Saúde e Bem-Estar

Maria Miqueletto, especial para a Gazeta do Povo

Conheça a saga de um sedentário que “só queria correr” e saiba como evitar os mesmos erros

Maria Miqueletto, especial para a Gazeta do Povo
14/03/2019 09:46
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A possibilidade de acontecer algum inconveniente existe, mas não deve assustar quem quer começar uma nova atividade física. Bigstock

Uma sequência de postagens do usuário @vinimzo agitou o Twitter recentemente. Ele conta como “perdeu aos poucos todo o controle da sua vida” depois de iniciar um novo hábito: a corrida. Sua thread teve mais de 35 mil interações na rede social.

“Tudo começou quando um dia decidi sair para correr”, conta no primeiro tweet. Ele escolheu o exercício porque queria ouvir música, ficar sozinho, pensar e relaxar – e sabia que podia fazê-lo sem nenhum custo. O que ele não imaginava é que a simples corrida se tornaria uma grande maratona com obstáculos, no sentido figurado.

O primeiro inconveniente surgiu quando Vini, como se identifica no Twitter para não usar o verdadeiro nome, começou a sentir um leve incômodo na perna esquerda. Isso o levou a procurar dois especialistas. Foi aí que o recém entusiasta percebeu que o novo hábito não seria tão simples: passou do consultório dos ortopedistas para a academia, por indicação médica.
“Ele [o especialista] me disse ‘olha, caminhar de 8 a 11 km por dia é puxado. Sua perna é fraca e você pode ter uma fratura por estresse. Você precisa ir pra academia fazer um trabalho de fortalecimento’. Eu só queria correr na rua ouvindo meus podcasts de videogames e de repente, academia”, contou, surpreso, em um dos tweets.
Passou da academia para o clínico geral, que o levou ao endócrino e chegou até uma nutricionista. Durante a jornada, Vini comprou um par de tênis de R$ 799, realizou um check up médico – que incluiu, a contragosto, uma colonoscopia -, e teve que mudar seus hábitos alimentares. Por fim, estava comendo crepioca, semente de abóboras, castanhas e linhaça, além de tomar o suplemento Whey Protein – antes abominado por ele.
“Eu sempre fui o cara que se orgulha de fazer a massa do zero, o molho de tomate do zero… eu tenho alma de italiano! A pizza, o crostini, a batata assada. Sou moderado no apetite, mas não deixo passar nada. Coxinha, Coca Cola… isso é vida”, relembrou.
Depois de todos os procedimentos, o endócrino indicou que Vini diminuísse a intensidade do exercício. “Mas a essa altura da vida, eu estou numas de ouvir o especialista sabe? Vai que ele tem razão. Mas aí veio o pior. Ele:  ‘Vinicius, você vai ter que parar de correr 10 km por dia. Pra ganhar massa você deve correr no máximo 5 km e somente 2 vezes por semana’. O que? Como assim?”, comentou.

O que tornou a história divertida para muitos, e surpreendente para Vini, foi um hábito simples e gratuito ter se tornado tão caro e engenhoso. Além do lado cômico, ela suscitou um questionamento: o que é realmente necessário para começar a correr?

Muita calma nessa hora!

Segundo Marcelo Leitão, médico especialista em Medicina do Exercício e do Esporte e Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, nem toda corrida precisa se transformar em algo cheio de acessórios e assistido por profissionais. A possibilidade de acontecer algum inconveniente existe, mas não deve assustar quem quer começar uma nova atividade física.

“Acredito que se alguém me mostrasse a lista de exames e procedimentos antes de eu começar a correr eu sequer teria começado”, conta Vini em entrevista ao Viver Bem.

Apesar dos gastos e surpresas, ele mantém o hábito. A diferença é que diminuiu o ritmo e hoje corre 8 km duas vezes por semana. Vini falou com a reportagem, mas preferiu não dar seu nome verdadeiro porque disse que já teve muitos problemas por conta da viralização do thread.

Como evitar erros

O médico reforça que, diante do problema do sedentarismo no mundo, qualquer atividade física que combate esse comportamento é bem-vinda. “A minha dica é: quer fazer uma atividade de mais alta intensidade [como a corrida], faça. No caso do personagem Vini, ele tinha uma condição que o levou a ter a dor e ele fez o correto, procurou o médico quando sentiu desconforto, mas isso não deve intimidar quem está começando um novo exercício”, indica o especialista.

Mas existem alguns cuidados. Eles variam de acordo com vários fatores, como a idade, a intensidade do exercício e a existência ou não de alguma condição de saúde prévia. Se tiver mais de 35 anos para homens e de 40 para mulheres ou algum problema de saúde anterior, é indicado procurar um médico antes de iniciar a nova rotina.

“É importante procurar um especialista em Medicina do Exercício e do Esporte, pois eles estão mais habilitados para dar esse tipo de informação. Os médicos gerais não têm esse conhecimento específico”, indica Marcelo.
Se a pessoa está totalmente sedentária, é melhor começar caminhando e aumentar gradativamente a intensidade, caso esteja se sentindo bem durante o processo. Já o restante que não se enquadra nesse quadro, pode fazer o exercício normalmente. Isso vale para as situações em que a pessoa não está com a intenção de melhorar sua performance para se tornar um atleta.
O lema, em todos os casos, é respeitar os sinais que o corpo dá. “Ele [o corpo] nos dá todas as informações que precisamos. Se tiver alguma dor recorrente, não é normal do exercício e precisa ser investigada. Se tiver alguma pressão, aperto no peito ou algum sintoma relacionado ao esforço físico é preciso procurar um médico para investigar”, alerta o especialista.
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