luva. A mesma limpeza deve ser verificada entre quem prepara o alimento e também quem o consome.
Vou comer fora, e agora?
– Pergunte ao restaurante se a carne oferecida crua foi congelada previamente ao preparo ou se ela é fresca. A dúvida vale tanto à carne vermelha quanto ao peixe.

“Os temperos usados no preparo desses pratos comuns com carne crua, como quibe cru, carne de onça, e os próprios alimentos da culinária japonesa não são capazes de matar os micro-organismos”, ressalta Mauren Anghebem, farmacêutica e professora.

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