Saúde e Bem-Estar

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo

Quando é a hora de se aposentar do volante?

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
16/06/2016 22:00
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Saiba quais são os sinais e como conversar com o idoso sobre a ideia de parar de dirigir (Foto: Bigstock)

Não existe um momento para parar de dirigir, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, que não determina idades para deixar de dirigir ou requerer e renovar a habilitação.
Contudo, uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito, o Contran, prevê a realização de exames médicos em um intervalo menor de tempo para motoristas com idades acima de 65 anos. Até essa idade, os testes acontecem de 5 em 5 anos. A partir daí, o espaço entre um e outro cai para 3 anos.
Mas como identificar o momento certo de se aposentar do volante? Segundo o geriatra Clovis Cechinel, especialista no assunto e diretor científico da seção paranaense da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, toda condição que altere a percepção, o julgamento, a vigilância e a capacidade de realizar ações, pode tornar a direção veicular insegura.

“Nos idosos, observa-se uma baixa acuidade visual, visão noturna e percepção de profundidade reduzidas, maior sensibilidade para brilho, redução de força muscular e da flexibilidade em pescoço e tronco, tempos de respostas mais lentos, menor capacidade de dividir atenção entre tarefas, filtrar estímulos sem importância e fazer julgamentos rápidos”, justifica.

Como incentivar a parar
O geriatra Clovis Cechinel, diretor científico da seção paranaense da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, dá dicas de como saber se está na hora do idoso deixar de dirigir:
Quais capacidades devem estar intactas para o idoso seguir dirigindo com segurança?
O motorista deve ser capaz de realizar uma série contínua de movimentos musculares complexos e com grande precisão, sob quaisquer que sejam as condições do clima e das vias, razão pela qual se torna importante observar a performance ao volante.
Quais erros cometem os idosos sem capacidade de dirigir?
Maiores taxas de violação de trânsito (conversão proibida à esquerda, mudança de faixa, desrespeito ao sinal vermelho e desvios). Percebendo suas dificuldades, tendem a evitar dirigir à noite, grandes distâncias, condições climáticas adversas e rodovias.
Uma vez que apresente estes sinais, como fazer o idoso tomar a iniciativa de parar?
A educação e autoavaliação são ferramentas importantes para ajudar o motorista a tomar consciência das mudanças em suas próprias habilidades. Isso conscientiza sobre as limitações na condução e, em última análise, a cessação dela. Mulheres admitem e reconhecem o declínio em seu desempenho de condução mais facilmente e param de dirigir antes que os homens.
Caso o idoso não queira parar, mas precise, como a família deve agir?
A opinião do médico do paciente pode auxiliar a família neste processo, pois além de conhecer as condições de sua saúde, ainda tem uma relação que permite questionamentos e discussões sinceras acerca dos padrões atuais de dirigir do paciente. A família deve intervir apenas quando a direção coloca em risco a integridade física do idoso ou de terceiros. Se o Detran o tenha considerado inapto, a família deverá desmobilizá-lo. Muitas vezes o cônjuge minimiza os riscos da continuidade da direção, para ambos não perderem a independência, já que se um deles for privado da direção passarão a depender de outras pessoas. A substituição por um serviço seguro de táxi ou de acompanhantes motorizados nem sempre está dentro do orçamento.
Há formas de fazer o idoso se conscientizar?
Apontar os riscos no trânsito e conversar sobre o processo de envelhecimento e o impacto na direção veicular podem tornar a transição mais leve e menos traumática, o que minimiza o risco de depressão pela perda da função. Pode haver uma negociação temporária, não colocando como definitivo o processo, a menos que haja inaptidão pelo Detran e risco iminente à segurança.

Crônicas que atrapalham

A prevalência de doenças crônicas aumenta com o envelhecimento e prejudica a capacidade de direção. Conheça as mais comuns:
  • Doenças da visão, como catarata, retinopatia diabética, degeneração macular e glaucoma
  • Doenças cardiovasculares, como angina de peito e insuficiência cardíaca
  • Doenças respiratórias, como apneia do sono e DPOC
  • Doenças neurológicas, como comprometimento cognitivo leve, demência e Parkinson
  • Doenças psiquiátricas, como depressão e psicose
  • Doenças metabólicas, como hipoglicemia e as músculo-esqueléticas
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