Saúde e Bem-Estar

Michele Bravos, especial para a Gazeta do Povo - micheleb@gazetadopovo.com.br

Equilibrando as emoções

Michele Bravos, especial para a Gazeta do Povo - micheleb@gazetadopovo.com.br
10/10/2010 03:16
Vivências emocionais não são os únicos fatores que podem provocar uma doença física, mas elas colaboram. Todos os sentimentos reprimidos ou manifestados de forma negativa são projetados na mente e também no corpo. Sendo assim, alguns órgãos entram na mira das explosões emocionais.
A terapia reichiana, linha teórica da psicoterapia, considera corpo e mente elementos inseparáveis. As emoções vividas ao longo da vida não são apenas armazenadas na psique, mas transferidas para o físico. A tensão gerada sobre o corpo enrijece a musculatura, criando o que os reichianos chamam de couraça.
Essa proteção sólida e resistente impede a manifestação de sentimentos, o que dificulta o encontro da estabilidade energética do ser humano – o equilíbrio entre o emocional e o físico. Alguns especialistas creem que as mulheres, por expressarem mais facilmente o que sentem, são as que melhor lidam com as situações emocionalmente carregadas. A maioria delas chora, grita, briga, sem reprimir as reações.
As manifestações corporais provocadas por
abalos emocionais podem ser várias: refriados, aparecimento de herpes, alergias de modo geral e até tumores. Mas também há pessoas que criam bloqueios bem menos comuns, como a perda da voz e a chamada cegueira histérica. José Henrique Volpi, psicoterapeuta do Centro Reichiano, comenta que nos casos de perda de visão, mesmo por pouco tempo, o medo de vivenciar de novo a cena traumática é tão grande que a pessoa converte o temor em escuridão.
Vitiligo
O operador de máquina Márcio Godoy, 29 anos, descobriu, aos 10, que tinha vitiligo, doença em que ocorre uma despigmentação da pele. Desde então, precisou aprender a lidar com situações desconfortáveis. Os frequentes bombardeios de raiva, estresse e pressão no antigo trabalho fizeram com que sua doença, que esteve controlada por um tempo, se espalhasse por 90% do seu corpo. “Com certeza tem tudo a ver com o emocional. Quando eu era criança e me tratavam mal por causa do vitiligo, eu também percebia que a doença se manifestava mais”, conta. Na infância, foi preciso procurar um psicoterapeuta que o ajudasse a enfrentar esses sentimentos para manter a doença sob controle. Já adulto, a postura assumida foi pedir demissão do emprego para buscar uma vida melhor. “Depois que eu sai da empresa e retomei o tratamento, a doença já diminuiu bastante”, afirma Godoy.
Uma gastrite, uma alergia, uma rotineira
dor de cabeça ou uma doença crônica podem ser apenas a ponta de um iceberg. O psicoterapeuta José Hen­­rique Volpi explica: “De acordo com o caráter, percebemos a facilidade ou não com que o paciente lida com certas situações. A partir daí tentamos auxiliar o indivíduo em um processo de autoconscientização, até que ele aprenda a encontrar um equilíbrio”.
Sentindo na pele
Algo fugiu do controle no trabalho, a raiva tomou conta e logo veio aquela coceira no braço. Segundo Caio Castro, dermatologista da Santa Casa, uma crise de urticária é comum como manifestação física de um rompante emocional. Sintomas de alergia respiratória também podem se manifestar quando o estresse é muito grande.
Doenças crônicas, como vitiligo e psoríase, podem permanecer estáveis por um longo tempo, mas de repente voltam a incomodar. O fator desencadeador pode ser um desequilíbrio emocional que atinge o sistema imune e, assim, desperta a doença. O dermatologista afirma que para o processo de cura ser eficaz é preciso descobrir o que provoca a disfunção emocional. Buscar melhorar isso paralelamente ao tratamento alopático é o ideal.
Câncer: parte da culpa é da emoção
A origem do câncer é multifatorial. Parte dela tem a ver com a forma como recebemos e lidamos com fatores externos. A outra é de responsabilidade de questões hereditárias e genômicas. “A parte emocional pode ter, sim, relação com o desenvolvimento de um câncer, mas nunca de forma isolada”, diz o oncologista Maikol Kurahashi, da Santa Casa.
O médico compara a emoção com o cigarro,
lembrando que convencionou-se dizer que o tabagismo é o causador de câncer de pulmão. No entanto, o fumo é um grande fator de risco e não o culpado soberano. Uma vida desregrada – sem exercícios e cuidados alimentares, sob estresse diário vinculados à propensão genética e ao cigarro – provavelmente renderá um quadro de câncer.
Apesar de não haver comprovação científica sobre a relação entre emoção e câncer, Kurahashi afirma que em um casal, quando um dos parceiros desenvolve a doença, há chance do outro também desenvolver. Essa conexão seria mais perceptível quando o homem é quem adoece. “A mulher coloca sobre si uma pressão muito grande de cuidado, de família. Ela acompanha o marido em tudo. Vai até o fim ao lado dele. Acho que por isso ela se torna mais suscetível a adquirir uma doença”, diz o oncologista.
Ao mesmo tempo, as mulheres são as que respondem melhor aos procedimentos necessários. “Elas sofrem mais, mas também exteriorizam mais. Quando falamos de câncer, expor as emoções facilita o tratamento.”
Frágil coração
O coração, na imagem dos poetas, sente.
Mas o órgão, restrito a músculo, artérias e veias, sofre. Cultivar e remoer mágoas libera substâncias químicas no organismo que podem levar a um problema cardíaco. Segundo o cardiologista do Hospital Vitória (antigo Milton Muricy), Sanderson Cauduro, o estresse constante aumenta a pressão arterial, podendo desencadear uma arritmia. “Quando as emoções afetam a rotina de uma pessoa, isso passa a ser um fator de estresse. Tal fato pode influenciar em uma doença cardíaca”, diz.
Doenças do coração são mais comuns em adultos e idosos, mas o cardiologista afirma que jovens também vêm desenvolvendo quadros de alerta em consequência da pressão diária. “Os mais novos também sofrem com o estresse. Eles não dormem bem, sentem desconforto no peito e dores”, diz. Cauduro destaca os fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas: diabetes, hipertensão, histórico familiar, idade avançada, obesidade, sedentarismo, estresse e tabagismo. Cada um deles influencia o outro.
Serviço:
Hospital Vitória (antigo Hospital Milton Muricy), Av. das Indústrias, 1.974, Cidade Industrial, fone (41) 3028-2627 e site www.hvitoria.com.br
Interatividade
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